Cantora gospel Sara Mariano teria sido alertada por sogra: 'ele é capaz de lhe matar'
Também pastora, Sara foi encontrada carbonizada
Durante os últimos dias de vida, a cantora Sara Mariano, 38, teria encaminhado áudios à família narrando as agressividades e o medo que sentia do marido, Ederlan Mariano, 35. Os parentes da vítima encaminharam à Polícia as provas da violência doméstica que a pastora passava. Sara foi encontrada morta, carbonizada, na última sexta-feira.
"Aí eu falei para a mãe dele a situação e ela falou assim: 'Sara, pelo amor de Deus, não fale nada com ele agora, não, deixa ele se acalmar, ficar bem', porque eu disse que queria me separar. E ela disse: 'pense na (nome da filha do casal), Sara, não faça isso. Ele é capaz de lhe matar'. Ela disse assim... a mãe dele", contou Sara em áudio enviado pelo WhatsApp, obtido pelo jornal o GLOBO.
Já em outro áudio, Sara fala sobre agressividade de Ederlan e a relação do marido com a bebida alcoólica. "Ederlan geralmente tem bebido todo dia. Não é bebido de se embriagar e tal, mas bebe todo dia alguma bebida. E às vezes quando está estressado, quando eu irrito ele, ele quebra as coisas dentro de casa, grita, fica falando as coisas", relatou.
A mulher também teria medo que o marido tivesse acesso aos áudios, pois acreditava que ele estava a vigiando.
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Suposto caso com motorista de aplicativo
O marido da cantora gospel acreditava que ela estaria tendo um caso amoroso com um motorista de aplicativo, que agora é testemunha de defesa de Ederlan. Ele havia enviado uma foto de Sara com o rapaz.
Sara explica a interloucutora que achava que o motorista de aplicativo era gay e o via como amigo. Ela conta que um dia esse amigo foi a casa dela e quase foi agredido.
"Para mim, o (nome do motorista) é como se fosse uma amiga. Que eu conto segredos e tudo (...) Escuta os áudios bem direitinho aí que depois eu vou apagar. Aí quando ele falou que ia arrebentar o (nome do motorista), que ia bater no (nome do motorista), e que se eu entrasse na frente até eu levava também, e que eu podia até chamar a polícia e quando a polícia soltasse ele ele ia acabar com a minha raça (...) Eu não sei qual é a reação dele se eu disser: 'Ederlan, eu não quero mais, quero ir embora, me separar'. Mas eu não quero sair fugida, eu não estou devendo nada para ninguém", contou.
Interesse financeiro
A vítima alegava que Ederlan tinha interesse financeiro na poupança dela. Ela disse ainda que era responsável por todas as despesas da casa.
"Eu tenho dinheiro guardado, entendeu? Muito. Ele sabe, só não sabe o lugar. Eu nem sei nem porque eu estou falando isso porque o único jeito que eu posso fazer é orar. Para que Deus venha libertar esse homem disso, se realmente for verdade. Eu tenho uma vida, eu tenho uma filha, eu tenho uma família, eu tenho uma casa. Então, eu tenho que orar. Eu acho que eu tenho uns R$ 15 mil, não sei. Eu tenho que juntar um dinheiro para poder me estabelecer, se eu tiver uma necessidade, eu ter como recorrer porque eu vou ter alguma coisa reservada. Ele não sabe disso", relatou.
Soraya Correia, irmã de Sara, nega que ela tenha traído o marido. "Minha irmã sempre foi uma pessoa correta, não existe isso de que teria havido traição. Ela era uma pessoa de Deus, sempre tentou lutar pelo casamento, principalmente por causa da filha. Mesmo dizendo, às vezes, que não aguentava mais. Falava que tinha entregado na mão de Deus, 'até que a morte nos separe', dizia. Somente pouco antes da morte ela passou a contar tudo que estava vivendo", revelou.
Relação entre Sara e Ederlan
Os dois se conheceram virtualmente em 2010 e a pastora nunca havia dado detalhes da relação deles a familiares. Conforme Soraya, a cantora se apaixonou por Ederlan e pagou uma viagem para ele conhecer a família no Ceará.
O casal passou cerca de um ano morando no Ceará, mas Ederlan a convenceu de irem para Salvador.
A mãe e a irmã dela ficaram sabendo detalhes do casamento de Sara no início de outubro. A cantora se referia a Ederlan como "monstro". Ela havia contado que era obrigada também a ter relações sexuais com o marido.
Ela tinha a intenção de juntar dinheiro e sair de casa com a filha. A pastora contou ainda a familiares que certa vez precisou se trancar com a filha dentro do carro para fugir do marido que arrebentou a porta em seguida.
A pastora tinha medo que a filha ficasse com o pai, em uma eventual separação. "Eu sei que a minha filha vai sofrer bastante, apesar de que ela já entende muita coisa. Eu já falei pra ela: 'e se a mamãe deixasse o papai?' Ela falou 'não, mamãe, me leva com a senhora, não me deixa com o meu pai não porque eu vou passar fome, ele não vai me dar comida, não vai pagar minha escola'", dizia.
Investigações
A família acredita que o homem não realizou o crime sozinho e teria contado com ajuda de mais três comparsas.
Em nota, a Polícia Civil da Bahia informou que "a 25ª DT / Dias d´Ávila segue com as investigações da morte de Sara Mariano. No curso das apurações foi cumprido mandado de prisão temporária do ex-companheiro da vítima, que confessou o crime durante interrogatório e é acusado do feminicídio. Mais de oito pessoas foram ouvidas, atividades de inteligência policial estão sendo desenvolvidas. Laudos periciais vão auxiliar na apuração do caso".
Ederlan foi preso no último dia 27 de outubro. O delegado Euvaldo Costa dos Santos alega que o suspeito pretendia destruir provas no celular. A defesa de Erlan, representada pelo advogado Otto Lopes, afirma que o cliente não destruiu provas e o material que aponta supostas traições de Sara teria sido deletados para "preservar a imagem da família".
"O Ederlan armazenou os conteúdos, mas a polícia realizou um mandado de busca e apreensão e está com posse dos materiais", disse.
A defesa também negou que o homem confessou o crime. "Nos autos não têm informações que comprovem que Ederlan confessou o crime. Sobre a informação de que ele teria assumido a autoria, apenas a polícia pode esclarecer", disse.