Guardiões do Estado compram cocaína do Cartel de Cali

A extração de dados dos celulares dos presos apontou a informação inédita para a Polícia de que uma rota internacional traz droga do Peru e da Bolívia para a GDE no Ceará, a mando de uma organização criminosa colombiana

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.br

A extração de dados dos aparelhos celulares dos líderes dos Guardiões do Estado (GDE), autorizada pela Justiça, também revelou a rota do tráfico internacional de drogas que traz cocaína pura para a facção, no Ceará. O fornecedor do entorpecente é o tradicional Cartel de Cali, da Colômbia.

A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) chegou até a organização criminosa colombiana a partir de uma conversa pelo WhatsApp entre dois membros da facção cearense. Um deles manda as fotografias do entorpecente recebido, com a marca d'água em alto relevo de um golfinho, característico do Cartel de Cali.

O contato do Cartel com a GDE é um homem identificado apenas como Oscar, que estaria preso. Ele está em um grupo do WhatsApp com três criminosos cearenses. A cocaína pura é extraída no Peru e na Bolívia, de onde são enviadas para território cearense e chegam por meio terrestre.

35 mil integrantes
Um dos líderes dos Guardiões do Estado, 'Barrinha' afirmou à Polícia que a facção tem, hoje, cerca de 35 mil membros e conseguiu se ramificar para os estados de Alagoas e Rio Grande do Norte

O Cartel de Cali viveu o auge na Colômbia entre 1994 e 1996, após a morte de Pablo Escobar. Os irmãos Gilberto e Míguel Rodríguez Orejuela, além de Pacho Herrera e Chepe Santacruz, comandavam a organização e se caracterizavam por agir com discrição. O Cartel começou a decair quando a cadeia tradicional de produção da cocaína foi desmantelada e surgiram novos grupos, menores, para entrar na disputa pelo tráfico de drogas.

A Draco e o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará, apuram quem são os participantes da rota internacional, como se dá o esquema criminoso por completo e qual o destino dessa droga.

O que os investigadores já sabem é que os Guardiões do Estado, sufocados no Ceará com a prisão de diversos líderes desde que aconteceu a Chacina das Cajazeiras, conseguiram se ramificar para o Rio Grande do Norte e para Alagoas, dois estados do Nordeste. A informação foi confirmada tanto por Francisco de Assis Fernandes da Silva, o 'Barrinha', como por Francisco Tiago Alves do Nascimento, o 'Magão', em depoimentos prestados à Polícia Civil quando foram presos.

Familiares

'Barrinha' revelou que a GDE tem hoje 35 mil faccionados, os quais têm de pagar uma "cebola" (mensalidade) no valor de R$ 50, recolhida pelo chefe de cada região no Estado, para ser repassada aos familiares dos presos que estão no Sistema Penitenciário Federal. Até o fim de 2018, integrantes da facção não eram obrigados a efetuar esse pagamento.

A organização criminosa nasceu de uma torcida organizada de futebol, no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, em 2015, e se caracterizou por virar uma espécie de "parceira" do Primeiro Comando da Capital (PCC) - de quem recebia a droga - e por arregimentar principalmente homens jovens.

Guerra

Em poucos anos, a facção conseguiu relevância no mundo do crime local e travou uma guerra sangrenta com o Comando Vermelho (CV) em todo o Estado, o que elevou os homicídios a números recordes em 2017, com mais de 5 mil mortes.

A violência acentuada continuou durante o ano de 2018, com a ocorrência de cinco chacinas, com o total de 39 mortes, no primeiro semestre. Duas matanças, que ficaram conhecidas como Chacina das Cajazeiras e Chacina do Benfica, foram atribuídas pela Polícia à GDE.