Vinho produzido com trabalho escravo não pode ser usado nas missas, diz CNBB

Órgão recomendou que a Igreja zele pelo tipo de vinho utilizado nas celebrações

Escrito por Redação ,
Mão segurando uvas roxas em vinícola
Legenda: Recomendação da CNBB vem na esteira de denúncias de trabalho análogo à escravidão em vinícolas da serra gaúcha.
Foto: Shutterstock

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou uma nota, na última terça-feira (28), para recomendar vigilância sobre as condições de trabalho nos locais que produzem os vinhos utilizados nas celebrações de missas.

No texto, o órgão diz que "qualquer tipo de trabalho em condições que ferem o respeito pela dignidade humana não pode ser aprovado" e que "todas as denúncias devem ser investigadas nos termos da lei".

O cuidado vem na esteira das notícias de resgate de pouco mais de 200 pessoas trabalhando em condições análogas à escravidão na produção de vinhos na região de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

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"No Brasil, existem diversas vinícolas que oferecem vinho canônico. Desse modo, é recomendável que se busquem, para a celebração da missa, vinhos de proveniência sobre as quais não existam dúvidas a respeito dos critérios éticos na sua produção", escreveu dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB.

O bispo reforçou ainda que é de responsabilidade da Igreja Católica zelar pelo tipo de vinho utilizado nas celebrações.

Trabalho escravo

Os mais de 200 trabalhadores resgatados eram contratados pela empresa Fênix, que terceirizava mão de obra para grandes produtoras de vinho no Brasil, como Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi.

Os relatos dão conta de que os trabalhadores davam mais de 15 horas de expediente diários, sem intervalos, e com apenas uma folga na semana. Além disso, a denúncia também apontou que eles ficavam em alojamentos precários, se alimentando de comidas estragadas e sofrendo cobranças abusivas, além de agressões físicas, com choques elétricos e spray de pimenta. Também sofriam atrasos nos pagamentos.

A maioria dos trabalhadores, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que atuou no resgate, eram oriundos da Bahia. Eles eram recrutados em suas cidades de origem para trabalhar na serra gaúcha. O caso é acompanhado, também, pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pela Polícia Federal.

 

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