Família aponta dificuldades para reconhecer corpo de paciente com suspeita de Covid-19 no HGF
Num primeiro momento, a esposa não viu o marido, que estava em revestimento lacrado, e se recusou a assinar documento de atestado. Hospital diz que procedimento segue normas técnicas.
O administrador de empresas Ricardo, 42 - a família preferiu não identificar o sobrenome -, foi internado no dia 3 de abril, no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), com suspeita de Covid-19. Após 28 dias internado, na última quinta-feira, 30 de abril, Ricardo faleceu. No entanto, os familiares relatam que, na sexta (1º), foram impedidos de reconhecer o corpo do parente, que já estava ensacado e isolado, e se recusaram a assinar um documento atestando que era mesmo o administrador.
“Quando minha cunhada entrou para o reconhecimento, não a autorizaram olhar o corpo de meu irmão. Nesse momento, o rapaz da funerária foi lá fora me chamar. Um absurdo uma família simplesmente ter que aceitar que aquele é seu parente amado”, relata Eduardo, irmão de Ricardo.
Em seguida, ele chegou a acionar a Polícia Militar. “Ao perceberem toda minha movimentação, apareceu um médico, uma assistente social e um segurança, que disseram que o diretor do hospital estava em reunião. O mesmo autorizou por telefone, desde que ela vestisse a roupa adequada, pois eles não possuem uma sala com vidro para que familiares possam fazer esse reconhecimento”, afirma.
Ricardo foi cremado no mesmo dia. Eduardo faz um alerta para a situação e cobra mais conscientização das autoridades de saúde. “Além de perdermos entes queridos, somos abandonados ao sistema frio. Que não nos vejam como números, mas sim como pessoas com histórias e familiares que os amam e querem um final digno aos parentes”, ressalta.
Sintomas anteriores
Essa não foi a primeira dificuldade enfrentada pela família com a unidade de saúde. Enquanto Ricardo estava internado, os parentes não conseguiram receber informações oficiais do estado de saúde dele; as notícias eram repassadas por uma pessoa que estava dentro do HGF.
No dia 28 de março, Ricardo foi a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com tosse, dor de estômago e tonturas. Ele realizou o exame e retornou para casa, seguindo a recomendação do isolamento social. No dia 3 de abril, com a recorrência dos sintomas e a permanência da febre, ele foi levado a um hospital particular e, em seguida, encaminhado ao Hospital Geral.
Procedimento técnico
Em nota, o HGF informou que o processo de reconhecimento de corpos de pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19 segue Nota Técnica da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O documento orienta que, por segurança, “o reconhecimento é limitado a um único familiar ou responsável, sem contato direto com o corpo, mantendo uma distância de dois metros entre eles”. “O HGF vem realizando, diariamente, avaliação dos processos que envolvem a Covid-19 para melhor se adequar às mudanças constantes no contexto atual da pandemia”, completa.
A unidade da rede estadual também lamenta o falecimento do paciente e “se solidariza com a família e está disponível para mais orientações e atenção nesse momento”.
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