
O presidente Donald Trump afirmou que vai impor "tarifas recíprocas" aos aliados e rivais dos Estados Unidos. No Salão Oval da Casa Branca, o republicano assinou um documento com instruções sobre a política tarifária do seu governo, nesta quinta-feira (13).
Os aliados dos Estados Unidos costumam ser "piores do que os nossos inimigos" no nível comercial, ressaltou Trump, destacando que a União Europeia "é brutal". O presidente admitiu que os preços podem subir, mas disse esperar que isso se reverta com o tempo.
Trump pediu que equipes façam uma revisão completa das disparidades comerciais entre os Estados Unidos e o restante do mundo, a fim de implementar tarifas aduaneiras "recíprocas" e "personalizadas" segundo o país, informou um funcionário da Casa Branca. Esse trabalho deve levar algumas semanas ou meses, acrescentou.
Veja também
Além disso, o presidente foi questionado sobre a possibilidade dos países do Brics — Brasil, Rússia, Índia e China — estabelecerem a própria moeda. A proposta está em avaliação por membros do grupo que defendem a “desdolarização” para diminuir o impacto dos EUA nas negociações do bloco econômico.
Donald Trump respondeu, então, que esses países podem enfrentar tarifas de 100% dos Estados Unidos caso decidam “brincar com o dólar”, conforme divulgado pela CNN também nesta quinta-feira (13).
TARIFAS PUNITIVAS
Os Estados Unidos têm um déficit comercial "de mais de US$ 1 bilhão — cerca de R$ 6 bilhões — porque os principais países exportadores atacam os nossos mercados com tarifas punitivas e barreiras não tarifárias ainda mais punitivas", disse Peter Navarro, assessor comercial e industrial de Trump.
O presidente republicano quer impor o mesmo nível de tarifas aos produtos que entram nos EUA vindos de outro país que o aplicado aos produtos americanos exportados para lá. A ideia é nivelar as tarifas alfandegárias, o que representa um golpe para alguns países emergentes, como o Brasil ou a Tailândia, que impõem tarifas altas para proteger suas respectivas economias.
Por exemplo, a Índia, cujo primeiro-ministro Narendra Modi visitará a Casa Branca nesta quinta-feira, aplica uma tarifa de 25% sobre os carros americanos, o que significaria que os Estados Unidos poderiam fazer o mesmo com os carros indianos.
Trump já anunciou tarifas adicionais de 10% sobre produtos chineses e 25% sobre alumínio e aço. Uma política econômica agressiva com um único objetivo: “América em primeiro lugar”. As taxas sobre esses dois metais afetam vários países da América Latina, mas especialmente o Brasil, o México e a Argentina.
A tarifa de 25% sobre o aço, o alumínio e derivados será imposta sem exceções ou isenções, o que inclui nações que anteriormente estavam isentas, como o Canadá ou o México, seus parceiros no acordo comercial da América do Norte (T-MEC).
Ambos os países também estão em liberdade condicional por algumas semanas em relação a outras tarifas de 25% que ele imporá a eles se não chegarem a um acordo, para incentivá-los a combater a imigração ilegal e o tráfico de fentanil, um opioide sintético que causa estragos nos Estados Unidos.
‘OLHO POR OLHO’
A ideia de Trump é aumentar as tarifas para financiar parcialmente os cortes de impostos e absorver o crescente déficit comercial, mas também como um meio de pressão, e o faz aplicando o “Olho por olho, dente por dente”.
Economistas alertam que esse uso das tarifas poderia prejudicar a economia dos EUA. Não se descartam possíveis retaliações ou convocações de boicote.
“É possível que, no fim, vejamos países tentando se desligar do mercado americano", diz o economista Maurice Obstfeld. Analistas também preveem preços mais altos para os americanos, já que as tarifas são pagas pelos importadores e costumam ser repassadas aos consumidores.
Um fator a ser levado em conta é que especialistas atribuem em boa parte a vitória eleitoral de Trump à insatisfação da opinião pública com a inflação.