Mortes por Covid-19 aumentaram 31% entre profissionais da saúde na segunda onda da pandemia no Ceará
No entanto, número de casos confirmados da Sars-Cov-2 no grupo caiu pela metade no mesmo período
Durante a segunda onda da pandemia de Covid-19, entre 1º de outubro a 24 de maio de 2021, 46 profissionais da saúde vieram a óbito no Ceará, gerando um crescimento de 31,42% no número de falecimentos se comparado à primeira onda, a qual ocasionou 35 mortes entre 1º de março a 30 de setembro de 2020.
No entanto, o número de casos confirmados da doença entre os profissionais da saúde caiu 58,75% no mesmo período no Estado. No primeiro momento pandêmico, 16.418 ocorrências foram confirmadas e, posteriormente, 6.772. Os dados são do IntegraSUS, portal de transparência da Secretaria da Saúde (Sesa).
Além disso, do total de casos confirmados, 9 em cada 10 profissionais da área se curaram do coronavírus, 98% do total. Isto é, das 23.237 confirmações, 22.775 se recuperaram até o dia 24 de maio.
Neste cenário, os municípios que mais registraram infecções da Sars-Cov-2, no grupo prioritário, foram Fortaleza, com 8.485 confirmações; Sobral, com 1.147; Caucaia, com 768; Juazeiro do Norte, com 706; e Crato, com 510.
De acordo com a epidemiologista, virologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, entre os possíveis motivos que levaram à elevação dos óbitos nos profissionais da saúde estão as novas variantes do vírus em circulação.
“Essa nova variante P1 - responsável por 90% dos casos dentro das amostras testadas - é muito mais transmissível e tem mais afinidade pelos nossos receptores, escapando do sistema imunológico e gerando mais inflamação”, conclui.
A epidemiologista relata que outro fator provável foi a ausência de vacinação rápida para todos os profissionais expostos na linha de frente, bem como a falta de assistência adequada para eles.
Com os leitos ocupados, quando dava-se o adoecimento, onde [os profissionais] encontravam suporte?”
A virologista destaca ainda que a situação pandêmica só tende a melhorar, de fato, quando 80% a 90% da população tiver acesso aos imunizantes, assim, “teremos uma proteção real a nível de comunidade”.
Além disso, segundo Caroline Gurgel, a lentidão no processo de vacinação e a má distribuição das vacinas no País tem dificultado o controle de casos e óbitos a todos, além da heterogeneidade territorial, a não-prioridade dos profissionais da saúde como “obra prima” e a mescla atual das três fases da Campanha de Imunização.
“Nossos passos não são lentos, são extremamente lentos. Estamos falando de vacinar 250 milhões de pessoas e, até o momento, vacinou-se apenas 9,7%. É inadmissível morrer para uma doença que sabemos a patologia, conhecemos o agente viral, temos o diagnóstico rápido e agora a vacina”, interpreta.
Diferença entre as ondas
A epidemiologista Caroline Gurgel destaca também que há algumas diferenças entre as ondas da pandemia no Estado, visto que o processo inflamatório ocasionado pela nova variante P1 é pior, o que acabou gerando um maior tempo de ocupação de leitos e de filas de espera no sistema de saúde, principalmente entre as unidades de terapia intensiva (UTI).
Além disso, o perfil de pacientes mudou na segunda onda. “Agora os alvos são os jovens, no geral, abaixo dos 60 anos. Eles acreditam, muitas vezes, que são blindados por não terem fatores de risco, então, com o decorrer do tempo, foram se acostumando que a doença não iria causar nada demais neles. No entanto, com a P1, nós tivemos uma verdadeira modificação dos fatores de risco”, explica Caroline.
Campanha de Vacinação
Até este domingo (23), 232.080 profissionais da saúde receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19 no Estado. Destes, 194.091 também foram imunizados com a D2, o que representa 76,34% da meta de imunização do grupo prioritário. As informações são da Secretaria da Saúde (Sesa).
No âmbito geral, 2.551.082 doses foram aplicadas na população cearense, sendo 1.594.907 para a primeira dose e 956.175 para a segunda. O número total de imunizantes recebidos foi de 3.478.300.
Segundo o imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, o índice de eficácia das vacinas só é atingido após duas semanas da aplicação da segunda dose. “O que nós deveríamos contar hoje era o número de pessoas vacinadas com duas doses há 14 dias, esse é o número real de pessoas imunizadas”.
Nós não temos medicamentos específicos para a Covid-19, nós temos que fazer a prevenção e a melhor prevenção é a vacina”