História revivida do Caldeirão

Escrito por Redação ,
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Para marcar os 71 anos de destruição do Sítio Caldeirão, acontece hoje a Romaria das Comunidades

Crato. A Diocese do Crato celebra, hoje, os 71 anos de destruição do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, uma comunidade religiosa, liderada pelo beato José Lourenço, que começou a ser formada na década de 20, na Baixa Danta, município do Crato e, depois, foi transferida para o Sítio Caldeirão, a cerca de 25 quilômetros da sede do município. A tragédia aconteceu mesmo no dia 11 de setembro de 1937, porém, em virtude das comemorações da padroeira Nossa Senhora das Dores, a Romaria das Comunidades no Sítio Caldeirão foi transferida para hoje.

O Caldeirão foi destruído no dia 11 de maio de 1936, quando cerca de dois mil sertanejos foram expulsos do Sítio. Naquela oportunidade, não morreu ninguém. “A Polícia acabou com tudo, mas, felizmente, nós estamos aqui para contar a história”, lembra o agricultor Antônio Inácio da Silva, residente no Sítio Ramada, Serra do Araripe, um dos poucos remanescentes da comunidade.

Ali sim, a Polícia deixou um rastro de sangue, incêndios e destruição de casas, espancamento de crianças, mulheres e velhos, além de saques, conforme recorda Inácio, acrescentando que houve luta corporal de populares usando facões, ferrões e cacetes contra soldados da Polícia bem protegidos.

Os historiadores dizem que foram mais de 300 corpos de trabalhadores rurais estendidos, numa das maiores resistências das populações camponesas nordestinas contra os proprietários rurais latifundiários da época.

O exemplo de luta, o modelo de organização, o sentido comunitário e a partilha são lembrados pela Igreja Católica que, neste ano, promove a 9º Romaria das Comunidades, com a celebração de uma missa, às 7h30 de hoje, na capela de Santo Inácio de Loyola, construída pelo beato José Lourenço.

Celeiro agrícola

A romaria tem como finalidade mostrar que o nordestino, mesmo em condições inóspitas, como no Caldeirão, tem condições de conviver com a seca. A comunidade, sob o comando do beato José Lourenço, transformou uma área acidentada, distante da cidade, num celeiro agrícola.

O beato e seus seguidores construíram barragens, açudes, instalaram oficinas de ferreiro, teares, engenhos de rapadura e casa de farinha. A comunidade tornou-se independente e ainda se dava ao luxo de fornecer mão-de-obra para os proprietários rurais da região. “Não circulava dinheiro e sobrava comida para todos”, lembra o remanescente Antônio Inácio. Foi justamente este poder de organização que assombrou a elite política e religiosa da época. “A comunidade do Caldeirão era uma ameaça a ordem política e social”.

Hoje, a Igreja Católica tem outra visão. A Romaria é a reafirmação da vida, promovida pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEB), em suas organizações comunitárias, propondo alternativas camponesas na convivência com o semi-árido.

Os organizadores do evento definem a romaria como um grito que se constitui numa mobilização no sentido de denunciar o modelo político e econômico do agronegócio que, além de agredir a natureza, concentra riqueza, renda e condena milhões de pessoas à exclusão social. “A romaria das comunidades é a caminhada de um povo que sonha, grita e luta pelo bem, onde todos se unem com grande animação, na defesa do projeto dos pequenos, tendo como exemplo o povo do Caldeirão”, destacam.

ANTÔNIO VICELMO
Repórter


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SAIBA MAIS

Socialista

Um dos seguidores de Padre Cícero, beato José Lourenço, fundou a comunidade do Caldeirão, em uma terra doada por Padre Cícero. Essa Comunidade, organizada em modelos socialistas, atraiu o ódio das forças conservadoras. Os grandes proprietários de terra reclamavam da falta de mão-de-obra no Cariri, pois muitos trabalhadores rurais foram viver na Comunidade do Caldeirão. O Brasil vivia o Estado Novo, e Getúlio Vargas era o ditador. A Comunidade passou a ser vista como um embrião do comunismo.

Destruição

Quando os militares invadem a comunidade, os seguidores do beato não reagem, pois não estavam armados. Caldeirão é destruída e os camponeses expulsos. O beato conseguiu fugir de Caldeirão, fundou mais tarde nova comunidade na serra do Araripe. Novamente a comunidade é destruída.