A pandemia da Covid-19 transformou o mundo. Isolamento social, uso de máscara e lavagem das mãos, foram as principais prescrições da ciência para tentar evitar a doença. No Ceará, já são mais de 9 mil mortes e 322.494 infectados pela Covid-19.
No entanto, a esperança de dias melhores veio com a vacina. O Governo Federal negocia doses da vacina, sendo, ao menos, 100,4 milhões produzidas pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca, que será replicada no Brasil pela Fiocruz, e 42,9 milhões de doses da Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Ministério da Saúde ainda não anunciou a data oficial de início de aplicação da vacina.
A expectativa para a imunização é grande, e, neste momento, muitas informações falsas estão sendo disseminadas, especialmente nas redes sociais. Por isso, o Diário do Nordeste reuniu as principais dúvidas, e convidou o imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Holanda Teixeira, para esclarecê-las.
A produção da vacina foi muito rápida, ela é realmente eficaz?
As vacinas demoram, normalmente, de 5 a 10 anos para ficarem prontas. Existem vacinas que, mesmo com muita pesquisa, ainda não puderam ser concluídas, como a da malária, por exemplo. As desenvolvidas para a Covid-19, como a CoronaVac, foram as mais rápidas que tivemos até hoje. Mas a sua velocidade de produção não deve ser motivo de angústia.
Todas as etapas de protocolo estão sendo seguidas, com um grau de segurança elevado. Um dos grandes responsáveis pela rapidez da vacina é o fato de cientistas e companhias de produção já conhecerem um vírus semelhante, o SARS-Cov1, que causou um surto de SARS em 2003.
Outra coisa é que o desenvolvimento de vacinas segue protocolos e plataformas comuns, independentemente de qual microrganismo se esteja lidando, além do uso de tecnologia avançada.
É importante citar também que o mundo se dedicou a encontrar uma vacina para a Covid-19.
Tudo isso facilitou para que tivesse um recorde de produção. Mas de forma alguma a rapidez do desenvolvimento da vacina provoca baixa qualidade.
Após tomar a vacina, a pandemia acabou?
Não. É preciso esperar para saber do poder neutralizante da vacina e os efeitos na comunidade depois da(s) vacina(s) terem sido aplicadas em uma quantidade expressiva de pessoas. A vacina protegerá o indivíduo de desenvolver a doença em sua forma grave, mas também poderemos verificar o efeito na neutralização das partículas do vírus a ponto de que a pessoa vacinada não transmita mais.
As vacinas normalmente possuem duas doses. Você só se torna imune depois de 14 dias da segunda dose, tempo necessário para que o corpo produza anticorpos e linfócitos - as células de memória. Então, mesmo após a segunda dose, é preciso aguardar se as vacinas da Covid-19 terão essa capacidade neutralizante na comunidade.
O que implica dizer que, mesmo após tomar, teremos que manter os cuidados por um período que ainda não se sabe exatamente de quantos dias, pois dependerá do que mostrarem os dados epidemiológicos.
A vacina não é um alvará de soltura. As medidas de proteção, como o isolamento e o uso máscara, só poderão ser relaxadas quando ocorrer o bloqueio da propagação viral diante da imunidade de rebanho. É necessário esperar.
Posso me infectar ou morrer tomando a vacina?
Não. A possibilidade da pessoa se contaminar ou morrer é zero porque não se utiliza o vírus vivo na vacina. As vacinas passam por três rígidos protocolos científicos, nos quais se ajusta dose, eficácia e se verifica a segurança.
O recomendado é só vacinar quando se tem a fase três concluída, contudo, a Rússia e a China já iniciaram a vacinação em massa na população de risco, antes de terminar todos os testes da fase três.
A vacina tem efeitos colaterais?
Sim. A vacina pode apresentar efeitos colaterais, como um mal-estar, febre baixa ou vermelhidão local. Essas reações não são especiais do uso da vacina da Covid-19, podendo acontecer com qualquer medicamento. Então os efeitos colaterais são esperados, isso não impede de você continuar o desenvolvimento e a liberação da vacina.
Os voluntários da vacina morreram? Ou sofreram danos neurológicos?
Não. Todos os protocolos são submetidos a comitês científicos e publicados em revistas científicas de alto impacto. Logo, é mentira que a vacina tenha matado um voluntário, ou que provocou danos neurológicos e alteração no código genético.
Isso porque o RNA mensageiro, que é utilizado nessas vacinas, nem sequer entra no núcleo, ele só leva a informação para ser produzida a proteína que vai gerar a imunidade. As vacinas induzem uma resposta imunológica prévia e garante memória imunológica para que quando a pessoa entrar em contato com os microrganismos, já seja possível reagir de uma forma positiva e não adoecermos.
O RNA que tem nas vacinas não modifica o nosso DNA, não tem relato algum na literatura científica sobre isso. As vacinas não utilizam organismos vivos para produzir a imunidade contra a Covid-19. Normalmente são utilizadas partículas do microrganismo, microrganismo inativado ou RNA mensageiro, ou seja, impossível adoecer de Covid-19 por conta da vacina.
Outro ponto é que quando esse tipo de situação acontece, como a morte de um paciente, por exemplo, o protocolo é encerrado, até que se avalie se a morte foi causada pela vacina.
O que realmente mata ou traz danos neurológicos e cardiológicos é o coronavírus. Alguns pacientes que se recuperaram apresentaram danos cardiológicos e danos neurológicos.
É verdade que a China não está usando sua própria vacina?
É mentira. A China já vacinou mais de cem mil chineses com a CoronaVac, eles possuem inclusive duas vacinas. Uma está sendo usada nos militares e a outra no público em geral.
Quem não é do grupo de risco precisa se vacinar?
Sim. O coronavírus tem uma mortalidade maior nas pessoas idosas e com comorbidade, mas ela também vitima pessoas jovens, até crianças. No entanto, não temos vacina para todo mundo, e a partir disso se constrói uma ordem de prioridade, iniciando exatamente com esses grupos que sofrem mais com a doença.
Quando será possível se vacinar no Ceará?
O Estado do Ceará já está preparado com insumos e treinamento de recursos humanos, faltando apenas a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a chegada da vacina para iniciar a imunização.