PMs lideravam esquema milionário de extorsão e tráfico de drogas
O Gaeco, do MPCE, deflagrou a segunda fase da Operação Gênesis. Policiais civis também foram presos. Conforme o Órgão, pelo menos R$ 2 milhões foram movimentados pela organização criminosa durante sete meses
Cinco policiais foram presos, ontem, durante diligências da segunda fase da Operação Gênesis, deflagrada pelo Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE). Três deles são policiais civis. E os outros dois são militares da ativa que, conforme as investigações, lideravam a organização criminosa, com um esquema milionário de extorsão e tráfico de drogas e de armas de fogo. O material era apreendido enquanto os agentes se valiam da função no serviço público.
A Justiça Estadual expediu 16 mandados de prisão e 16 mandados de busca e apreensão. Ao todo, 28 ordens foram cumpridas em Fortaleza e Caucaia, cidade da Região Metropolitana. As autoridades localizaram 14 envolvidos no esquema. Cinco deles já estavam encarcerados em unidades prisionais no Estado. Um policial militar e um traficante permaneciam foragidos, até o início da noite de ontem.
De acordo com o MPCE, a quadrilha movimentou pelo menos R$ 2 milhões em sete meses. Com os suspeitos, foram apreendidos aparelhos telefônicos e R$ 20 mil, dinheiro que, segundo o promotor de Justiça Adriano Saraiva, do Gaeco, é oriundo de extorsão e de tráfico de drogas.
O promotor detalha que o 'modus operandi' dos envolvidos na segunda fase da Operação Gênesis se diferencia dos alvos da primeira fase, deflagrada há quase um mês. Adriano Saraiva destaca que a movimentação milionária em curto período de tempo aconteceu porque, além dos criminosos pagarem os policiais para não serem presos, os ilícitos apreendidos pelos agentes eram renegociados no mercado clandestino.
Ações criminosas
Saraiva afirma que "os policiais se associavam com traficantes que eram informantes. Simulavam compra de drogas com outros traficantes, alvos da extorsão. Então os policiais tinham conhecimento de quando aconteceria a negociação. Iam para fazer a abordagem e, naquele momento, extorquiam. Além dos policiais receberem esse dinheiro, eles apreendiam as drogas, as armas e revendiam para outros traficantes". As investigações apontaram ainda a negociação de carros de luxo, conforme o promotor de Justiça. A reportagem apurou que um veículo Land Rover está sendo procurado pelas autoridades.
"Precisamos descapitalizar para dificultar a expansão destas organizações criminosas. O Gaeco está investigando para retirar das ruas não só os traficantes, mas também os maus policiais que se desviam da função", disse Saraiva.
A segunda fase da operação contou com apoio da Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS); do Departamento Técnico Operacional (DTO) da Polícia Civil do Ceará (PCCE); da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD); da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP); e do Comando da Polícia Militar do Ceará (PMCE).
Por nota, a CGD disse ter determinado a instauração de procedimentos disciplinares em desfavor dos policiais envolvidos nos fatos apurados na investigação.
Primeira fase
Na segunda quinzena de setembro, foi deflagrada a primeira fase da Operação Gênesis. Outros policiais civis e militares também foram alvos das diligências sob acusação de cometerem ao menos 11 extorsões contra traficantes, na Grande Fortaleza.
Na ação policial, foram cumpridos 17 mandados de prisão. Um policial civil aposentado era tido como responsável por liderar a organização criminosa e por recrutar outros servidores públicos para participarem do esquema. As investigações se iniciaram ainda em 2016, com o objetivo de desvendar ações delituosas de grupos policiais ligados a organizações criminosas responsáveis por tráfico de drogas e de armas, roubos e homicídios.