Profissionais denunciam falta de material no IJF

Santa Casa estaria fornecendo à unidade linha para suturas; superintendente nega as acusações

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Redação producaodiario@svm.com.br
Legenda: Pacientes são atendidos no corredor; para superintendente, há entre 40 e 60 pessoas nesta situação

Maior hospital da rede municipal de saúde, o Instituto Doutor José Frota (IJF), tem, hoje, 461 leitos. A unidade, referência no atendimento de trauma, no entanto, mais uma vez sofre com a superlotação. O Diário do Nordeste teve acesso a uma foto tirada, ontem, no interior da unidade, que revela pacientes à espera de atendimento nos corredores. Além disso, quem trabalha ou já precisou dos serviços no local reclama da falta de materiais e medicamentos.

As deficiências, segundo alerta um dos profissionais de saúde do hospital que preferiu não se identificar, atingem até mesmo setores de referência, como o Centro Cirúrgico. Conforme diz, há cerca de 30 dias, falta a linha utilizada nas cirurgias para sutura dos cortes, e a Santa Casa de Misericórdia é que estaria fornecendo o material.

A falta da linha, segundo o profissional, influi no tratamento e recuperação do paciente, uma vez que ficar à espera de sutura com partes internas expostas compromete a operação realizada e gera risco de infecções. "Há cerca de um mês, o hospital vem sendo avisado da situação e tomando medidas emergenciais, que não resolvem a questão", destaca.

O profissional relata, ainda, o quadro insuficiente de médicos no hospital. "Para cada mil pacientes, há uns 10 médicos, enquanto deveria haver pelo menos 50", estima.

Equipe

A carência de pessoal é confirmada pelo Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos do Município de Fortaleza (Sindifort). Segundo a vice-presidente, Ana Miranda, muitos andam desmotivados e sofrendo até ameaças por parte de pacientes e acompanhantes, irritados por não conseguirem o atendimento desejado.

Além disso, ela aponta como frequentes os problemas de superlotação, falta de materiais e medicamentos na unidade. "O caos no IJF vem de longas datas. Temos constantemente reclamado isso à direção, mas até agora não nos foi apresentada uma solução", comenta.

Quem já precisou levar um parente ao IJF também relata a precariedade. Uma usuária que pediu para não ser identificada teve seu pai internado lá em fevereiro. Em menos de seis horas no local, diz ter percebido a insuficiência do serviço. "Não tinha remédio para dor, nem um balde para ele vomitar. É gente jogada para todo lado, desumano. Pagamos imposto, eles têm que resolver isso", lamenta.

De acordo com o superintendente do IJF, Walter Frota, não é verdadeira a informação de que falta linha de sutura, além de não ocorrer empréstimo de material da Santa Casa.

A respeito da lotação, ele esclarece que o IJF vem diminuindo o número de pacientes no corredor e, o que antes chegava a uma média de 160, atualmente está entre 40 e 60. "Todos os pacientes no corredor estão sendo assistidos, medicados e realizando exames. Temos utilizado a metodologia Kanban, na qual o tempo de cada um é administrado, ficando, em sua grande maioria, até 24 horas", explica.

Ainda de acordo com ele, existem domingos que dão entrada no hospital cerca de 109 acidentados de motos. Para isso, enfatiza Frota, existem os leitos de retaguarda nos hospitais de apoio. Sobre a segurança, o superintendente afirma haver a presença de policiais militares, guardas municipais e seguranças, e garante estarem completas as equipes de plantão.

Hospitais terão plano para a Copa

Planos hospitalares serão elaborados para determinar detalhes de funcionamento e ações das unidades de saúde durante a Copa do Mundo 2014, além do treinamento de profissionais para enfrentamento de riscos e preparação dos hospitais em todos os sentidos, sobretudo nas áreas de urgência e emergência. Esses são os objetivos do workshop para capacitação de 20 hospitais públicos e particulares do Ceará, dentre Instituto Doutor José Frota (IJF), Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Gonzaga Mota José Walter (Gonzaguinha do José Walter), Albert Sabin e outros, e 95 profissionais.

O curso, que começou na última terça-feira e terminará amanhã, é realizado pelo Ministério da Saúde, por meio da Coordenação Geral da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), em parceria com o governo alemão, país que sediou a Copa de 2006. A agência de cooperação GIZ é responsável pela execução do programa no Brasil, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês.

A proposta é subsidiar estratégias e ferramentas de gestão para fortalecer unidades referenciadas de alta complexidade na organização dos seus planos hospitalares. O curso compreende um módulo teórico, com conteúdos necessários para a preparação das unidades de saúde e um módulo simulado no IJF.

Contingenciamento

Os planos englobam o ajuste dos hospitais no sentido de contingenciamento. Ou seja, treinamento de profissionais para lidar com situações inusitadas, como incêndios, alagamentos e outras catástrofes.

Todas as unidades da rede de urgência do Ceará foram selecionadas para o treinamento. Do IJF, 20 profissionais comporão o gabinete de crise da Copa.

Para os casos mais emergenciais, como informa o superintendente do Núcleo de Urgência e Emergência da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), Alex Mont'Alverne, haverá a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) com atuação rápida durante os jogos, além dos postos médicos avançados. Os hospitais contarão com listas de profissionais treinados.

Quanto às unidades de saúde que já passam por problemas de superlotação, por exemplo, o workshop servirá também para discutir medidas a fim de solucionar impasses. É o caso do IJF.

Estrutura

Já a estrutura de hospitais como os Gonzaguinhas e Frotinhas ainda não atende a um possível aumento de demanda, até pela situação em que se encontram em virtude das chuvas dos últimos dias na Capital. No entanto, conforme a secretária municipal de Saúde, Socorro Martins, serão feitos reparos nesses hospitais.

Existem também projetos a médio e longo prazo de grandes reformas para as unidades. Contudo, demandam mais tempo. Socorro justifica que os Gonzaguinhas e Frotinhas possuem estrutura antiga. "Precisamos rever e avaliar os espaços. Alguns ficarão prontos para a Copa".

Renato Bezerra/Lina Moscoso
Repórteres

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