Família mantém a arte de trabalhar com barro

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Limoeiro do Norte. Um dos principais símbolos culturais neste município, da região do Vale do Jaguaribe, vem da terra, passa pelas mãos e nela assume diferentes formas. Todo canto tem barro, mas como o barro da família Pequeno está para se fazer história. A rusticidade da argila é matéria-prima para a singularidade das louças e arranjos feitos por mãos calejadas, mas talentosas. O município envolto em rios e riachos é abundante em argila, que sai do chão, pega a estrada e voa, literalmente, para outros continentes, levando o mundo de barro das “louceiras do Córrego de Areia”.

A tradição teve início com Zé Pequeno, há mais de 50 anos. O homem deixou seu legado para as filhas Raimunda, Lúcia e Maria, da comunidade de Córrego de Areia. E a cidade rica em patrimônios imateriais (feito o bumba-meu-boi de mestre Chico Nogueira), abre espaço para a matéria bruta.

Peças

Bules, chaleiras, xícaras, jarros, bacias, vasilhames, tudo o que for útil para a cozinha ou somente para os olhos. À revelia de qualquer discussão sobre se artesanato é arte é a certeza de que é, sim, a sobrevivência e a essência da família Pequeno.

Que tem de diferente no artesanato de barro limoeirense? Os apreciadores — o mais recente comprador é norte-americano — comentam a delicadeza dos objetos, muito finos, porém resistentes.

Tradição

“Não é qualquer barro que faz uma coisa dessas”, afirma Lúcia Rodrigues da Silva, a mestre da Cultura Lúcia Pequeno, irmã de Maria e Raimunda, filhas de Zé Pequeno, conhecido artesão que deu às filhas, ainda crianças, o ofício de trabalhar o barro, modificar a natureza com mãos e criatividade, talento ainda mantido 22 anos após sua morte.

O mercado das frutas do município de Limoeiro do Norte é o ponto de venda, aos sábados, do barro das “louceiras do Córrego de Areia”, que até protagonizaram o documentário “Além do Barro” que, no início do ano, representou o Ceará no Festival de Cinema de Parintins, em Minas Gerais.

Fama

O barro limoeirense conquistou fama internacional desde que a Família Pequeno exportou o artesanato assiduamente via mão dos curiosos trabalhadores estrangeiros do antigo Projeto Rondon, no Ceará dos anos 80. “Era até japonês vindo aqui encomendar”, conta Lúcia, eleita em 2005 Mestre da Cultura Popular Tradicional. Mas a fama tem mais de meio século. O curioso, e lamentável, é o preço das peças, feitas em um dia inteiro e que não raramente ultrapassam os R$ 20.

De acordo com a Mestra Lúcia, “a gente vai vivendo do jeito que dá, mas as moça nova não querem mexer no barro pra não se sujar, então tá é ruim, porque nós vive suja”, comenta simpática, enquanto amassa — ou amacia? — o barro com as mãos.

Além do barro, ninguém pode falar do que é símbolo de Limoeiro do Norte sem citar a bicicleta, outra matéria morta mas um dos patrimônios mais vivos da “Princesa do Vale”.

Antigamente a média era de um transporte desse para cada habitante. Hoje a conta é bem menor, no entanto, como quem foi rei nunca perde a majestade, Limoeiro do Norte ainda tem a fama nacional de “Cidade das Bicicletas”.

Ciclismo

O território plano favorece a prática das pedaladas, tanto que instituíram um evento chamado “Pedala Limoeiro”, voltado à prática saudável do ciclismo por quem abandonou as duas rodas não motorizadas.

O secretário municipal de Cultura, Gilmar Chaves, é o idealizador e sonhador do “Museu da Bicicleta”, para ser referência da preservação desse grande símbolo cultural.

Melquíades Júnior
Colaborador


PREÇO

R$ 20 é quanto custa, normalmente, o preço das peças em barro fabricadas pela irmãs da Família Pequeno, as ´louceiras do Córrego de Areia´, famosas até no exterior