Fungo misterioso ameaça de extinção benjamins do Cedro

O mistério continua enquanto se espera os resultados das análises do material colhido das árvores mortas

Escrito por Alex Pimentel - Colaborador ,

Quixadá. O bosque do Açude Cedro, de frondosas árvores em um dos parques considerados por especialistas em turismo dentre os mais belos do Planeta, nesta cidade, está desaparecendo. Espécies centenárias, principalmente os benjamins, plantados pelo imperador D. Pedro II, no início do século XX, quando das suas visitas à construção da primeira represa pública do País, segundo relato dos permissionários mais antigos desta área, estão morrendo. A extinção está envolta em mistério.

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Havia esperança de que, com a chegada das chuvas, as majestosas árvores voltassem a florescer. Todavia, para evitar acidentes, funcionários do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) efetuaram recentemente o corte de algumas dessas árvores. Os troncos estavam apodrecendo e os galhos totalmente secos.

A mudança não passou despercebida a visitantes habituados a frequentar o lugar. Afinal, costumavam estacionar seus automóveis à sombra de três imponentes arvoredos e, de repente, se depararam com caules esbugalhados na entrada da alameda do açude. Apesar da seca, a paisagem mudou. Agora é possível ver a pedra da Galinha Choca de vários pontos. Apesar de bela, a imagem é desagradável.

Na opinião do pesquisador João Eudes Costa, os cupins são os responsáveis pela dizimação da exuberante flora à beira da estrada de acesso ao Cedro. As árvores foram envelhecendo e, com o passar dos anos, necessitaram de cuidado. Houve essa falta da parte dos responsáveis pela área mantida pelo Dnocs, hoje compartilhada com faculdades.

Sobre D. Pedro II, respeitado por suas pesquisas, João Eudes Costa ressaltou que a única realeza a visitar o Açude Cedro foi Conde d'Eu, este genro do imperador. "Não sei ao certo se o conde chegou a plantar benjamins e ipês por aqui. Essas espécies foram plantadas e cresceram naquela área por serem mais resistentes à seca. Por falta d'água não morreram", enfatizou.

Houve início de protesto, mas logo os boatos de que foi a seca que definhou as dezenas de árvores menos resistentes convenceram a maioria, exceto os pesquisadores, professores e alunos do campus do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) nesta cidade. Eles colheram amostras dos troncos cortados e estão buscando descobrir os reais motivos da morte dos benjamins. Apesar dos cinco anos sem chuvas, a folhagem poderia recarregar novamente? Foi a indagação.

Pelas observações do professor Daniel Duarte Pereira, da Universidade Federal da Paraíba, uma chaga muito perversa de fungos deve ser a responsável pelo extermínio dos benjamins no parque ambiental de Quixadá. Especialista em botânica e doenças vegetais, ele explica haver a necessidade de mais estudos. Para esse tipo de parasita, quanto mais água, melhor. Como, porém, as árvores estão fracas pela falta de água, o predador age com mais facilidade.

As conclusões preliminares sobre o mistério dos benjamins foram realizadas havia uma semana; quando ele participou do I Colóquio de Estudos Ambientais do Bioma Caatinga, promovido pelo IFCE de Quixadá.

O campus fica dentro do parque do Açude Cedro. Após a apresentação da palestra "Manejo e recuperação de matas ciliares e a sustentabilidade ambiental no Semiárido brasileiro", o estudioso fez questão de visitar o açude. No caminho se deparou com os troncos fatiados.

O professor do IFCE Quixadá, Lucas da Silva, coordenador do Colóquio Ambiental, acompanhou o visitante ao Açude Cedro e confessou surpresa diante da revelação de Daniel Duarte, o qual foi professor do seu mestrado em Manejo de Solos e Água. "Coincidentemente, a conversação organizada por ele abordou exatamente esses problemas", comentou.

Preservação

Agora, apesar de terem que aguardas os resultados das análises do material colhido das árvores mortas naquela área ambiental, professores e alunos do IFCE se dedicam à revitalização e preservação do imenso jardim no entorno do campus. Se depender deles, mais benjamins e outras espécies não morrerão, afinal Quixadá está formando um batalhão especial, de engenheiros ambientais.

Fique por dentro 

A planta veio do continente asiático

O nome científico do Benjamin é Ficus benjamina, originário da Ásia. Também é conhecido por Fico, Fico-chorão, Figueira, Figueira-benjamim. Trata-se de uma árvore comum no clima equatorial, subtropical e tropical. Costuma dar meia sombra sob sol pleno. Além de ter um ciclo de vida perene, tem crescimento de moderado a rápido e, em condições naturais, chega a 30 metros de altura. Suas folhas são pequenas, brilhantes e perenes, de coloração verde ou variegada de branco ou amarelo. Suas folhas têm formato elíptico.