Ceará registra 12 mil tremores de terra em dez anos
A expansão da rede de monitoramento deste fenômeno natural contribuiu para o aumento no número de registros dos abalos sísmicos que, em sua maioria, são de baixa magnitude, não trazendo risco à população.
Quando se fala em tremores de terra, logo vem à cabeça países como Indonésia, Japão, China e EUA, que são alguns dos locais em que são frequentes abalos sísmicos de grande magnitude. No entanto, apesar de o Brasil estar situado numa região geologicamente estável, os tremores em solo brasileiro não são raros. Em diversos estados a atividade sísmica está bastante ativa, como no Ceará. Para se ter uma ideia da alta incidência, apenas em Palhano, no Vale do Jaguaribe, foram mais de 400 abalos nos últimos seis meses.
O sismólogo e coordenador do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN), Eduardo Menezes, explica que no Brasil, os tremores acontecem devido a esforços no interior da Terra. Ele detalha ainda, que com o avanço dos sistemas de monitoramento, mais tremores são registrados, mas que, na maioria, são de baixa intensidade.
Como e por que acontecem os tremores de terra?
Terremotos, também chamados de abalos sísmicos, são tremores passageiros que ocorrem na superfície terrestre. Esse fenômeno natural pode ser desencadeado por fatores como atividade vulcânica, falhas geológicas e, principalmente, pelo encontro de diferentes placas tectônicas. No Brasil, a atividade ocorre, principalmente, devido a esforços no interior da Terra.
O Brasil se localiza no centro da placa sul-americana, um local geologicamente estável. Então por que tem ocorrido tantos tremores no Ceará?
Os tremores não só ocorrem no Ceará como também em outros estados do Nordeste. O fato de estarmos no meio da placa não significa que não possa ocorrer um tremor forte. Existem falhas (ativas) que podem gerar tremores fortes, mas estas não estão próximas às áreas urbanas. Além disso, o aumento destes registros deve-se à intensificação de instrumentos instalados em todo território nacional, alem de termos mais especialistas para monitorar este fenômeno.
Nos últimos anos, os tremores em solo cearense têm aumentado?
O que podemos dizer é que nos últimos 30 anos houve um aumento de estações para monitoramento em todo Estado. Antes existiam poucas estações sismográficas no Nordeste. Apenas no Rio Grande do Norte e uma em Pernambuco. Agora, o LabSis/UFRN tem 17 estações sismográficas instaladas no Nordeste, o que acaba aumentando a capacidade de registrar esses tremores.
Em 1980, foi registrado um terremoto de 5,2 graus na escala Richter no Ceará. Esse evento, de alta magnitude, foi um caso isolado ou pode se repetir?
O famoso tremor de Pacajus, como ficou conhecido na época, representa na história, o maior já registrado no Nordeste. Esse evento teve grande repercussão e foi sentindo a um raio de mais de 600 km. O que a sismologia conhece, nesta proporção, não é comum, embora não possa ser descartado um novo evento deste. Em 1991, por exemplo, ocorreu um tremor semelhante, de magnitude 4.8 na região de Irauçuba.
Há como prever se os abalos sísmicos futuros, no Ceará, terão magnitude maior do que as registradas hoje?
Não. Mesmo com todos os avanços tecnológicos, não há como prever quando e onde os tremores vão acontecer, nem estimar previamente sua magnitude.
O que temos de conhecimento, baseado nas últimas três décadas de estudo, é que o Ceará tem algumas áreas consideradas sismicamente ativas, como as regiões de Chorozinho, Palhano, Irauçuba, Sobral, Groaíras, Santana do Acaraú, Hidrolândia e Senador. Em alguns locais, pode existir um pico de tremor, depois um momento de inatividade. Na região de Palhano, em 1988, ocorreram vários abalos. No fim do ano passado e início de 2020, voltamos a registrar tremores. O interessante é que eles não são na mesma área. Estamos estudando os motivos. Mas, este fato, mostra a importância do monitoramento de forma contínua.
Quais os cuidados que as pessoas devem adotar no momento de um tremor?
Quem estiver dentro de casa, é importante salientar que o lugar mais seguro é ficar embaixo dos portais das portas. Na rua, a recomendação é se afastar o mais rápido da rede elétrica. Manter a calma é outra orientação importante.
Para instruir a população que vive em áreas suscetíveis aos abalos, nós do LabSis, em parceria com as Defesa Civil dos municípios e Estado, realizamos palestras rotineiras. Também criamos uma cartilha que contém várias dicas.