Investigação de chacina aponta ação de policiais

82 pessoas foram ouvidas desde o dia 17 pelos investigadores, dentre elas, algumas das vítimas feridas

Escrito por Levi de Freitas - Repórter ,
Legenda: A presidente do inquérito, Adriana Câmara (centro), acompanhada das delegadas Reny Sales e Bianca de Oliveira, da Delegacia de Assuntos Internos (DAI), disse que a participação de policiais é cada vez mais evidente
Foto: FOTO: BRUNO GOMES

É cada vez mais evidente a participação de policiais no episódio conhecido como 'Chacina de Messejana', em que 11 pessoas foram mortas e outras quatro ficaram feridas, em Fortaleza, no mês passado. Ontem, em pronunciamento na Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD), a Delegacia de Assuntos Internos (DAI) afirmou que a tese de que os crimes foram cometidos por agentes públicos de segurança se fortalece a cada nova informação obtida.

As mortes, ocorridas na noite de 11 de novembro e madrugada de 12 de novembro, nos bairros Curió e São Miguel, na Grande Messejana, completa um mês amanhã. Conforme relatos de testemunhas, as vítimas eram tiradas de dentro das residências e executadas em via pública, nos becos que compõem as comunidades atacadas. Diante disso, a delegada titular da DAI, Adriana Câmara, ressaltou que objetivava "prestar contas com a sociedade", ao apresentar um breve balanço dos trabalhos feitos durante as investigações.

A presidente do inquérito, acompanhada das delegadas Reny Sales Filgueiras e Bianca de Oliveira Araújo, ambas também da DAI, afirmou que não poderia fornecer muitos detalhes das ações, uma vez que a investigação segue sob segredo de Justiça. Desta forma, as vagas informações serviriam como alento, apesar da "ansiedade de todos, sociedade e familiares das vítimas", segundo relatou a presidente do inquérito.

No entanto, Adriana Câmara relatou que ganhou força a hipótese de que as mortes e lesões corporais foram causadas por policiais. Conforme a investigadora, os relatos colhidos e as informações obtidas fizeram enfraquecer as outras duas teses levantadas, de retaliação pela morte do traficante Lindemberg Vieira Dias, assassinado também no dia 11, e a prisão de Carlos Alexandre Alberto da Silva, 38, o 'Castor'. A motivação dos autores da chacina seria em retaliação ao assassinato do soldado PM Valtemberg Charles Serpa, morto em tentativa de assalto na noite de 11 de novembro, no bairro Lagoa Redonda.

Adriana Câmara não citou nomes nem a quantidade de pessoas suspeitas. "Não temos nenhum número de policiais investigados, não existe. O que tiver, em relação a suspeitos, é especulação", garantiu. "O inquérito foi instaurado dia 12 de novembro na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Estamos com ele desde o dia 17. Sábado (amanhã) completa um mês e teremos a necessidade de encaminhar o procedimento ao Poder Judiciário para que retorne, por exigência legal", explicou Adriana Câmara.

Conforme ela, os investigadores já ouviram 82 pessoas desde o dia 17, dentre elas, algumas das vítimas feridas, resultando na apreensão de vários objetos, enviados para perícia. Alguns já retornaram, conforme a delegada, e estão sendo analisados.

"Também estão sendo analisadas imagens colhidas nos locais para comparação com os depoimentos que foram tomados. Solicitamos a colaboração no sentido de que as pessoas que, por ventura, sejam testemunhas, que mesmo de forma anônima queiram colaborar com as investigações, liguem para 181 ou compareçam à Controladoria", apontou. A presidente do inquérito ressaltou a dificuldade das apurações, enfatizando que é preciso refazer os passos dos suspeitos durante as execuções.

"É um crime de complexidade, pois temos multiplicidade de vítimas, multiplicidade de locais. Foi necessário e está sendo feito o estabelecimento de uma cronologia dos eventos, em razão das suspeitas recaírem sobre agentes públicos. Eventualmente, podem ter pessoas que não são agentes públicos", relatou.

Reunião

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou os antecedentes criminais das vítimas. Endossando o relato de moradores e familiares, apenas duas tinham passagem pela Polícia por delitos de "potencial leve". Ontem, o secretário da Segurança Delci Teixeira, o comandante da PM e o delegado geral da Polícia Civil estiveram reunidos com moradores do bairro Curió e com o secretário de Direitos Humanos de Fortaleza.

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