Veja quais cidades do Ceará têm as menores taxas de mortalidade por Covid-19
Fator em comum entre esses municípios está o baixo número de habitantes, o que facilita a adoção e aplicação de medidas para conter a pandemia.
Desde o início da pandemia, em março do ano passado, apenas seis cidades cearenses apresentaram taxa de mortalidade por Covid-19 abaixo de 100: Potengi, Aiuaba, Guaramiranga, Pires Ferreira, Granjeiro e Catarina. De forma proporcional à população, isto é, número de mortes em relação a quantidade de habitantes, estes são os municípios com menos óbitos por decorrência do vírus SARS-Cov-2 no Ceará.
Potengi tem a menor taxa. A cidade de 10.651 habitantes registrou seis mortes, o que representa taxa de mortalidade em 54,3. A taxa de mortalidade é uma métrica utilizada para analisar o impacto da pandemia em toda a população de uma determinada cidade ou região.
O índice é calculado através do número de pessoas que morrem por uma causa específica - neste caso, a Covid-19 - dividido pelo número total da população.
A segunda menor taxa de mortalidade do Ceará é observada em Aiuaba, cidade de 17.493 habitantes. O Município tem 11 mortes e taxa em 63,2. Em seguida, aparece Pires Ferreira. Com população pouco superior a 10 mil e sete mortes, a taxa de mortalidade é de 63,9.
Guaramiranga tem a quarta menor taxa (77). São quatro óbitos e 3.909 habitantes. O município de Granjeiro aparece logo em seguida. São também quatro mortes, mas para uma população de 4.626, o que representa taxa de mortalidade em 82,6.
Catarina tem a sexta menor taxa do Ceará (87), com 18 óbitos por decorrência da Covid-19 para uma população de 18.745.
Números absolutos
De forma absoluta, isto é, excluindo qualquer cálculo comparativo com o número de habitantes, as cinco cidades com menor número de mortes por decorrência da Covid-19 são Granjeiro (4), Guaramiranga (4), Potengi (6), Pires Ferreira (7) e Potiretama (8). Elas são as únicas que tiveram menos de 10 mortes dentre todas as 184 cidades do Estado.
Apesar dos baixos números, a virologista, epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, alerta que os índices pandêmicos não podem ser observados de forma isolada e sugere atenção à análise.
"Quando se tem muitos casos, há mais mortes. É natural. Mas, é preciso observar a prevalência dos habitantes. Uma cidade com mais jovens saudáveis tende a ter menos óbitos quando comparado a um município com uma população mais velha, pois os mais vulneráveis seguem sendo os idosos", explica.
Segundo a especialista, quando se avalia apenas os dados, de forma "fria e isolada" pode existir uma falsa sensação de controle pandêmico e, consequentemente, desencadear relaxamento nas medidas.
"Uma taxa de mortalidade abaixo de 100 ainda é alta quando se comparada a outras doenças virais. É preciso termos consciência de que, apesar de parecerem números baixos, a pandemia segue. Tudo pode mudar, ainda mais com o surgimento de novas variantes", detalha Gurgel.
Conjunto de ações
Fator em comum entre essas cidades está o baixo número de habitantes, o que facilita a adoção e aplicação de medidas para conter a pandemia. Contudo, advertem especialistas, apenas o fato de uma cidade ter poucos habitantes não é garantia de baixa mortalidade.
É preciso estratégias adequadas como vacinação, testagem em massa e identificação dos casos positivos no início dos sintomas, para que se reduza a possibilidade de transmissão e se tenha maior chance de êxito na recuperação do infectado.
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Atualmente, o Ceará já aplicou a segunda dose (D2) em 89,31% do público vacinável - cearenses acima dos 12 anos. Das seis cidades com menor taxa de mortalidade, a metade está com índice superior à média estadual e Potengi (85,39%) se aproxima desta porcentagem.
Os dados foram extraídos às 10h27 desta quarta-feira (22) da plataforma Vacinômetro, mantido e alimentado com dados da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado.
Porcentagem da população vacinável imunizada com a segunda dose:
- Catarina - 66,33%
- Guaramiranga - 77,66%
- Potengi - 85,39%
- Granjeiro - 95,91%
- Pires Ferreira - 96,69%
- Aiuaba - 108,65%
Para Caroline Gurgel esse índice - acima dos 80% - é considerado "excelente". "Só vamos conseguir vencer a pandemia com o rápido avanço da imunização. Chegar a uma taxa superior a 80% de aplicação da D2 e com tendência diária de crescimento é muito importante", considera.
A cidade de Catarina é a que está com índice de aplicação da D2 mais baixa e, Guaramiranga, se aproxima de percentual de 80%. "A gente trabalha com um corte de 80% da população vacinada para atingir a imunização de rebanho. Mas vale ressaltar a importância da vacinação uniforme, ou seja, sem que existam bolhas, cidades com índices bem abaixo", destacou o professor e infectologista Ivo Castelo Branco.
Quando essas bolhas forem identificadas, complementa Gurgel, "cabe aos gestores traçarem estratégias para solucionar esse problema. Seja com busca ativa, indo aplicar a vacina na residência, realizando campanhas, mutirões ou outras estratégias, mas é preciso realizar uma vacinação uniforme".
Além da imunização, acrescenta Caroline, é importante a manutenção de medidas não farmacológicas, como o uso de máscara. "Diante de novas variantes, como a Ômicron, que ainda não se sabe seu real impacto, é preciso manter os cuidados", conclui.
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Estratégias adotadas
O Diário do Nordeste tentou contato com as seis cidades que apresentam as menores taxas de mortalidade da Covid-19. Em Potengi, na região do Cariri, a secretária da Saúde do Município, Luiza Wlliane Alves Nogueira, destaca dentre as ações, a capacitação de equipes do Hospital Municipal "para alcançarmos um melhor manejo dos pacientes infectados pela Covid-19".
Ela pontua ainda a importância do trabalho de conscientização junto à população; a realização de barreiras sanitárias que resultaram, segundo a gestora, na redução dos casos; e a intensa fiscalização para o cumprimento do distanciamento social e uso de máscaras.
"O trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde indo de casa a casa reforçando as medidas de segurança e distribuindo máscaras foi fundamental", disse Luiza Wlliane. Quanto ao processo de vacinação, ela destaca a descentralização da vacina como trunfo para alcançar o maior número de pessoas.
"Nós descentralizamos a vacinação da Secretaria da Saúde, enviamos para os PSFs, onde todas as enfermeiras tiveram um papel fundamental para que a vacina chegasse de modo mais rápido para as pessoas. Além disso, realizamos mutirões semanais", conclui.
Na cidade de Aiuaba, a titular da secretaria da Saúde, Maria Lindalva Andrade Moraes, observa que "a diminuição da taxa de mortalidade é reflexo de várias ações que vêm sendo realizadas no município, bem como o avanço da vacinação".
Dentre as ações, ela destaca o incentivo e fiscalização ao uso de máscaras e distanciamento social. Para o processo de imunização, também houve descentralização nos pontos de aplicação da vacina contra Covid-19 e "busca ativa dos faltosos", o que culminou no aumento do índice da cobertura vacinal com a segunda dose.
"A Covid ainda está presente no Município, porém apresentando-se de forma leve e sem necessidade de internação até o momento. Mas, é preciso sim manter os cuidados", conclui.
A reportagem não conseguiu contato com as demais prefeituras.