Comunidade ameaçada por facção e disputa de território: O que está por trás da Chacina da Sapiranga

Seis pessoas foram assassinadas na madrugada do Natal. A reportagem apurou que moradores da região foram proibidos de receber e efetuar ligações após os homicídios

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
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Legenda: As vítimas estavam no campo e nos arredores quando foram surpreendidas por criminosos
Foto: Fabiane de Paula

Há dois dias moradores da Sapiranga presenciaram um confronto armado que deixou seis vítimas mortas e pelo menos outras cinco baleadas. A tragédia registrada no bairro, na madrugada do sábado (25) já era prevista por muitos, restava saber quem seriam as vítimas, os algozes e se os órgãos de Segurança Pública poderiam evitá-la. Em meio a uma disputa por território para tráfico de drogas protagonizada por homens que, até então, eram 'parceiros de crime', a chacina aconteceu.

A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso a documentos que apontam um homem conhecido como 'Etim' membro de uma facção de origem carioca ordenou a matança. 'Etim' teria "rasgado a camisa", como os faccionados denominam ato de traição ao grupo, e decidido tomar o território do Campo do Alecrim.

Ao lado de outro envolvido, identificado como Raí César Silva chegaram ao campo, que é conhecido também como Campo da Leda, em posse de armamento de grosso calibre, ameaçaram populares e seguraram aqueles que queriam assassinar.

"VAI MORRER, PILANTRA"

O principal alvo da ação era Israel da Silva Andrade. Conforme testemunhas, 'Rael' foi morto porque dominava a região da Sapiranga e precisava ser retirado do caminho por aqueles que estavam prestes a aderir a 'Massa' e formar outro grupo conhecido como 'Tropa da Fronteira' para traficar drogas no território.


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Consta nos documentos que o Diário do Nordeste obteve, a informação de testemunhas afirmando que ouviram os suspeitos dizer: "agora tu vai morrer, pilantra". O bando armado começou a rondar becos atirando e ameaçando os moradores que não integrassem a nova facção teriam que deixar o bairro, sob pena de serem executados na noite do Natal.

Quem são as vítimas:

  1. Ederlan Fausta, o Pebinha (alvejado três disparos)
  2. Mateus, conhecido como MT (alvejado com nove disparos)
  3. André Alexandre Rodrigues (alvejado com três disparos)
  4. Israel da Silva Andrade (alvejado com 14 disparos)
  5.  identidade não informada
  6. identidade não informada

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Legenda: A chacina aconteceu após o bando decidir tomar o território do Campo do Alecrim, na Sapiranga
Foto: Fabiane de Paula

 

PROIBIDO TELEFONAR

Logo após as mortes e com a comunidade ainda em pânico, criminosos teriam invadido casas de moradores, tomado celulares e avisado que todos do bairro estavam proibidos de efetuar ou receber ligação telefônica. Com a informação da chacina, a Polícia Militar foi deslocada ao local e todos os órgãos operacionais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) passaram a investigar o fato.

Foi por meio de um sinal de tornozeleira eletrônica que os agentes começaram a localizar os envolvidos.

Em consulta ao sistema de monitoramento eletrônico, a Polícia reconheceu que um homem tornozelado estava no Campo do Alecrim no exato momento das mortes e minutos depois o sinal do GPS foi desativado.

Chegando ao local indicado, os policiais encontraram um terreno e viram que homens começaram a correr entrando em diversas casas.

Ao mesmo tempo que corriam, jogavam armas de fogo e celulares nos telhados de residências. Instantes depois localizaram Alessandro Vieira da Silva, a pessoa que usava a tornozeleira devido ao crime de tráfico de drogas, e também outros suspeitos.

Até esse domingo (26), 10 pessoas já tinham sido capturadas, conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Conforme os documentos obtidos pela reportagem, além de Alessandro, também foram presos: Antônio Gabriel Sousa da Silva, Gabriel Sousa Freitas, Charles Dantas Oliveira, Mateus Acelino da Silva, Thiago Farias de Lima e Mateus Aguiar de Sousa.


VERSÕES

Já na delegacia, os detidos negaram ter participado da Chacina da Sapiranga. Charles disse aos policiais que estava no campo em companhia da namorada, que não pertence a facção e que não teve envolvimento com a ação. Já Alessandro afirmou que só teve conhecimento da matança quando ouviu os tiros, e que a tornozeleira descarregou a bateria.

Gabriel Sousa e Mateus Acelino afirmaram que "fumavam um bagulho", mas não são faccionados. Gabriel disse que sequer anda no campo, mas em uma praça no entorno. Thiago teria dito aos investigadores que estava em casa com a família e desconhece os outros presos.

Mateus Aguiar não chegou a ser ouvido até esse domingo (26), porque foi ferido em confronto com a Polícia ao resistir a prisão e segue internado no Instituto Doutor José Frota (IJF). Foram apreendidas até o momento seis pistolas e dois equipamentos que são utilizados para transformar pistolas em rifles.

Para a Polícia Civil, apesar das afirmações dos suspeitos que tentam se desvincular do crime, a investigação indica que todos eles estavam na condição de "em cima do muro" em relação a trocar de facção e teriam participado das mortes em série.

Nesse domingo (26), dia seguinte aos homicídios, a Sapiranga teve um novo tiroteio e intensa movimentação de viaturas da Polícia e presença de aeronave da Ciopaer. Uma pessoa foi presa com uma pistola, mas não há confirmação se ela tem ligação com a chacina. A investigação sobre o fato permanece em andamento. 

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