História na Terra do Vaqueiro

Escrito por Redação ,
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Morada Nova. Registro de pega de boi surgiu na antiga vila do vale jaquaribano na derradeira década do século XVIII e se consagra como o mais antigo do País. Morada Nova é velha morada do vaqueiro, tipo étnico de uma mistura do branco colonizador com o índio, habitante nativo. A figura lendária desse bravo do sertão surgiu nestas bandas com o início ciclo do gado, idos de 1600. Foi também nessa povoação, cujas origens remontam ao século XVIII, o primeiro registro de pega de gado, que mais tarde chegaria ao dicionário com o pseudônimo popular de vaquejada. O feito torna essas terras do vale jaguaribano no marco histórico do hábito sertanejo.

O historiógrafo Sivaldo Andrade, um dos fundadores do Museu do Vaqueiro — o único temático do País — é assíduo conhecedor dos feitos épicos de sua gente. Ele constata que provas históricas apontam datas mais remotas da peleja de gado. “Temos registros de 1719, onde um certo escravo negro, Venceslau Barbosa, enfrentava o boi no braço. Aceitava desafio de fazendeiro, corria nu, agarrava o bicho pelo rabo e só sossegava quando derrubava no chão. Se tornou vaqueiro afamado e com ele nossa terra também”, conta.

Sol a pique

Por esses feitos o costume se tornou em patrimônio popular. Criadores, que eram tangedores de seus próprios rebanhos, aprenderam a enfrentar espinhos e galhos secos que, afiados feito navalha, são de cortar a pele enrijecida de agüentar sol a pique. Cansado de ter o couro ardido dos galopes na mata, encontraram jeito de cumprir o ofício sem aperreação. Criaram traje, que de tanto sofrer judiação se fez gibão, papa-peito, perneiras e luva do couro do próprio bicho.

E depois de dia de disputa na mata, no fim da peleja e do dia, tinha forra certa. “Corre boi que lá vem o vaqueiro. Tu cruza a faixa, mas te derrubo primeiro”. Lauro Chagas lembra muito bem desses tempos. Não disputa mais com o gado. Mas está feliz de saber que o homem continua mais esperto e a mania persiste. Esticou-se pelo sertão e foi mais distante. Tornou-se parte da história, viva, que ainda campeia na caatinga, bioma típico do semi-árido.

Assim como ele, dizem os mais velhos, que todo vaqueiro do sertão tornou-se doutor do agreste. E doutor que se preza se veste a caráter pra festa e pro mato. Enfrenta a batalha com alegria. Tange o gado e a tristeza até o fim do dia.

E assim, esta figura tipicamente nordestina feliz fica em saber que a terra querida lhe tem tanto respeito que lhe cedeu até o título.

Em todos os anos tem festa para ser lembrado o ano inteiro, que Morada Nova é a “Terra do Vaqueiro”.

ALEX PIMENTEL
Repórter

Mais informações:
64ª Vaquejada de Morada Nova
Parque João de Deus Girão
Hoje a partir das 9 horas, com competições e shows

O QUE ELES PENSAM
Amor pelo esporte rural

“Com muito esforço e dedicação, conseguimos realizar o mais importante evento cultural de nossa cidade, a nossa 64ª Festa do Vaqueiro. Estou há 20 anos nessa luta, o cansaço é grande mas a satisfação é maior. Me orgulho disso e também de poder homenagear alguns de nossos heróis da região, tais como João Eudes, Bai, Antônio de Zé Ambrósio e Zé Neto, com a Comenda Moacir Bezerra da Silva”.
Fátima Andrade Girão - Presidente da AVCMN

“Sou servidor público do Dnocs por profissão, mas sou vaqueiro por vocação. Ainda garoto, me embrenhava na mata, a tanger o gado com o meu pai. Aprendi a respeitar os bichos, como se respeita gente. Hoje, sou o mais velho vaqueiro a desafiar o boi na linha. É brincadeira e ele gosta, se não, ficaria parado feito vaca. Prazer igual não encontrei na vida. Só quem participa é quem entende essa sensação. É como voar no chão”
Luiz Adair Chagas - Vaqueiro

“Não tenho gado, mas trato como se fosse meu. Há 25 anos, me filiei à Associação dos Vaqueiros de Morada Nova. Desde então, não perco uma festa e nenhum desafio. Sinto orgulho de saber que os vaqueiros nasceram aqui na nossa terra. A nossa festa é a segurança que temos para preservação de nossas tradições. É nessas horas de confraternização que encontramos respeito e admiração pelo nosso ofício”.
Francisco Edir Galdino da Silva - Vaqueiro

“Tenho 15 anos, mas desde os 10 participo das vaquejadas. Aprendi a criar gosto com os meus pais por esse jeito estranho de brincar com os bichos. Toda a minha família tem jeito com essa vocação. A família inteira, exceto minha mãe. Não tenho medo de perigo e nem do boi. É ele quem cai no chão. Embora eu seja ainda uma adolescente, não existe desafio que eu não supere. Por isso gosto de praticar esse tipo de esporte rural.
Amanda Bezerra Nogueira - Estudante