Na educação, demanda para Sarto é ter ensino de qualidade na pandemia e aumento de vagas em creches
O SVM ouviu especialistas e integrante da comunidade escolar da rede pública para saber as necessidades mais urgentes a serem avaliadas pelo novo prefeito na educação em Fortaleza
“Tirei meus filhos da (escola) particular porque fiquei viúva e não pude mais pagar. Coloquei na (escola) pública. Antes de acontecer essa pandemia, era muito bom. A diferença no ensino era pouca, mas na pandemia tudo ficou complicado”. Na casa de Andrea de Andrade, moradora do Genibaú, periferia de Fortaleza, há 2 dos cerca de 231 mil alunos da rede pública municipal de Fortaleza, em 2020. Um adolescente no 9º ano do ensino fundamental e uma criança no 4º ano. Em 2021, o estudante de 14 anos deixará a rede municipal. A criança, de 10 anos, continuará. A expectativa deles, e de tantos outros, é que em 2021 o processo de aprendizagem tenha menos obstáculos.
Na pandemia, os desafios têm sido inúmeros para os estudantes de duas escolas distintas. “Eu não tenho muita paciência. Não tenho tempo. Aí eles não têm aula virtual. A escola dela fez um grupo e coloca as tarefas para os pais ensinarem. Faço a foto e coloco no grupo”, explica Andrea. No caso do filho, ele não estava conseguindo acompanhar as atividades virtuais e passou a ir buscar e deixar o material impresso na escola.
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O impacto da pandemia na educação é um dos maiores dilemas a ser enfrentado, em curto prazo, pela nova gestão na rede pública que conta com 582 unidades, entre escolas, Centros de Educação Infantil e creches parceiras. A necessidade de adaptação levou à Prefeitura a licitar chips de internet. A empresa contratada deverá fornecer 242 mil chips, sendo 230 mil para alunos e 12 mil para os professores.
Retorno às aulas deve ser seguro e acolhedor
Para a integrante da coordenação colegiada do Cedeca Ceará e membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Marina Araújo, “o poder público deve priorizar a garantia das condições sanitárias e de infraestrutura das escolas públicas, para o retorno seguro e responsável das aulas presenciais em 2021”. Uma das necessidade, portanto, ressalta ela, é orçamento público investido. “
"É necessário que as redes públicas de ensino consigam reduzir as desigualdades no processo de ensino e aprendizagem decorridas das dificuldades e do não acesso às atividades escolares remotas. E se comprometer com o investimento em ações estratégicas de busca ativa dos/as estudantes que se evadiram, em articulação com a rede de proteção”.
O docente da Faculdade de Educação (Faced/UFC) e pesquisador do Laboratório de Estudos do Trabalho e Qualificação Profissional (Labor/UFC), Jackson Braga, reitera que, de imediato, é preciso “priorizar a melhoria das condições do ensino remoto para o Ensino Fundamental preenchendo lacunas como a falta de condições de igualdade de acesso, de equipamentos e investir no aumento de professores para acompanhamento mais próximo e diário daqueles propensos à evasão ou abandono definitivo”.
Além disso, explica, “como uma quantidade muito significativa de famílias também estão socialmente vulneráveis sem perspectiva de trabalho e renda é preciso que o novo prefeito coloque várias secretarias para trabalhar em conjunto a fim de convergir esforços e levar o maior número de benefícios à família do aluno”. Dentre eles: alimentação, serviços de saúde, informação e apoio técnico ou tecnológico, como internet.
Vagas para crianças é necessidade histórica
Para além da atual circunstância, devido à crise sanitária, Fortaleza, assim como outros centros urbanos, tem grandes gargalos no acesso à educação infantil. Marina Araújo aponta que, “segundo a Pnad Contínua Educação do IBGE, de 2019, em Fortaleza, temos uma população de 124 mil crianças entre 0 e 3 anos, da qual 67% estão fora da creche”. O professor da Faced, Jackson Braga, o “maior dilema é reverter, na atual situação de pandemia, a histórica omissão governamental de garantir o direito à educação infantil”.
De acordo com ele, é preciso a nova gestão atuar em duas frentes inseparáveis: “assegurar a efetiva educação infantil gratuita e de qualidade, com acesso e condições de permanência e, também, a assistência social com alimentação e segurança para que os pais ou responsáveis possam trabalhar, tal como prevê a Constituição de 1988. E o mais importante, em Tempo Integral”.
O professor ressalta que “esse desafio não é novo” e “diminuir aluguéis e concessões para organizações privadas, ter infraestrutura própria e concurso para professores efetivos são medidas inadiáveis para garantir a qualidade da educação infantil na cidade”.