Jovem resgatada de cárcere privado, em Araripe, sofria agressões do companheiro há quatro anos

Nos últimos anos, ela engravidou duas vezes. As crianças, de 1 e 3 anos, eram proibidas de comer, beber água e ir à escola, e ainda estão com vacinação atrasada

Escrito por Redação ,
Legenda: Na casa, a Polícia encontrou apenas duas panelas, uma com café e outra com leite. Não tinha nem água em casa.
Foto: Foto: Isaac Macêdo

Uma jovem de 19 anos e dois filhos, de 1 e 3 anos, foram resgatadas de um cárcere privado, no município de Arararipe, região Sul do Ceará. O homem que prendia em casa as vítimas é o companheiro da mulher e pai das duas crianças, uma de um ano e outra de três anos. As crianças não iam à escola, e até a vacinação do menor  está atrasada. As quatro pessoas moravam em uma casa afastada seis quilômetros da sede do município.

A família foi resgatada na última sexta-feira (3), após denúncias de familiares e pessoas que moram próximas à casa — apesar do local ser afastado de outras residências. Elas estavam há cinco dias sem comer, de acordo com a mãe das crianças. A mãe da vítima (avó das crianças) revelou que o relacionamento abusivo já dura em torno de quatro anos. Luiz da Silva Gomes, 24, foi preso em flagrante.

"Ele mandava eu fazer as coisas pra ele, me batia, não deixava eu fazer nada. Eu nem pisava na casa da minha família. Eu falava que ia botar ela na escola, e ele falou que não era pra ela ir pra escola de jeito nenhum"

A vítima, que terá a identidade preservada, comentou que o companheiro proibia a filha de três anos de frequentar a escola. A vacinação da f mais nova está atrasada também porque elas raramente saiam de casa — e quando saíam, era para a casa da mãe de Luiz. "Ele mandava eu fazer as coisas pra ele, me batia, não deixava eu fazer nada. Eu nem pisava na casa da minha família. Eu falava que ia botar ela na escola, e ele falou que não era pra ela ir pra escola de jeito nenhum. Ela está matriculada, meu pai fez a matrícula dela e ele não deixava ela ir de jeito nenhum. Até as vacinas da menina, da 'novinha' está atrasada", revela a vítima.

Solidariedade

O cabo da Polícia Militar, Roniele Costa, revelou a situação crítica que se encontravam as vítimas quando a polícia adentrou o ambiente. "É uma situação triste, não tinha nenhum tempo de alimentação. A Polícia, já na delegacia, fez uma cota para a alimentação da criança. Essa criança de um ano nem leite tinha para beber", comenta o oficial. Na casa, apenas duas panelas foram encontradas, em uma tinha um pouco de café, e na outra, um resto de leite. Água não foi encontrada na casa. "A mulher estava muito debilitada, com os filhos e marcas de agressão. Ela contou que não tinha nenhuma possibilidade de ajuda. Os pais nem entravam no sítio por medo de ameaças", disse o PM

"Eu chegava lá e a menina pequena me pedia 'vovó, me dê água'. Aí eu ficava 'oxe, cadê a água?'. Aí ela (vítima) dizia 'mainha, não tem não. Aqui ele não bota água'"

Francisca Maria de Lima, mãe da vítima, revela que sabia do relacionamento abusivo e das agressões que a filha passava, mas tinha medo de fazer alguma coisa porque Luiz é muito agressivo. Ela relembra os raros momentos que conseguia entrar na casa. "Eu chegava lá e a menina pequena me pedia 'vovó, me dê água'. Aí eu ficava 'oxe, cadê a água?'. Aí ela (vítima) dizia 'mainha, não tem não. Aqui ele não bota água'", revela Francisca, confirmando que até água faltava na casa. 

O sargento Bento revela como os policiais encontraram a família. "A própria mãe da vítima foi à delegacia e prestou queixa que a filha dela estava sendo maltratada, apanhava e passava fome. E nos dirigimos até aqui, nesse sítio, e encontramos uma situação crítica. Realmente a mulher tinha marcas de agressões, e estava muito debilitada, com os filhos, sem ter o que comer, chorando muito”, comenta o policial.

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