Ministério da Saúde reconhece déficit e calcula que Ceará precisa de mais 1,9 mi de doses de vacinas

A pasta federal informou que já efetuou mudanças na metodologia de distribuição de vacinas e que até setembro a situação seria regularizada

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
Vacina contra a Covid-19 sendo preparada para aplicação
Legenda: MPs e o Governo do Ceará ajuizarem, no último dia 4 de agosto, uma ação civil pública contra a União sobre a distribuição desproporcional de doses
Foto: Angela Weiss/AFP

Em reunião para tratar sobre a distribuição desproporcional de vacinas contra a Covid-19 para as regiões Norte e Nordeste, o Ministério da Saúde (MS) reconheceu que o Ceará tem um déficit de 1,9 milhão de doses a serem recebidas. Quantitativo seria suficiente para terminar a imunização da população adulta. 

Audiência foi realizada nesta segunda-feira (16) com representantes do MS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e dos Ministérios Públicos do Estado (MPCE), Federal (MPF) e do Trabalho (MPT). 

Veja também

De acordo com o promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional da Saúde (Caosaúde) do MPCE, Eneas Romero, o cálculo de imunizantes ainda vai ser detalhado, mas o Ministério afirmou que a situação da distribuição defasada deve ser resolvida até "meados de setembro".

O MPCE entrou com uma contraproposta para que o prazo seja encurtado. Conforme o promotor informou ao Diário do Nordeste nesta segunda, o MS ficou de enviar uma resposta definitiva até esta terça-feira (17). 

O caso foi à Justiça após os MPs e o Governo do Ceará ajuizarem, no último dia 4 de agosto, uma ação civil pública contra a União. Eles cobram 1,4 milhão de vacinas solicitadas ainda em abril deste ano. Na época, o quantitativo enviado era inferior ao necessário para imunizar idosos, pessoas com deficiência e profissionais de saúde.

Mudanças na distribuição 

Eneas Romero pontuou que o MS também reconheceu o déficit de vacinas em outros estados do Norte e Nordeste. "O Ministério reconheceu a necessidade de novos critérios de distribuição, com uma nova metodologia, que já começou a ser implantada em partes. Isso mostra que alguns estados necessitam de uma quantidade maior de vacinas", comenta. 

Foi identificado que os estados do Norte e Nordeste receberam menos doses do que os das regiões Sul e Sudeste do Brasil, considerando a população total de cada. 

Vacinas atrasadas

No começo de agosto, a Justiça havia dado um prazo de cinco dias para o Ministério da Saúde responder aos questionamentos sobre as discrepâncias no envio de imunizantes.

No dia 11, a pasta afirmou, em nota técnica, que a metodologia anterior considerava os grupos prioritários. A situação, segundo o órgão agora vai mudar. 

"A fim de se equalizar essas disparidades, a distribuição, num primeiro momento seguirá a proporcionalidade de doses enviadas, tendo como numerador o total da população que ainda falta ser vacinada com a primeira dose (D1) na UF com idade igual ou maior que 18 anos e como denominador o total da população que ainda falta ser vacinada com a primeira dose no Brasil com idade igual ou maior que 18 anos", diz o documento.

"O percentual resultante será utilizado para determinar o número de doses (D1) que serão enviadas para a UF, de acordo com o total de imunizantes disponíveis. O objetivo é que as UF alcancem a idade de 18 anos no mesmo momento", completa a nota.

Na semana passada, o promotor de Justiça Eneas Romero enfatizou ao Diário do Nordeste que a justificativa de que a "distribuição não seria equitativa por conta dos grupos prioritários não se confirma". 

"Existe um déficit de 1,4 milhão de doses para essa população desde o início da vacinação e, até o momento, não foi compensado. Pelo contrário: o Ministério da Saúde continua distribuindo mais vacinas para quem recebe mais", avalia. 

Discrepâncias em relação ao Sul e Sudeste

Diário do Nordeste teve acesso a documento enviado pela Sesa ao MPCE indicando a discrepância de vacinas enviadas para os estados. Conforme levantamento feito pela pasta, alguns receberam doses relativas a 98,12% da população geral, como é o caso de São Paulo.

A análise considera dados do Ministério da Saúde e coletados até 30 de julho. A conta foi baseada considerando o total de doses distribuídas. Veja tabela:

Print do rankin
Legenda: Veja os estados que mais receberam doses proporcionais à sua população
Foto: Reprodução

Quando analisada a região Nordeste, todos recebem menor quantitativo proporcional. A situação é ainda mais desigual no Ceará: no período, foram 6.542.868 doses de diferentes vacinas, o que corresponde a 71,22% dos cearenses. Veja a situação do Nordeste:

Print do ranking
Legenda: Veja como ficou a distribuição entre os estados nordestinos
Foto: Reprodução

"Tomando como base uma média relativa à proporção da população, entre os estados que mais receberam vacinas, teríamos uma estimativa de 87,19%. Para alcançar esse percentual, seriam necessárias, aproximadamente, 1.467.138 doses a mais de vacina contra Covid-19", diz documento assinado pela secretária-executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida.

A Sesa disse que não iria se pronunciar publicamente sobre o caso. 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados