Idosos de 121 anos, crianças e adolescentes aparecem na lista de vacinados contra Covid no Ceará

Secretarias da Saúde do Estado e de Fortaleza justificam presenças como “erros de digitação”

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Vacinação Covid
Legenda: Lista de vacinados no Ceará tem inconsistências, como presença de crianças e adolescentes
Foto: Camila Lima

A falta de vacinas suficientes para proteger toda a população contra a Covid-19 torna necessário priorizar grupos como idosos e profissionais de risco. Na lista de vacinados do Ceará, porém, uma parcela fora das prioridades chama atenção: 143 crianças e adolescentes.

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Os dados são oficiais, do Ministério da Saúde (MS), atualizados até quarta-feira (14) e tabulados pelo Diário do Nordeste. Na lista, aparecem 1.157.970 registros, cada um correspondente a uma dose aplicada. Até as 17h de terça (13), porém, o Ceará já havia aplicado 1.450.672 doses, de acordo com a Secretaria da Saúde (Sesa).

No documento do MS, constam informações como data de nascimento, local de vacinação e grupo prioritário a que o paciente pertence.

143
pessoas de 0 a 17 anos aparecem como vacinadas, 75 delas em Fortaleza.

Entre os registros na Capital, 54 crianças e adolescentes são categorizados como profissionais da saúde, 21 como idosos e os demais em outras categorias. Vacinas contra a Covid não foram testadas em pessoas abaixo de 18 anos e, portanto, não podem ser aplicadas neste público.

Foram identificadas ainda outras inconsistências, como a presença de 309 idosos com 121 anos, todos com a mesma data de nascimento; além de quatro cearenses com 115, um com 117, dois com 119 e um com 124 anos de idade.

Em julho do ano passado, o Gerontology Research Group (Grupo de Pesquisa em Gerontologia, em tradução livre) reconheceu a cearense Francisca Celsa dos Santos, de 115 anos, como a pessoa mais velha do Brasil, terceira mais idosa do mundo. O recorde ainda não foi oficialmente superado.

“Erros de registro”

Magda Almeida, secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, aponta que “isso são, na verdade, erros de registro”. “Se você insere uma data errada na hora da vacinação, acontece esse erro. Geralmente, essas pessoas estão no grupo de profissionais da saúde”, pontua.

A secretária reforça que “num banco de dados tão grande, com milhões de registros, é normal que isso aconteça, mas é importante corrigir”. Para isso, ela indica a importância de que as equipes de aplicação sejam treinadas e de que “haja sempre auditoria nos bancos de dados”.

Questionado sobre a fiscalização de possíveis desvios de doses no Ceará, o Ministério Público Estadual (MPCE) informou apenas que “após ação e deferimento judicial, os dados dos vacinados em Fortaleza passaram a ser publicizados, e os de outros municípios também deverão ser, por meio do Saúde Digital”. 

O MPCE acrescentou que “a compilação dos dados e as informações são de responsabilidade das secretarias municipais e de quem os informou”.

O Diário do Nordeste solicitou posicionamento da Secretaria de Saúde de Fortaleza (SMS), e o órgão requisitou que fosse enviada pela reportagem uma lista detalhada de “quais inconsistências pontualmente e os locais onde foram identificadas”, para fins de apuração.

Na resposta em nota, porém, a pasta forneceu justificativas gerais, ao dizer que que “realiza auditorias nos casos de inconsistências cadastrais”, e que “incompatibilidade de informações, erros de digitação, números de lotes diferentes e pessoas homônimas são os casos mais comuns, sendo prontamente corrigidos e atualizados no banco de dados”.

A secretaria não respondeu se tem acompanhado e fiscalizado a aplicação dos imunizantes nos postos de vacinação da cidade, para evitar desvios de doses.

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