Diagnóstico rápido, novos remédios e técnicas não invasivas são mudanças no combate à Covid-19 no CE
Conhecimento adquirido em quase dois anos de esforços contra o coronavírus estabelece métodos e substâncias, de fato, eficientes para o combate à doença
Quem chega às unidades de saúde descobre se há infecção pelo coronavírus em pouco tempo e recebe tratamento mais eficiente em comparação aos primeiros casos da doença em março de 2020. Profissionais da saúde, em meio à correria nos hospitais e laboratórios na 1ª e 2ª ondas da Covid-19, produziram conhecimento relevante para salvar vidas cearenses e projetam maior controle da pandemia.
“No começo, o resultado de um exame RT-PCR demorava uns 15 dias, então os pacientes passavam por todo processo de doença e só depois recebiam um diagnóstico definitivo. Hoje conseguimos fazer um diagnóstico mais precoce”, lembra Melissa Medeiros, infectologista no Hospital São José.
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Os médicos entenderam como classificar os pacientes por fatores de risco, quais exames laboratoriais e marcadores indicam o processo inflamatório e a fase da doença.
“Hoje a gente sabe que é uma doença que tem, basicamente, três fases: viral, inflamatória e de complicação pulmonar. Conseguimos estratificar para saber em que momento podemos intervir e que tipo de tratamento pode ser direcionado”, detalha.
O cenário nos hospitais também é outro: o medo excessivo de contaminação e a falta de materiais como máscaras, luvas e aventais há muito não é mais realidade. “Hoje a gente tem um outro momento, a gente consegue lidar com o paciente, mas ainda é uma doença muito grave e pacientes chegam com fatores de risco, só que a gente já consegue fazer intervenções”, pondera.
Além disso, o processo de imunização contribui para a queda na demanda, inclusive, com a desativação de unidades voltadas à pandemia. "Quem a gente vê chegando nos hospitais, são pessoas mais frágeis, mais idosos, que a gente não consegue despertar a imunidade suficiente só com a vacina, e as pessoas que infelizmente não conseguiram se vacinar ou decidiram não se vacinar", destaca.
Quais são os remédios usados e como funcionam?
Medicamentos para reduzir o processo inflamatório, como imunobiológicos, terapias com anticorpos e antivirais, como o molnupiravir, são caminhos apontados por cientistas como formas encontradas de vencer a doença. “Estamos enriquecendo o arsenal de medicações efetivas, aprovadas e em utilização em outros países do mundo”, frisa Melissa Medeiros.
Na fase inflamatória, os médicos podem usar imunobiológicos como o tocilizumabe, em aplicação desde abril do ano passado e com efetividade analisada em janeiro deste ano, como informa Melissa.
“A gente consegue tratar o paciente em uma fase mais precoce, na fase que a gente tem replicação viral e a gente pode impedir que o vírus cause essa inflamação”, detalha.
Outras opções são os anticorpos monoclonais, que bloqueiam as ligações do vírus, e o remdesivir, que age diretamente na replicação viral. “Ele age dentro do vírus, impedindo que se multiplique, inclusive já tem teste para usar como prevenção como profilaxia”, acrescenta sobre a possibilidade de administrar o remédio para evitar a doença.
Em 2022, com maior volume de medicações disponíveis no mercado, deve haver barateamento das substâncias e adesão dos novos remédios também em hospitais públicos. “A gente vai mudar o rumo da infecção no futuro”, conclui.
Temos como mudar o futuro, a gente tem angústia com a 3ª onda, medo de voltar porque está todo mundo cansado. Mas a possibilidade de ter opções que vão fazer diferença para o paciente traz uma leveza
Fisioterapia não invasiva
Ventilação não invasiva e cateter nasal de alto fluxo são alternativas à intubação, como explica a fisioterapeuta intensivista e coordenadora da reabilitação do Hospital Otoclinica, Roberta Catunda Costa.
“Em relação às terapias, a gente tem um cenário completamente diferente da primeira onda porque, quando o paciente chega no hospital a primeira tentativa é das terapias não invasivas”.
Roberta lembra que os quadros clínicos levavam ao entubamento de pacientes e esses recebiam fisioterapia e ventilação mecânica. “Um paciente entubado corre muito mais riscos de desenvolver outras coisas, como infecções, tanto na parte pulmonar como sensorial, há diminuição da mobilidade e sequelas da doença”, destaca.
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Agora a resposta clínica dos pacientes recebe análise mais detalhada para a indicação do tratamento adequado. “Na primeira onda se tinha medo desse tipo de terapia não funcionar e dos profissionais que instalavam podia se contaminar. Hoje a gente já consegue fazer dessas terapias a primeira escolha”.
Entre as novidades, o uso da tecnologia do capacete elmo, criado no Ceará, para pacientes com dificuldade de respirar.
Com a vacinação, Roberta viu reduzir de forma expressiva o número de pacientes infectados. “São casos pontuais de pacientes vacinados que desenvolveram quadros graves, mas também tivemos pacientes que não fizeram uso da vacina". Fisioterapia e fonoaudiologia se completam para a reabilitação dos pacientes, como acrescenta.