Incidência da Covid no Ceará é 'extremamente alta' e transmissão comunitária continua, diz Fiocruz
Estado apresentou melhora nas taxas, mas ainda é o segundo do Nordeste em taxas de mortes pela doença
O Ceará e outras 19 unidades federativas apresentam alta incidência de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG), segundo revelou o boletim "Observatório Covid-19", da Fiocruz. Os casos de SRAG atualmente no País são predominantemente por infecção do vírus Sars-CoV-2 e são casos graves (hospitalização e/ou óbito).
O estado cearense teve, entre os dias 30 de maio a 12 de junho - semanas epidemiológicas 22 e 23 - taxa superior a 10 casos para 100 mil habitantes, o que é considerado, pela Fundação, "extremamente alta". O número significa que ainda há transmissão comunitária da Covid-19, aquela que não é possível rastrear a origem da infecção.
Dentre os noves estados nordestinos, o Ceará, com taxa de incidência 11,8, ocupa a sexta posição, abaixo do Piauí (11,7), Maranhão (9,9) e Bahia (7,9). O médico Carlile Lavor, coordenador da Fiocruz Ceará, explica que a taxa de incidência é importante para mensurar a intensidade com que acontece uma doença numa população.
"É o número de casos novos da doença que iniciaram no mesmo local em um determinado período de tempo. Ela mede a frequência ou probabilidade de ocorrência de casos novos de doença na população". Quando há alta incidência, acrescenta o especialista, significa elevado risco coletivo de infecção.
Apesar deste número que inspira atenção, a taxa cearense aponta para curva decrescente. Somente Maranhão e Alagoas possuem curva acedente nas taxas.
Cenário de alerta
Já quando observado a incidência de óbitos, a taxa do Estado é a segunda maior do nordeste, ao lado da Paraíba, com 0,8, e atrás apenas de Sergipe (1,0). A incidência no Ceará vinha em queda e agora está em estabilidade.
- Maranhão - 0,4
- Alagoas e Bahia - 0,06
- Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí - 0,7
- Ceará e Paraíba - 0,8
- Sergipe - 1,0
Os valores elevados de letalidade revelam falhas no sistema de atenção e vigilância em saúde nesses estados, como a insuficiência de testes, diagnóstico de triagem de infectados e seus contatos, e identificação de grupos vulneráveis, bem como a incapacidade de identificar e tratar adequadamente os casos graves de Covid-19.
A taxa de casos também é de alerta no Ceará. Com 36,4, é a terceira maior do nordeste, atrás apenas da Paraíba (36,4) e Sergipe (55,5). Maranhão é o estado nordestino com menor taxa (10,9).
Carlile reconhece que alguns indicadores tiveram sensível melhora, mas adverte que o momento ainda é de preocupação. "A redução [indicadores] é inerente a uma pandemia. Vimos isso no ano passado e logo depois tivemos a segunda onda. Então temos que ficar vigilantes, pois há, sim, risco de uma nova onda".
O coordenador da Fiocruz, no Ceará, exprime preocupação particular com as cidades interioranas. Segundo ele, em diversas localidades o descumprimento dos decretos pode implicar em sérios problemas em um futuro breve.
Redução na demanda
O Ceará está entre os dez estados que apresentaram, entre os dias 7 e 14 de junho, queda de pelo menos cinco pontos percentuais nas taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS. A maior redução foi em Rondônia (62% para 57%), seguida por Pará (78% para 71%).
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Ceará caiu de 93% para 88%. A Fiocruz reforça, entretanto, que os números são referentes ao período analisado. Hoje, conforme o IntegraSus, plataforma oficial da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado, a taxa de ocupação está em 83,95%, melhor índice desde janeiro deste ano.
Amapá (68% para 63%), Piauí (88% para 83%), Rio Grande do Norte (94% para 89%), Paraíba (80% para 73%), Rio de Janeiro (81% para 71%), Mato Grosso do Sul (107% para 91%) e Goiás (90% para 85%) completam a lista.
Como a ocupação de leitos em geral permanece alta, são necessárias ações para redução de novos casos em prazo mais longo.
Queda na faixa etária
O boletim da Fiocruz apontou ainda que pela primeira vez, que a mediana das mortes também desceu abaixo de 60 anos. "Isto significa que mais da metade dos casos internados, casos internados em terapia intensiva e óbitos ocorrem no Brasil não em idosos, e sim em adultos jovens e maduros (20 a 59 anos)".
No Ceará, os óbitos entre pessoas acima dos 60 anos ainda supera total de mortes de faixa etária inferior. Contudo, quando observado isolamento das infecções, o Estado apresenta rejuvenescimento da pandemia, com casos concentrados entre 20 a 50 anos.
Há deslocamento da curva em direção a faixas etárias mais jovens. Na análise atual podemos observar ainda um estreitamento da curva de casos e um alargamento da curva dos óbitos. Isto sugere que podemos estar entrando em uma fase de compressão da morbimortalidade.
Manutenção dos protocolos de segurança
Com a ainda alta transmissão viral e o esquema de vacinação avançando com limitações, especialistas recomendam a manutenção das medidas de segurança, como uso de máscara e distanciamento social.
"A vacinação é lenta. Precisamos aplicar as duas doses para garantir uma maior eficiência do imunizante e isso tem caminhando a passos lentos. Somente com a vacinação em massa poderemos controlar a pandemia", avalia Carlile.
Com a imunização ainda incipiente, o médio adverte ser preciso "não aglomerar e usar máscara, mesmo para aqueles que já se vacinaram".
A Fiocruz reforça que "evidências de estudos demonstram que o uso de máscara, quando adotado amplamente pela sociedade, é uma intervenção não-farmacológica eficaz não apenas para reduzir a propagação da infecção, evitando que pessoas infectadas transmitam o vírus, mas também como proteção, reduzindo a exposição ao vírus de pessoas não infectadas".
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A Fundação Owsvaldo Cruz acrescenta ainda que "quando máscaras são utilizadas em larga escala social, com 80% ou mais da população usando, modelagens indicam que há uma redução muito acentuada da transmissão. Se somente 50% da população utilizar máscaras a redução será mínima".
As máscaras protegem todos, pois evitam que pessoas infectadas exponham outras ao Sars-CoV-2, bloqueando a saída de gotículas contendo vírus no ar (denominado controle de origem) e, além disso, protegem os não infectados, formando uma barreira para grandes gotículas respiratórias.
O boletim da Fiocruz conclui que "sem ter pelo menos 75% da população vacinada, em um contexto de maior segurança para todos, ainda é muito precoce para não tornar mais obrigatório o uso de máscaras".