Maré alta, ventos e corrente de retorno: saiba o que favorece afogamentos no litoral de Fortaleza

Ingestão de bebida alcoólica e descuidos com crianças estão entre os fatores de risco no banho de mar, alertam especialistas

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Corrente de retorno é fenômeno em que água parece estar tranquila, mas exerce força no sentido do mar.
Foto: Fabiane de Paula

Manter a diversão nas visitas às praias de Fortaleza exige cuidados com altura da maré, ventos fortes, bancos de areia e correntes de retorno - fenômeno em que a força da água é apenas no sentido oposto à areia - para evitar acidentes. O alerta de especialistas aos banhistas também diz respeito aos comportamentos de risco, como uso de bebidas alcoólicas, falta de supervisão das crianças e avanço no mar.

Quem não está habituado aos trechos do litoral de Fortaleza deve ter mais atenção, como frisa Fábio Perdigão Vasconcelos, professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), especializado em oceanografia ambiental e costeira.

“As ondas batem de uma forma direta, sem diminuição da sua energia, e isso faz com que tenha uma movimentação de areia formando bancos e cavas. Os turistas, principalmente, que não conhecem essas características enfrentam situação de maré alta, ventos fortes, e isso leva a muitos acidentes e afogamentos”.

Sobre as interferências de obras em trechos de praia da cidade, o especialista afirma não ter relação com as condições para afogamento. “O aterro da Praia de Iracema já existe há vinte anos e foi apenas recomposto, está entre dois espigões, então não há possibilidade de aumentar a energia e as ondas do outro lado”, exemplifica.

Legenda: Bombeiros atuam com mais intensidade durante alta estação em Fortaleza.
Foto: Kid Júnior

Com a aproximação do período de férias, as equipes do Corpo de Bombeiros realizam estratégias para dar maior suporte na faixa do mar, como destaca o Comandante da 2ª Companhia de Salvamento Marítimo, Tenente Vasques. “Geralmente na alta estação há um aumento de banhistas, aumento da proporção do público nas praias e, proporcionalmente, das ocorrências. Nos meses de alta estação nós trabalhamos com efetivo maior nas praias”

Entre os fatores que ocasionam os afogamentos, o Tenente Vasques observa com maior frequência o uso de bebidas alcoólicas, a falta de supervisão das crianças e a ingestão de alimentos pouco tempo antes da entrada no mar. “Quando o álcool está fazendo efeito, a pessoa entra no mar, em lagoa ou açude, e não tem o mesmo reflexo, a sua percepção de risco fica abalada e acaba sofrendo afogamento”, acrescenta.

Casos recorrentes

As Praias do Futuro e de Iracema registraram pelo menos cinco afogamentos, com uma morte entre os acidentes, durante esta semana e especialistas alertam para aumento de casos durante alta estação.

Na última segunda-feira (30), uma turista de Brasília perdeu a vida ao tomar banho na Praia de Iracema, em Fortaleza. A idosa foi socorrida, mas não sobreviveu ao afogamento.

Na manhã da quarta-feira (2), uma equipe de guarda-vidas resgatou mãe e filha que estavam se afogando na mesma praia onde a turista faleceu. A idosa, de 65 anos, e a jovem, de 29 anos, foram socorridas e o episódio foi registrado em vídeo.

No sábado (5), o Corpo de Bombeiros realizou um resgate na Praia do Futuro e outro na  Leste Oeste, com o apoio de aeronave da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer). O primeiro caso foi observado durante o patrulhamento aéreo feito pela equipe e o segundo registro foi feito como suporte ao trabalho de guarda-vidas do Corpo de Bombeiros no mar. 

O que fazer ao presenciar um afogamento?

O Comandante da Companhia de Salvamento Marítimo, Tenente Vasques, explica que o recomendado ao notar um afogamento é acionar os bombeiros, ligar para o 193 ou, no máximo, lançar um objeto que auxilie o banhista a se manter na superfície, como isopor ou materiais plásticos. “A gente de forma alguma incentiva para que a população entre para fazer a abordagem porque muito provavelmente quem entra pode se tornar vítima de afogamento”, frisa.

Uma lista com as principais orientações foi disponibilizada ao Diário do Nordeste pelo Comandante de Salvamento:

  • Buscar locais com posto de guarda-vidas, profissionais capacitados para identificação de riscos e salvamento em casos de afogamentos.
  • Redobrar os cuidados em trechos sem agentes de guarda-vidas, como permanecer em locais rasos, com água abaixo do umbigo.
  • Não ingerir bebida alcoólica caso queira entrar no mar.
  • As crianças devem estar a distância máxima de um braço de seus responsáveis ao brincar no mar.
  • Não entrar na água logo após alimentação para evitar congestão e diminuir chances de afogamento.

No mar, também é preciso evitar trechos onde a água parece ser mais calma, mas há força com sentido contrário ao da faixa de areia. “Tem um fenômeno chamado corrente de retorno que é quando dois conjuntos de ondas incidem na mesma direção e a água volta para o centro. O mar fica mais plano nessa região, as ondas diminuem, e essas correntes de retorno puxam os banhistas para áreas mais profundas e isso é muito comum na Praia do Futuro”, alerta Fábio Vasconcelos.