Exaustos na pandemia: o que fazer para aliviar o estresse e cuidar da saúde mental
Não é hora de relaxar também nos cuidados com a saúde da mente e das emoções. Psicólogas orientam sobre o que fazer para evitar o adoecimento psíquico.
Cansadas de sentir medo. Exaustas do novo normal. No último ano, a pandemia da Covid-19, com todas as mudanças e incertezas advindas deste cenário, tem repercutido severamente sobre a saúde mental das pessoas. O aumento de transtornos mentais e traumas provocados direta e indiretamente pela pandemia têm preocupado os profissionais da área.
"Estamos todos cansados e a volta de medidas mais restritivas impacta a saúde como um todo”, observa Juliana Lima, psicóloga clínica, doutoranda em Psicologia pela Universidade de Fortaleza. “Mesmo para aquelas pessoas que não apresentam sintomas de adoecimento mental, há o impacto social relacionado ao luto coletivo", avalia Idalice Barbosa, psicóloga clínica e doutora em Saúde Coletiva.
Nas atuais circunstâncias, em que há maior dificuldade em se organizar o futuro e o estresse se torna crônico, fica mais vulnerável quem se sente emocionalmente sozinho ou está com os vínculos enfraquecidos. “Pessoas que possuem um modo de ser mais controlador, rígido consigo e com o outro também tendem a sofrer mais nesse período pandêmico. Estamos sendo demandados a nos reinventar para conseguirmos lidar com a insegurança diária”, observa Juliana Lima.
Ajuda
“Neste momento, todos precisamos de ajuda, independente se demonstra ou não algum sinal de estresse e vulnerabilidade”, afirma Idalice Barbosa. Para a psicóloga, é importante contar com um suporte de fortalecimento emocional para atravessar este período e não esperar que o corpo dê sinais de alerta de que algo não está bem.
“É muito importante reconhecer que neste contexto precisar de ajuda profissional não significa sinal de fraqueza, debilidade, ou mesmo doença mental, como comumente pensamos. Muitas vezes, hesitamos em procurar um psicólogo, na crença que este serviço apenas está destinado a pessoas com transtornos mentais. Mais importante que esperar sinais de alerta ou se adaptar a um contexto tão nocivo, é procurar ajuda seja de profissionais da saúde, como os psicólogos, profissionais terapeutas holísticos e também ajuda no campo espiritual”, orienta.
Não é hora de relaxar
O cuidado com a saúde mental deve ser constante na rotina de cada pessoa. E isso começa com a observação de si mesmo, de como se está reagindo a tudo. “O primeiro sinal de alerta que indica que estamos precisando de ajuda é querer manter e cumprir uma agenda no mesmo ritmo e com as mesmas obrigações que tínhamos antes da pandemia”, observa Idalice Barbosa. “Reorganizar rotinas cuidando da saúde, revendo compromissos e obrigações, é um quesito fundamental para mantermos firmes e centrados na realidade“, acrescenta a profissional.
Estar atento ao cuidado das emoções é fundamental para a saúde como um todo. “Temos o potencial para produzir saúde em todas as esferas cotidianas”, afirma Juliana Lima. “No atual momento, cuidar da saúde psicológica é reconhecer nossos limites, cultivar boas relações, alimentar nossos projetos naquilo que agregue sentido e satisfação em nossas vidas. Viver o presente, reconhecendo que estamos caminhando naquilo que está sendo possível”, diz a psicóloga. Para a profissional, é vital criar e manter relações de cuidado como meio de fortalecimento dos afetos. “Evitar a sobrecarga de informações e o excesso de autocobrança também é um caminho importante”, finaliza.
Apoio aos pacientes
A psicóloga clínica e hospitalar Andreia Lima Girão, profissional da linha de frente no acompanhamento psicológico de pacientes com Covid-19, observa a influência do estado emocional na saúde como um todo e na recuperação da doença. “Já tive várias experiências durante esse período de pandemia que demonstram a melhoria do paciente em questão de pouco tempo, mas uma das que mais me marcaram foi quando a saturação de um homem estava caindo muito e quando eu ofereci o serviço das visitas virtuais, que são chamadas de videoconferência com os familiares, ao falar com a filha, em poucos minutos, a saturação dele subiu. Ele se tranquilizou e diminuiu muito a sua dificuldade de respirar”, relata. “O psicólogo, dentro do hospital atua para promover um momento de fala do paciente e, dessa forma, diminuir a ansiedade, os medos, amenizar a frustração com a quebra de rotina que a doença estabelece, o isolamento emocional que o paciente sofre e a possibilidade de estreitar os laços familiares diante da dor, mesmo que de que forma virtual”, explica Andreia Lima Girão.
Para a profissional, neste momento de pandemia, o principal cuidado com a saúde mental que se deve ter é buscar viver no presente, já que o foco no futuro e nas incertezas causam ansiedade. “Existem vários caminhos que nos ajudam permanecer no presente como, meditação, prática de exercícios físicos, clareza de um projeto de vida e cultivo da espiritualidade”, elenca. “Por fim , eu recomendo que utilize a notícia como uma forma de informação para se proteger e ser orientado diante da pandemia, mas que é necessário o cuidado com o exagero da informação, porque ele pode provocar pânico e ser gatilho de vários transtornos psicológicos futuros, como o transtorno do pânico e o transtorno de ansiedade generalizada”, finaliza.