São João Batista, 150 anos de vida e histórias
O local recebeu ao longo da sua existência várias personalidades que fizeram a nossa história e pessoas anônimas

O cinza, o branco e o verde colorem os estreitos corredores desalinhados do cemitério. Sobre os túmulos, construíram-se altares, monumentos de concreto, que, quando lapidados, se tornam grandes estátuas de mulheres, santos, ou mesmo de Jesus Cristo crucificado. Este é o cenário de um dos mais antigos espaços preservados de Fortaleza, datado em 5 de abril de 1866, o Cemitério São João Batista, completou na última terça-feira (5), 150 anos de história.
Barão de Aratanha, Rodolfo Teófilo, Virgílio Távora, General Sampaio, Barão de Camocim e a família Boris são apenas alguns dos nomes de grandes personalidades cearenses que estão gravados nas placas de mármore e bronze dos seus jazigos. Cheio de curiosidades, símbolos e histórias, corre pelo Cemitério São João Batista um vento constante carregando o silêncio tão escasso em uma grande metrópole.
"Aqui é uma paz muito grande. A morte é uma coisa que todos nós teremos. Eu adoro os meus mortos (que estão no cemitério). Eles não fazem mal a ninguém, não ofendem ninguém. Por isso eu adoro", conta humorada a funcionária mais antiga do Cemitério São João Batista, Célia de Sousa, que há 40 anos tem a função de zeladora do local. Com um receptivo "bom dia, meu amor", a senhora de estatura pequena e cabelos brancos cumprimenta os que cruzam o seu caminho, como as três irmãs Aurelice, Aurenice e Audeniza que estão todas as manhãs de sábado no local, visitando os pais que já faleceram.
"Vir toda semana para cá é uma forma de estar com eles, não é porque eles morreram que o amor acabou", explica Aurelice Oliveira. Não há chuva que faça as três irmãs deixarem de ir ao local, como em um ritual, elas levam a garrafa de café e se sentam no entorno dos túmulos, conversando e rindo em família. O ambiente também é considerado agradável para o coveiro José da Silva, ou Dedé, como é mais conhecido pelos amigos.
"Eu não tenho medo de gente morta não, o que faz medo é os que estão vivos. Eu me sinto em paz aqui. Já cheguei a sair da minha casa de noite para vir pra cá, coisa de doido, não é. Mas aqui não tem barulho, é bom demais", conta Dedé, que trabalha a 25 anos na função. A relação com a morte é algo que faz parte da sua realidade, falando naturalmente sobre isso, "Eu já tenho o meu cantinho aqui, comprei um terreno e fiz quatro gavetas", conta satisfeito o coveiro.