O que dizem testemunhas e o suspeito do caso de afogamento de adolescente na Beira-Mar, em Fortaleza

Um instrutor de caiaque foi preso em flagrante pela Polícia Militar do Ceará (PMCE), mas foi solto pela Justiça Estadual, em audiência de custódia

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
viatura do corpo de bombeiros em buscas por corpo de jovem desaparecido na praia de iracema
Legenda: Buscas foram realizadas pelo Corpo de Bombeiros do Ceará
Foto: Reprodução

A morte de um adolescente de 15 anos por afogamento, na Beira-Mar, em Fortaleza, no último domingo (4), gerou um conflito de versões sobre o caso. Um instrutor de caiaque foi preso em flagrante pela Polícia Militar do Ceará (PMCE), mas foi solto pela Justiça Estadual, em audiência de custódia, na última segunda-feira (5).

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, os policiais que atenderam a ocorrência e deram voz de prisão a Renan Cunha Alves, de 23 anos, informaram ao 2º Distrito Policial (2º DP), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), que o suspeito teria ordenado que três adolescentes saíssem do caiaque e voltassem à faixa de areia nadando, sem colete salva-vidas.

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Os três adolescentes atenderam à ordem e tentaram nadar até a orla. Um deles sabia nadar e chegou à areia sem grandes dificuldades. Os outros dois jovens não sabiam nadar bem, mas um deles conseguiu chegar até uma pedra, onde se segurou e aguardou o resgate. O terceiro adolescente desapareceu no mar. As buscas mobilizaram bombeiros militares e outras pessoas que estavam na praia, mas o corpo foi encontrado somente nesta terça-feira (6).

O adolescente que nadou até a faixa de areia, que também tem 15 anos, contou à Polícia Civil que ele e os amigos jogavam de futebol na praia, quando o instrutor de caiaque pediu ajuda a eles para colocar a embarcação com os clientes no mar. Os dois amigos subiram no caiaque, enquanto ele ficou pendurado por uma borda.

Na versão do jovem, no momento que a embarcação passou de uma boia amarela, o instrutor disse aos adolescentes que eles teriam que deixar o caiaque e voltar para a areia nadando, pois ele poderia ser multado. O adolescente, que sabia nadar, pediu para os amigos ficarem no caiaque, mas o instrutor não permitiu.

O outro sobrevivente, também de 15 anos, afirmou aos investigadores que o instrutor perguntou se os jovens sabiam nadar e que, mesmo o amigo dizendo que não sabia, o suspeito permitiu que eles entrassem no caiaque. Mas, na versão do jovem, ao passar da boia amarela, Renan Alves teria dito para o grupo voltar nadando. "É só vocês irem nadando cachorrinho", teria dito o suspeito, segundo o depoente.

O jovem ainda tentou ajudar o amigo, mas ambos já estavam cansados de tentar nadar. Ele conseguiu ir até uma pedra, onde se apoiou. Ao olhar para trás, não viu mais o amigo.

Outro instrutor de caiaque disse à Polícia que o colega de trabalho, Renan, não permitiu que os adolescentes entrassem na embarcação e que não tinha coletes salva-vidas para eles. Ao perceber que dois adolescentes se afogavam, o depoente entrou com outro caiaque para salvá-los, mas alcançou somente um deles.

A versão do suspeito

Ao ser interrogado no 2º DP, o instrutor Renan Cunha Alves narrou que adentrou no mar em uma canoa havaiana com 10 clientes e que os adolescentes ajudaram a empurrar a embarcação por conta própria, pois ele não pediu ajuda. Ele também garantiu que não autorizou que os adolescentes subissem no caiaque.

Renan afirmou que percebeu que dois adolescentes estavam dentro da canoa e um segurando na proa apenas quando já estavam no mar. E disse para eles que não podiam continuar lá.

Em seguida, o instrutor contou que perguntou se os jovens sabiam nadar e que eles responderam positivamente. Então, ele teria dito que, ao chegar na boia, os adolescentes precisavam voltar nadando. Renan sustentou ainda que acompanhou o nado dos jovens por um tempo, mas depois precisou dar atenção aos clientes.

Durante o passeio com os clientes, Renan encontrou um colega de trabalho, que estava em um stand-up, perguntou sobre os adolescentes e informou a ele que dois jovens não tinham voltado à faixa de areia. O suspeito disse que eles trocaram de posição e que ele foi procurar, por conta própria, pelos adolescentes. Um deles já estava salvo e o outro continuava desaparecido, quando o suspeito foi detido e levado à delegacia.

Ao ser questionado pelos policiais civis sobre os coletes salva-vidas, Renan Alves disse que não tinha equipamento sobrando na canoa e que os adolescentes também não pediram por coletes para voltar nadando. A defesa do suspeito não foi localizada pela reportagem para comentar o caso.

Solto em audiência de custódia

A 17ª Vara Criminal - Vara de Audiências de Custódia, da Justiça Estadual, decidiu soltar Renan Cunha Alves, em audiência de custódia realizada na última segunda-feira (5). 

Em compensação, o suspeito terá que cumprir as medidas cautelares de comparecimento mensal à sede da Coordenadoria de Alternativas Penais, pelo prazo de 10 meses; não se ausentar de Fortaleza, por mais de oito dias, sem informar o local onde poderá ser encontrado; comunicar eventual mudança de endereço; e comparecer a todos os atos processuais para os quais for intimado.

A juíza considerou que o preso é primário, portador de bons antecedentes, tem profissão lícita e indicou o endereço onde pode ser encontrado. "Constato, ainda, não haver indicativos de que seja integrante de organização criminosa ou que faça dessa atividade ilícita seu meio de vida, nem que esteja colocando em risco a aplicação da lei penal ou instrução criminal", afirmou a magistrada.

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