Empresário e filhos são investigados por se vacinarem contra a Covid-19 como profissionais de saúde
CEO da Servnac, empresa cearense de serviços terceirizados, e os dois filhos foram vacinados mesmo sem pertencerem ao grupo prioritário, em maio deste ano
A Polícia Civil e o Ministério Público do Ceará (MPCE) investigam se o proprietário da empresa cearense Servnac, Vicente Araújo, de 53 anos, e os filhos dele, Allan Victor Bezerra, de 23 anos, e Vicente Araújo Neto, de 28 anos, receberam a vacina contra a Covid-19 como se fossem profissionais de saúde. Os três se imunizaram em Fortaleza, entre maio e julho últimos.
As informações foram divulgadas em reportagem do CETV 2ª edição, da TV Verdes Mares, e do G1 Ceará.
A empresa nega que eles tenham furado a fila.
O Diário do Nordeste consultou os dados dos três no sistema da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e confirmou que as aplicações ocorreram entre 12 maio e 23 julho deste ano.
Neste período, a imunização em Fortaleza estava concentrada em idosos e pessoas com comorbidades. Nenhum deles pertence a esses grupos prioritários. O Grupo Servnac possui um contrato ativo com a Prefeitura de Fortaleza prestação de mão de obra terceirizada.
Alguns dos trabalhadores da empresa trabalham na logística da imunização.
O que diz a empresa
No entanto, o Grupo Servnac informou que pai e filhos foram contemplados em uma nova categoria de grupo voltada para profissionais que prestam serviços para empresas ligadas ao setor da saúde
"A Servnac possui quase 45% do seu quadro de pessoal exercendo funções em unidades de saúde privada e pública, em funções operacionais e administrativas", informou.
A empresa presta serviços terceirizados de segurança, limpeza, manutenção e tecnologia. "Por esse motivo, houve a vacinação dos profissionais que se fizeram presentes nos locais sujeitos a grave perigo de contaminação pela Covid-19", afirmou.
Polícia e MP apuram
Além de inquérito policial na Delegacia de Combate à Corrupção (Decor), o caso é acompanhado pelo Centro de Apoio Operacional da Saúde Pública (Caosaúde) do MPCE.
"Esse é um caso em que as pessoas, aparentemente, não trabalham na assistência ao paciente ou em hospital. Em tese, não são profissionais de saúde. Isso é importante ser verificado”, apontou o promotor de Justiça e coordenador do Caosaúde, Enéas Romero, ao CETV.
Em nota, a SMS disse que "os possíveis casos de fura-filas na vacinação contra a Covid-19,em Fortaleza são investigados pela Polícia Civil e Ministério Público" e que "colabora integralmente com a investigação fornecendo os dados e informações necessárias".
Ressaltou, ainda, que "os usuários são responsáveis pelas informações fornecidas durante o ato do cadastro no Saúde Digital, sistema do Governo do Estado do Ceará, assim como os documentos comprobatórios no ato da vacina".
Veja detalhes do caso:
Vicente Araújo Júnior, CEO da Servnac, de 53 anos
1ª dose: 15 de maio
2ª dose: 23 de julho
Allan Victor Bezerra Guanabara, diretor de Marketing da Servnac, de 23 anos
1ª dose: 12 de maio
2ª dose: 23 de julho
Vicente Araújo Neto, formado em Administração e CEO de uma fintech, de 28 anos
1ª dose: 22 de maio
2ª dose: 23 de julho
Vacinação de Thyane Dantas
O caso de pai e filhos não é o único envolvendo o Grupo Servnac e a vacinação em Fortaleza. Situação semelhante ocorreu com a esposa do cantor Wesley Safadão, Thyane Dantas, que se vacinou fora da data para a faixa etária estabelecida na época, em julho.
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Investigações apontam que dois funcionários também da Servnac, que presta serviço para a logística da vacinação na Capital, facilitaram a imunização da influencer. Neste caso, a SMS instaurou um inquérito administrativo, além da investigação policial e do MPCE.
O casal virou alvo de inquérito policial em 15 de julho, dias após Wesley Safadão ser imunizado fora do local estabelecido pela Prefeitura, enquanto Thyane recebeu dose única de forma antecipada. Ela não estava agendada.
Sabrina Tavares Brandão, produtora do cantor - que se vacinou no mesmo dia e local dele - também passou a ser investigada.
Paralelo à investigação policial, Sindicância da Prefeitura, que apura as irregularidades da vacinação dos três envolvidos, identificou que a facilitação para a imunização do cantor e da produtora fora do local previstos inicialmente, e da influencer, deu-se na triagem no posto de vacinação, no North Shopping Jóquei.
Leia nota da Servnac na íntegra:
"O Grupo Servnac esclarece que, de acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, ficou estabelecida a necessidade de ampliação do grupo de Trabalhadores da Saúde a fim de permitir o suprimento das instituições de saúde para garantir a manutenção das operações em sua plenitude.
Nesse contexto, foram incluídos nos grupos prioritários de vacinação também os profissionais que exercem suas funções, no todo ou em parte, em hospitais e postos de saúde dando o devido suporte para o funcionamento adequado do sistema de saúde. A Servnac possui quase 45% do seu quadro de pessoal exercendo funções em unidades de saúde privada e pública, em funções operacionais e administrativas.
Por esse motivo, houve a vacinação dos profissionais que se fizeram presentes nos locais sujeitos a grave perigo de contaminação pela Covid-19".