De grupo de extermínio ao comércio ilegal de arma de fogo: grupo de policiais é investigado no Ceará

O relatório técnico foi feito a partir de uma análise da extração de dados de aparelhos celulares do policial penal que seria o líder do esquema

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
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Legenda: A CGD informou que o processo administrativo disciplinar, instaurado para apurar o caso do policial penal, encontra-se em fase de instrução processual

Um grupo composto por, pelo menos, dois policiais penais e três policiais militares é investigado no Ceará sob suspeita de comercializar ilegalmente armas de fogo e montar um grupo de extermínio. A informação foi apurada com exclusividade pelo Diário do Nordeste, que teve acesso a um documento onde constam detalhes de como os agentes agiram.

O relatório técnico foi feito a partir de uma análise da extração de dados de aparelhos celulares do policial penal que seria o líder do esquema. O documento é assinado pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI) da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) e foi enviado ao Judiciário no último dia 8 de novembro. Os nomes dos agentes serão preservados nesta matéria, por a investigação seguir em andamento.

Por nota, a CGD informou que o processo administrativo disciplinar, instaurado para apurar o caso do policial penal, encontra-se em fase de instrução processual. Já o inquérito policial, instaurado pela Delegacia de Assuntos Internos, foi encaminhado à Justiça.

SUSPEITAS

O policial penal apontado como líder do esquema teve o celular apreendido quando foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por facilitar a entrada de celulares e fuga de presos em um presídio na Região Metropolitana.

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A partir da análise do aparelho, a DAI concluiu que é possível acreditar que ele esteja envolvido em um grupo de extermínio com outros agentes da Segurança Pública do Ceará, no porte ilegal de arma de fogo e no comércio ilegal de armas.

Conversas entre o servidor e demais policiais indicaram a existência de uma organização criminosa.

Em uma das conversas, o policial penal teria chamado um colega para montar um grupo de extermínio e disse que poderia fornecer as armas, porque já tem três pistolas. O suspeito falou em um grupo de Whatsapp que sairia em comboio junto a agentes da Segurança Pública "todos à paisana para derrubar uns tan" (sic).

Na conversa eles falam terem sabido que criminosos estão recebendo dinheiro em troca de matar policiais e que querem vingança. A época destas mortes coincide com o período em que policiais militares protagonizaram um motim no Ceará, em fevereiro de 2020.

Em outra conversa interceptada, o agente diz que uma facção prepara uma festa para comemorar a morte de um cabo da PM. Outro policial diz que seria uma boa oportunidade para matar os integrantes da facção e por a culpa no grupo rival.

VENDAS DE ARMAS

O policial penal também foi flagrado negociando armas nas redes sociais. Ele os demais tinham costume de negociar pistolas, chamando os itens de 'cabritos' e até mesmo dizendo terem formas de agilizar o processo de transferência de posse das armas de fogo.

O comércio ilegal das armas era intermediado em grupos de Whatsapp
Legenda: O comércio ilegal das armas era intermediado em grupos de Whatsapp
Foto: Reprodução

As armas variam de R$ 3 a R$ 6 mil e vinham, principalmente, das apreensões feitas por policiais militares participantes do esquema.

Em uma das conversas, o investigado sugere que pode conseguir balaclavas para que eles invadam favelas e tomar "todos os cabritos de lá". Já em outra ocasião, ele é procurado por agentes querendo negociar armas, sob justificativa de precisarem recuperar o dinheiro perdido em apostas esportivas.

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