Comoção no enterro do PM
Dor e revolta eram os sentimentos mais fortes ontem, na ocasião do sepultamento do soldado morto por assaltantes
Sob forte emoção e em clima de profundo pesar e inconformismo, foi sepultado ontem, no final da manhã, no Cemitério São João Batista, em Fortaleza, o corpo do policial militar Carlos Henrique de Carvalho Lima, de 24 anos. Integrante do ´Ronda do Quarteirão´, o PM foi morto por volta da 13h30 da última segunda-feira, 31, em uma tentativa de assalto na Rua Professor Wilson Aguiar, bairro Edson Queiroz.
O soldado Carvalho é a primeira ´baixa´ do ´Ronda do Quarteirão´, programa de segurança implantado há pouco mais de um mês pelo Governo do Estado. Fardado, o policial estava sozinho e seguia para a Academia de Polícia Edgar Facó, na Avenida Washington Soares, onde entraria de serviço. Ele dirigia o Gol cinza de placas HYI 3612-CE.
Pedra
Ao passar em seu carro pela Rua Professor Wilson Aguiar, num local ermo, próximo a um matagal, o soldado Carvalho foi abordado por três assaltantes. Os bandidos atiraram uma pedra que atingiu o capô do veículo. Segundo a Polícia, o PM parou o carro e neste momento os bandidos se aproximaram de arma em punho.
Ao perceberem que o motorista era um policial, dispararam um tiro. O soldado foi atingido na cabeça e morreu na hora. Antes de atingir o PM, a bala transfixou o vidro da porta esquerda do veículo e perfurou a boina que o soldado estava usando. No local do crime, a cena deixou bastante consternados os colegas de farda.
OPINIÃO
´Matar não é a solução para problemas sociais´
Roberto Monteiro (titular SSPDS)
´Ele é o primeiro mártir na luta para alcançarmos um Estado de paz´. Assim se pronunciou o secretário de Segurança do Estado, Roberto Monteiro, sobre a morte do soldado Carvalho.
O secretário solidarizou-se com a dor da família enlutada e afirmou que o programa seguirá adiante e atingirá o objetivo de estabelecer a cultura da paz. ´Não é matando que se tem a solução dos problemas sociais´, avaliou.
PRISÃO
Polícia captura dois acusados do crime
Após o crime, os bandidos fugiram em direção a um matagal. Rapidamente, a área foi cercada. O helicóptero do Ciopaer fez buscas pelo matagal, onde a Polícia acreditava que os assaltantes poderiam estar escondidos.
Era final da tarde de segunda-feira (31) quando foi preso, no bairro Edson Queiroz, José Erinaldo Sabino, 20 anos, sob suspeita de ter atirado no policial. Ele está preso no 2º DP (Aldeota). Erinaldo já responde por dois assaltos, formação de quadrilha e homicídio. Na delegacia, foi autuado em flagrante por latrocínio.
O adolescente F.A.A.S., de 17 anos, mais conhecido como ´Marcondes´, foi apreendido em seguida à prisão de Erinaldo e levado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). Outro suspeito de participar do latrocínio foi identificado. Trata-se de Antônio Benedito, de 20 anos, conhecido como ´Cara de Ônibus´. Ele continua foragido e está sendo procurado pela Polícia.
Erinaldo Sabino negou participação no crime e atribuía ao adolescente a autoria do disparo contra o PM. ´Eu nem estava com eles na hora do crime´, afirmava. Segundo o delegado Franco Pinheiro, que esteve de plantão ontem no 2º DP, foi pedido o exame residuográfico nos dois suspeitos para confirmar quem fez o disparo contra o policial. O resultado deve sair até o final desta semana.
DEDICAÇÃO
Policial fazia faculdade de Direito e Letras
O soldado Carlos Henrique de Carvalho Lima tinha se formado na última turma de policiais do ´Ronda do Quarteirão´ e só estava nas ruas há duas semanas, atuando em área no bairro Edson Queiroz. Filho do casal João Henrique da Fonseca Lima e Zildene Carvalho Lima, com quem residia na Parquelândia, o soldado deixou uma filha de 10 meses.
Carlos Henrique de Carvalho Lima estudava Direito e Letras e se formaria em julho próximo. Mas, segundo a mãe, Dona Zildene, sempre teve o sonho de ser policial. ´O sonho virou realidade, mas durou pouco´.
Durante todo o rito funerário, colegas PMs próximo do soldado assassinado se mantiveram junto ao caixão, coberto em parte por uma bandeira do Ceará, seu clube de coração. Eles prestaram homenagem cantando o hino da tropa. Alguns deram depoimentos sobre a personalidade do colega.
O governador Cid Gomes foi representado pelo secretário de Segurança Pública, Roberto Monteiro. Também estiveram presentes o comandante geral da Polícia Militar, coronel William Alves Rocha, e o coordenador do Ronda do Quarteirão, coronel Túlio Studart.
O assassinato do soldado Carlos Henrique deixou os colegas do ´Ronda do Quarteirão´ profundamente abalados. Neste sentido, o chefe da seção de Relações Públicas da PM, major Marcus Costa, informou que os policiais do programa passarão por acompanhamento psicológico. A família também receberá assistência da PM.
Fernando Brito
Especial para Polícia