Preço da lagosta sobe e setor já projeta retomada de crescimento

A pandemia causou impacto no valor de comercialização do crustáceo que, em junho, chegou a ser vendido por R$ 20 no mercado interno. Em julho, o kg passou para R$ 50. A projeção, agora, é que a exportação volte a crescer no CE

Escrito por Redação , regiao@svm.com.br
Legenda: As pequenas embarcações de pescadores artesanais respondem por 20% da produção do crustáceo no litoral cearense
Foto: NATINHO RODRIGUES

Após uma abrupta queda no preço da lagosta no Ceará, que teve o quilo comercializado no mercado interno a R$ 20 em junho, devido à baixa demanda acarretada pelo fechamento de hotéis e restaurantes durante a pandemia do novo coronavírus, o mercado do crustáceo já dá sinais de recuperação. O valor do kg saltou para R$ 50. Já a lagosta sem a cauda, que era vendida por R$ 60, agora é comercializada entre R$ 100 e R$ 110. A projeção, segundo o Sindicato das indústrias de Frios e Pesca do Ceará (Sindifrio), é de crescimento já neste mês de agosto. A Instituição, no entanto, não detalhou em números tal projeção.

"Entendemos que as dificuldades foram iniciais, mas agora o cenário está favorável e as vendas tendem a aumentar tanto no mercado interno, quanto para exportação", observou o empresário e membro do Sindifrio, Oziná Costa. Além de abastecer o mercado local, cujas vendas devem ser incrementadas a partir desta segunda quinzena de agosto, empresários já estão comercializando o produto para Rio de Janeiro e São Paulo.

A exportação também deve reaquecer neste mês após registro de queda de 47% em julho passado em comparação a igual período de 2019. Segundo o Observatório da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em julho passado as exportações deste crustáceo somaram US$ 6,1 milhões, enquanto em 2019 o montante foi de US$ 11,6 milhões.

Já no decorrer de todo o primeiro semestre do ano, a exportação da lagosta somou quase US$24 milhões, número 32% abaixo do registrado em igual período do ano passado. Apesar da crise econômica mundial gerada pela pandemia da Covid-19, a comercialização de frutos do mar continua entre os dez principais produtos da pauta de exportação do Ceará. A lagosta cearense é vendida para 37 países, em todos os continentes, tendo como principais parceiros comerciais os Estados Unidos, China e Austrália.

O assessor técnico do Sindifrios, Carlos Eduardo Vilaça, analisa que, passado o período crítico gerado pela pandemia, a produção da lagosta já atingiu "níveis anteriores", verificados em 2019. A Federação das Colônias de Pescadores do Ceará (Fepesce) diverge. Ela reconhece a retomada na produção, mas mostra que os números ainda não estão equiparados. No ano passado, cada embarcação de porte médio pescava 1.500 kg por mês. Hoje, esse número está em 600 kg. A tendência é de que com a retomada do setor hoteleiro e gastronômico, a produção cresça, pois haverá mercado para escoar a produção.

Impactos

Uma das grandes apostas do setor para alavancar o montante exportado é a comercialização da lagosta inteira, e não somente a cauda, como praticado em anos anteriores. Além de fomentar a produção sustentável, os produtores são beneficiados pelo preço ofertado. No mercado externo, a diferença do quilo chega a cerca de US$ 22.

Em 2018, quando esse tipo de venda começou a ser realizada no Ceará, o Instituto de Ciências do Mar (Labomar) previu um aumento da exportação da lagosta inteira de 1,5 mil toneladas, em 2018, para 4 mil, até 2023. Com a pandemia, no entanto, os números serão revistos. "É uma projeção, mas ninguém esperava a pandemia. Ainda têm muitos pescadores afastados por medo de adoecer", explica a doutora Juliana Gaeta, pesquisadora da Funcap, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Segundo ela, ainda é cedo para dizer com precisão se essa estimativa (até 2023) de produção será mantida. "É difícil precisar porque o mercado está voltando agora. Vamos depender da demanda porque não adianta a gente pescar se não tem quem compre. O mercado consumidor de alimentos sofreu vários impactos. A gente precisa avaliar essa demanda", complementa.