Droga transportada em veículos novos e expulsões de moradores; o esquema de tráfico na Sapiranga
A reportagem obteve documentos indicando que a 'Gangue da Piçarreira' foi responsável por intensificar o tráfico de drogas na região
A condenação de um homem acusado de homicídio revelou particularidades do esquema do tráfico de drogas na Sapiranga, em Fortaleza. Na última semana, Thiago Assunção Rodrigues foi condenado a 26 anos e 10 meses de reclusão, por organização criminosa e pela morte de Railson Ferreira Lima, vítima de uma emboscada organizada por Thiago e demais membros do bando, segundo a investigação.
Railson era membro da organização criminosa conhecida como 'Gangue da Piçarreira' ou 'Gangue do Thiago'. Quando saiu do bando, começou a ser ameaçado e perseguido. Atrelada à morte de Railson estão outras dezenas de crimes e vítimas do grupo, como moradores expulsos das próprias residências, para que as casas fossem utilizadas para o armazenamento de drogas.
Conforme documentos obtidos pela reportagem, há uma década, a 'Gangue da Piçarreira' foi responsável por intensificar o tráfico de drogas na região. A entrada dos entorpecentes acontecia por meio das ruas Guiomar Novaes e Rafael Tobias, sendo transportada por automóveis novos. A defesa nega participação de Thiago nos crimes.
EMBOSCADA "VAI SER SAL"
De acordo com denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), Railson Ferreira foi morto mediante uma emboscada, "tendo sido a vítima arremessada ao chão pela colisão ocorrida na motoneta que pilotava. Depois, sem esboçar reação de defesa, foi lesionada por disparos de arma de fogo".
O crime aconteceu em 27 de setembro de 2012, por volta das 15h30. Cinco homens teriam seguido Railson em um veículo Gol, cor preta. Quando automóvel e motocicleta colidiram, os disparos de arma de fogo foram efetuados.
Thiago teria sido o mandante do crime e "responsável por aterrorizar os moradores do bairro Sapiranga". Ele teria dito aos comparsas "vai ser sal", se referindo ao atentado contra Railson
"Muitos moradores da Rua Guiomar foram expulsos de suas residências para que os lugares fossem utilizados para atividades do citado bando. Os criminosos mantêm olheiros no local. Eles se posicionam em locais estratégicos e usam as residências invadidas como rota de fuga", conforme a acusação.
SENTENÇA
Além de Thiago, também foi acusado pelo assassinato Felipe Assunção Rodrigues. No entanto, Felipe foi inocentado. O irmão de Thiago alegou que não estava no local do crime e que não participava de facção. Consta na decisão proferida no último dia 1º que Felipe foi absolvido pelo homicídio, corrupção de menores e organização criminosa.
Thiago Assunção Rodrigues foi inocentado pelo tráfico de drogas e corrupção de menores, na decisão proferida na 5ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Fortaleza.
Ao réu foi concedido direito de recorrer em liberdade, já que ele responde ao processo solto.
A defesa de Thiago Assunção deu entrada em apelação da sentença requerendo a absolvição do acusado de todos os crimes pelos quais ele foi condenado. De acordo com a defesa, "o organograma feito pela polícia civil que foi infeliz, pois trata-se de uma calúnia a afirmação de crime imputada a alguém que não tem um único processo sobre tal afirmação, como é o caso do apelante e dos depois apontados em dito organograma, tamanha afronta só serviu para a acusação denegrir a imagem do apelante e do réu absolvido, seu irmão e réu nestes autos".
Na versão da defesa, o condenado não cometeu o homicídio, e estava se recuperando de uma tentativa de morte, naquela época "fazendo uso de imobilizadores de ferro, parafusos imobilizadores dos seus ossos, não tinha condições de estar dirigindo veículos ou mesmo matar uma pessoa.A acusação apontada contra o apelante é de uma ilusão infantil, pois não considera as condições e possíveis mobilidades do homem médio vítima de uma mesma localidade violenta, pois o apelante foi alvejado na mesma localidade que a vítima Railson, até o momento não foram presos os seus algozes".