Média de vacinados contra Covid ao dia com 1ª dose no Ceará, em junho, é 4 vezes maior que janeiro
Se desde janeiro as entregas de vacinas fossem constantes e numerosas, e as aplicações semelhantes ao ritmo atual, o Ceará teria 4,1 milhões de vacinados com uma dose
A vacinação contra a Covid-19 é uma das mais complexas na história do Brasil. Mas, no Ceará, a equação, de certo modo, tem sido simples: quando há doses disponíveis, as cidades, em geral, aplicam-nas rapidamente e o processo acelera. Já são quase 150 dias de campanha e, apesar das dificuldades com a falta de imunizantes, a média diária de vacinados, com a 1º dose no Estado, em junho, é de 28 mil pessoas. O número é 4 vezes maior que o registrado em janeiro.
No primeiro mês da campanha, o total de doses entregues pelo Governo Federal ao Ceará também foi 35% menor do que os contabilizados nos primeiros 15 dias deste mês.
A evidência permite fazer ainda outra conta. Em abril, maio e junho, em um processo de entrega mais constante e numeroso que em meses como janeiro e fevereiro, por exemplo, o Ceará avançou no ritmo de imunização.
Caso a média de 28 mil aplicações de 1ª dose por dia tivesse sido garantida desde o princípio, nesses 148 dias de campanha, o Estado poderia ter 4,1 milhões de pessoas parcialmente imunizadas.
Com distintas médias de aplicação diária a cada mês, o Ceará tem hoje ao menos 2,1 milhões de pessoas imunizadas com a primeira dose.
A disponibilidade de vacinas ocorre a conta-gotas. Mas tem crescido mês a mês. Levantamento feito pelo Diário do Nordeste com base nos dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) indica que em maio - mês no qual, até o momento, o Ceará recebeu o maior estoque de vacinas - , 1,3 milhão de doses foram entregues.
O número é quase 4 vezes o recebido em janeiro, quando 334 mil doses chegaram ao Estado.
Em junho, o Ceará recebeu 8 lotes de vacinas, com 516 mil doses, incluindo os três imunizantes: Coronavac, Astrazeneca e Pfizer. Com predominância para a Astrazeneca que representa 76% das entregas neste mês.
Até agora, abril foi o mês em que mais vacinas foram aplicadas no Estado. Naquele período, 988 mil pessoas receberam doses dos imunizantes. A média, por dia, foi de 32 mil imunizações. Isso porque houve uma grande aplicação de doses 2. Por exemplo, dessa média, metade foram de segunda dose.
Isso pode ser reflexo tanto do aumento das doses de Coronavac, distribuídas em março, que demandaram um elevado volume da segunda aplicação em abril (intervalo de 28 dias), como da necessidade de completude do ciclo das doses de Astrazeneca, aplicadas no começo da campanha (intervalo de até 3 meses)
Aplicação da 2ª dose
Além da quantidade de vacinas disponíveis, outro fator que pode interferir no cálculo do total utilizado é justamente a aplicação das segundas doses.
Como os imunizantes da Pfizer e Astrazeneca têm o intervalo entre uma dose e outra maior que o da Coronavac, quando há predominância de aplicação dos dois primeiros, esse incremento não é sentido mês a mês, mas sim, três meses depois, quando o ritmo de doses aplicadas consequentemente tende a aumentar.
Em agosto, por exemplo, pode haver elevação desse número, já que em maio, a cada 10 vacinas recebidas no Estado, 8 foram aquelas cujo intervalo para a segunda dose é de até 3 meses. No início da vacinação, a Astrazeneca representava 21% das doses e a Coronavac predominava. Em junho, do total recebido, a Coronavac não chega a 1%.
A fila tem andando no Ceará e até o dia 13 de junho, 1 milhão de pessoas receberam as duas doses. Contudo, isso representa somente 11,8% da população moradora do Estado.
Nessa campanha, o Ceará optou por fazer um cadastro próprio para garantir o controle da imunização, mas mesmo que todas as pessoas ainda não estejam cadastradas, a fila tem avançado.
Busca ativa da população
Para o imunologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, a condição ideal que é se faça uma busca ativa das pessoas que não conseguiram se vacinar. “É preciso que, através dos dados de mapeamento que as equipes de Saúde da Família têm, buscar essas pessoas, nem que seja para vaciná-las em casa”.
Contudo, devido à gravidade da pandemia de Covid, é preciso seguir o mais rápido possível, ele acrescenta.
Não podemos ficar esperando, essa coisa tem que acontecer ao mesmo tempo. Não é para deixar lacuna e depois voltar. E sim, já está buscando essas pessoas para que se vacine o mais rapidamente”.
O imunologista destaca ainda que as estratégias de vacinação só podem ser efetivamente bem executadas “se tivermos um volume de vacinas suficiente”. Segundo ele, "o que temos observado é um 'pinga-pinga' de vacinas. Uma promessa que sempre diminui o número e asim fica difícil”, completa. Caso tivéssemos mais imunizantes à disposição, a velocidade da aplicação poderia crescer, segundo ele, com o aumento dos pontos de vacinação para mais drive-thrus e grandes ambientes abertos.