Juazeiro do Norte completa 109 anos em meio ao desafio de conter o coronavírus; participe do Quiz

A cidade é hoje o epicentro da Covid-19 com mais de 8.600 casos. A doença impediu a realização das romarias, principal força motriz da cidade

Escrito por Antonio Rodrigues , regiao@svm.com.br
Legenda: Hoje o principal desafio da cidade é conter o rápido avanço do novo coronavírus
Foto: Kid Jr.

A maior cidade do interior cearense completa nesta quarta-feira (22) 109 anos de emancipação política. A data marca um período desafiador para Juazeiro do Norte, o de conter o coronavírus e retomar a tradição das romarias. O Município é hoje o atual centro da pandemia da Covid-19 no Ceará.  

Com 8.697 casos confirmados da doença, o momento vivido é de pouca comemoração e de muitas incertezas. A primeira romaria, de morte do Padre Cícero, aconteceu em formato virtual e a Igreja imagina que as próximas serão da mesma forma. 

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“Somos conscientes que o número de casos aumenta a cada dia e enquanto não houver uma vacina que garanta a junção de pessoas, sem provocar contaminação, não teremos possibilidade de acolher nossos romeiros e turistas que nos visitam”, antecipa Padre Cícero José, pároco da Basílica de Nossa Senhora das Dores. 

A Secretaria de Turismo e Romaria de Juazeiro do Norte (Setur) também já trabalha com a possibilidade de não ter os eventos religiosos neste ano. Mesmo assim, há dois meses se reúne com a Secretaria da Saúde do Município e a Igreja buscando planejar um futuro retorno.

“Quando fala de retorno, não falamos de agora. Mas é importante ter um planejamento. Se que é cedo, mas a gente busca trabalhar de forma organizada, já com todos os protocolos definidos, para que cada ator cumpra seu papel”, enfatiza o titular de Pasta, Júnior Feitosa.  

Sem as grandes romarias, R$ 500 milhões devem deixar de circular na cidade que viu, no turismo religioso, o grande impulsionar da economia da cidade. 

História

Antes daquele dia 22 de julho de 1911, Juazeiro do Norte teve outros movimentos emancipacionistas, mas que fracassaram. O primeiro aconteceu em 1907. Na época, o distrito era formado por dois grupos: os naturais da terra, e os adventícios, romeiros que fixaram moradia no povoado. E logo se tornaram rivais.  

Isso aconteceu, primeiro, pela questão religiosa, pois, quando Roma condenou o milagre da hóstia que teria se dissolvida em sangue na boca da beata Maria de Araújo, os ricos fazendeiros naturais da terra passaram a descrer no evento. Segundo pois os comerciantes de fora eram mais bem-sucedidos que os nascidos em Juazeiro.

O major João Bezerra de Meneses, fazendeiro e descendente da família de Juazeiro do Norte, convocou o movimento pela separação de Crato, mas o conflito entre os grupos, acabou não tendo tanta adesão. O jornalista Cícero Dantas, que pesquisou a disputa simbólica dos jornais “O Rebate”, de Juazeiro do Norte, e “Correio do Cariry”, de Crato, no período que antecedeu a emancipação, conta que apenas em 1909, com participação do Padre Cícero na campanha, a campanha emancipacionista ganhou outro status.

“Uniu os dois Juazeiros em prol de sua independência”, garante. 
 

Considerado o primeiro jornal de Juazeiro, “O Rebate”, fundado em 18 de junho de 1909, surge como um marco civilizatório, que alavancaria o nível social da população juazeirense. Um símbolo de progresso. No periódico, a Terra do Padre Cícero se apresentava como um lugar moderno, civilizado e divulgava seu desenvolvimento econômico, como as construções de escolas, mercado e iluminação pública.  

“Eu considero que ‘O Rebate’ acelerou a emancipação. Antônio Luiz, prefeito do Crato na época, não tinha a menor intenção de conceder a independência de Juazeiro. Tanto é que negou o projeto por duas vezes na Assembleia Legislativa do Estado nos anos de 1909 e 1911”, narra Cícero Dantas.  

Pouco antes da emancipação, houve um boicote econômico ao Crato: juazeirenses deixaram de trabalhar, visitar a cidade e negar o pagamento de impostos. 

“A emancipação de Juazeiro traria prejuízos à cidade do Crato, perdendo terras e uma boa fonte de impostos que ajudava no progresso da cidade”, acredita o jornalista.  

No dia 30 de agosto de 1910, houve um manifesto em Juazeiro, logo após Antônio Luiz negar, pela segunda vez, a elevação do distrito a vila independente. Mais de 15 mil pessoas foram as ruas em protesto, ou seja, mais da metade da população que, na época, era 25 mil pessoas. No dia 22 de julho de 1911, quase um ano depois, a emancipação é concedida.  

Crescimento

Com as raízes fincadas na religiosidade, a cidade se desenvolveu e atingiu o status de maior município do interior cearenses. De acordo com estimativa do IBGE, Juazeiro do Norte conta com pouco mais de 274 mil habitantes. 

A economia se ramificou. Além do turismo religioso, que ainda movimenta milhões por ano, a cidade ganhou força na indústria e, na última década, o ensino superior na cidade prosperou. Hoje Juazeiro conta com duas universidades públicas federais: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e Universidade Federal do Cariri (UFCA).