Polícia conclui que PMs agiram em legítima defesa; família contesta
A morte de Jardeson Rodrigues completou seis meses. A Polícia Civil afirma que o jovem estava armado e atirou contra os policiais militares. Enquanto os familiares do rapaz alegam que ele não tinha arma e foi baleado pelas costas
A morte de Jardeson Rodrigues completou seis meses. A Polícia Civil afirma que o jovem estava armado e atirou contra os policiais militares. Enquanto os familiares do rapaz alegam que ele não tinha arma e foi baleado pelas costas
Seis meses após a morte de Jardeson Rodrigo Rodrigues Martins, de 21 anos, a Polícia Civil do Ceará (PCCE) concluiu que o jovem estava na posse de uma arma de fogo e que os policiais militares agiram em legítima defesa. A família de Jardeson contesta essa versão, nega que ele estivesse armado e afirma que o ente foi morto pelas costas pelos agentes de segurança.
Veja também
Conforme a PCCE, o 7º DP (Pirambu) foi o responsável por investigar uma ocorrência de pessoas armadas nas redondezas da Areninha da Lagoa do Urubu, no bairro Padre Andrade, em Fortaleza, que culminou em troca de tiros com a Polícia Militar do Ceará (PMCE), na madrugada de 13 de fevereiro deste ano.
"Durante a troca de tiros, Jardeson Rodrigo Rodrigues Martins (21), com antecedentes criminais por roubo e desacato, foi lesionado e socorrido com vida para unidade hospitalar, no entanto veio a óbito. A arma que estava em posse de Jardeson Rodrigues foi apreendida e os fatos foram apresentados ao 7°DP. A PCCE informa que a intervenção militar foi em legítima defesa e as provas colhidas foram remetidas ao Poder Judiciário".
Paralelamente, os PMs que participaram da ação são investigados administrativamente. A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informa que "instaurou procedimento disciplinar para apuração do fato na seara administrativa, estando este, atualmente, em andamento. Devido o caráter sigiloso, não é possível dar detalhes sobre as diligências adotadas". A PMCE não se manifestou sobre o caso.
Dor
A dor da família de Jardeson se mistura com revolta. O pai do jovem, Gilson Rodrigues, rebate que a versão da Polícia Civil "é mentira". "Eles (policiais militares) mataram meu filho de costas. O tiro foi na nuca. Como é que uma pessoa de costas troca tiros com a Polícia?", questiona.
"Estava tendo um campeonato de futebol, que meu filho jogava. Terminou o jogo, ficaram na Areninha. Vinha uma viatura saindo da rua 'voado' (em alta velocidade). Todo mundo que estava na Areninha saiu correndo. Eles (PMs) saíram correndo atrás do meu filho, que se abaixou atrás de umas plantas, do jardim de uma residência. Quando meu filho pensou que eles já tinham voltado, ele se levantou e saiu correndo. Eles deram só um tiro na nuca do meu filho", conta Gilson.
Um vídeo mostra o exato momento em que Jardeson é baleado de costas e cai. Nenhuma arma de fogo aparece nas imagens e o pai do jovem garante que o mesmo não andava armado. Depois, os policiais militares retiram o rapaz do local para levá-lo à viatura e, em seguida, à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Pirambu.
Gilson reclama da Polícia Civil, que o ouviu apenas uma vez, após o filho ser baleado, e passou seis meses sem dar informações da investigação à família do jovem morto - ao ponto de ele saber da conclusão do Inquérito Policial pela reportagem. "Como eles tomaram a decisão só para eles e não falaram com a família? Para eles, acabou o assunto. Mas para mim, não acabou. Mataram meu filho!", brada o homem, que acredita na reversão do caso na Justiça Estadual e na punição aos policiais militares.
Homenagem
Jardeson Rodrigues gostava de jogar futebol - como fazia no dia em que foi baleado e não resistiu. Em homenagem, os amigos dele proporcionaram o "último gol" ao jovem. Um jogador chutou a bola, que passou pelo goleiro adversário, bateu no caixão de Jardeson e balançou as redes. O vídeo viralizou nas redes sociais e ganhou repercussão nacional.