Com a pandemia, abril, maio e junho de 2020 foram os meses mais mortais no Ceará desde 1979

Três meses do ano pandêmico ultrapassaram o registro de 6 mil mortes, marca que só havia sido ultrapassada uma vez em 40 anos

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Caixão sendo levado do Hospital Leonardo Da Vinci
Legenda: Conforme os registros, a escalada histórica ocorreu em março, mês de início da pandemia no Ceará
Foto: Fabiane de Paula

As principais perdas trazidas pela Covid-19 são as humanas, com milhares de histórias silenciadas, encerradas e sepultadas. No entanto, a catástrofe causada por ela agravou ainda mais a situação de óbitos no Brasil e no Ceará. O primeiro ano de pandemia no Estado, por exemplo, teve crescimento de 20% no número de óbitos, em relação a 2019.

Entre os recordes negativos, os meses de abril, maio e junho de 2020 foram os meses com mais mortes gerais no Estado desde 1979, ano em que os registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, foram informatizados.

A ferramenta contabiliza qualquer tipo de morte, desde aquela provocada por infecções virais (como a Covid-19) ou parasitárias e doenças crônicas, até óbitos infantis e maternos ou causas externas, como violência e acidentes. Todos os fatores estão descritos na Classificação Internacional de Doenças (CID-10).

Ao todo, 2020 contabiliza 68.402 óbitos. Embora ainda preliminar, este também é o recorde da série histórica do SIM desde sua criação, em 1975: foram 11 mil mortes a mais que o ano anterior, já que 2019, ainda sem pandemia, teve 56.639 mortes. 

Os dados mais recentes da ferramenta foram disponibilizados em abril de 2021 pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Segundo a Pasta, os dados referentes aos anos de 2019 e 2020 são prévios e estão sujeitos a alterações devido a prazos legais para a alimentação do sistema.

Conforme os registros, a escalada histórica ocorreu em março, mês de início da pandemia no Ceará. Embora tenham sido registradas apenas 25 mortes por Covid-19, de acordo com a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o mês fechou com 6.223 óbitos gerais.

Antes disso, o recorde era de março de 2017, único mês em que o Ceará passou de 6 mil registros em quase 40 anos. Mais precisamente, foram 6.022. Naquele mês, o Estado teve mortalidade acima do normal em todas as categorias de causas, mas principalmente por doenças do aparelho circulatório e do aparelho respiratório.

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Contudo, o pior mês da história, até o momento, foi maio de 2020. Ao todo, 10.274 pessoas perderam a vida no Estado, de acordo com o SIM. Só por Covid-19, foram 3.936, o equivalente a 38,31% do total - ou seja, naquele mês, quatro em cada dez óbitos foram causados pela nova doença.

Em junho, as mortes por Covid-19 começaram a cair. Foram 2.045, de acordo com o IntegraSUS, que contribuíram para inflar os números gerais para 6.625. Nos meses seguintes, até dezembro, a média voltou a decrescer e oscilou em torno de 5 mil.

Dados preliminares de 2021

Os dados preliminares de 2021 não foram disponibilizados pelo Ministério da Saúde. No momento, a ferramenta de contagem de registro de óbitos em cartórios, disponibilizada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), é a que mais se aproxima da realidade.

Em janeiro e fevereiro deste ano, os óbitos gerais no Ceará foram de 4.237 e 4.414. Contudo, com o agravamento da segunda onda da Covid-19 no Estado, março e abril registraram 7.111 e 8.256 casos, respectivamente. 

Os registros de óbitos de abril de 2021 são recorde entre os dados contabilizados pela Arpen no Estado, desde 2015, superando inclusive os 7.748 de maio de 2020.

Para o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), no período pandêmico, a infecção por Sars-CoV-2 não é necessariamente a causa direta do excesso de mortalidade, mas um reflexo indireto da epidemia. 

Entre as mortes que excedam a média de anos anteriores, podem estar aquelas provocadas “pela sobrecarga nos serviços de saúde, pela interrupção de tratamento de doenças crônicas ou pela resistência de pacientes em buscar assistência à saúde, pelo medo de se infectar pelo novo coronavírus”.

Idosos mais atingidos

A evolução no número de mortes é uma tendência nacional e aumenta com o passar das décadas, à medida que a população também vai envelhecendo. Nos anos 1980, a média de óbitos verificada pelo SIM era de 1.800 por mês, no Ceará. Na década seguinte, o valor cresceu para 2.400 mortes mensais.

Entre 2001 e 2011, o número de óbitos começou a oscilar entre 3 mil e 4 mil. Conforme os registros seguintes, abril de 2015 foi a primeira vez que o Ceará ultrapassou 5 mil óbitos em um mês. Até 2019, a mediana mensal era de 4.500 mortes, mas o valor subiu para 5 mil, em 2020.

sse crescimento ocorreu em virtude da diminuição da mortalidade nas idades iniciais, o que fez com que um maior contingente de indivíduos chegasse às idades finais, gerando, assim, um incremento no número de óbitos nas idades mais avançadas, que apresentam mortalidade elevada”, explica o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na edição mais recente das Estatísticas do Registro Civil, de 2019.

Não à toa, nos últimos dois anos, uma média permaneceu a mesma: com ou sem pandemia, 68% dos óbitos gerais ocorridos no Ceará atingiram a população acima de 60 anos. Ou seja, de cada 100 pessoas falecidas, 68 eram idosas.

 

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