Em defesa da criação da Arquidiocese do Cariri

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Padre Cícero defendeu que Juazeiro tinha que ter o seu bispado, por ser centro de convergência no Nordeste

Brasília. Concomitantemente à esperada reabilitação do Padre Cícero, Bento XVI poderá criar a Diocese do Cariri, no Juazeiro, realizando os dois maiores sonhos do “Apóstolo do Nordeste”. Mas seu bispo a ser nomeado não poderá ser um nome qualquer. De forma alguma deverá ser como quase todos os bispos do Crato o foram, ostensivamente imperiais, caprichosamente enclausurados em palácio diocesano transformado em torre de marfim, disponíveis apenas para os poderosos de plantão, inacessíveis para a comunidade, indiferentes ao povo, distantes do povo e até humilhantes ao povo. Eis o que conta Edmar Morel em seu Padre Cícero, o Santo do Juazeiro, lembrando dom Quintino Oliveira, algoz do Padre Cícero.

Sobre o assunto, o autor declarou o seguinte: “Como um dos supremos mandatários da Igreja Católica Apostólica Romana, dom Quintino, numa cidade como o Crato, leva uma vida de imponência no sentido litúrgico. A sua saída do Palácio Episcopal obedece ao completo ritual canônico, repicando os sinos. Suas vestes vermelhas, os seus sapatos polidos, o belo crucifixo pendurado por um cordão de ouro, são admirados pela população ainda não acostumada com a cena, que só é vista em Roma. Entretanto, com a batina surrada e com as botas empoeiradas, Padre Cícero o suplanta no prestígio pessoal, no político e no cenário nacional”.

Enquanto condena dom Quintino de Oliveira por não perder oportunidade para demonstrar, conscientemente, seu orgulho e sua vaidade mórbida de Príncipe da Igreja, Edmar Morel sustenta:

´Está para surgir no Norte do Brasil um eclesiasta mais simples no modo de trajar do que o Padre Cícero. Sua sotaina surrada e o chapéu encebado lhe dão maior simplicidade e isso mesmo o torna mais perto do coração do povo, composto do que há de mais heterogêneo´.

Para o vaidoso bispo do Crato, cultor da pomposidade, ser inferior em prestígio ao humilde clérigo do Juazeiro, cultor da simplicidade, era inaceitável. Fazia-o ficar ainda mais intolerante e agressivo ao Padre Cícero. Certamente, como dom Joaquim, em Fortaleza, dom Quintino, no Crato, sem conseguir transformar o seu poder eclesiástico em prestígio e popularidade, devia sentir uma enorme inveja do ´Patriarca do Juazeiro´, pelo que se infere da observação de Neri Feitosa:

´O que incomodava os bispos era o fenômeno popular de atração do Padre Cícero. Os bispos achavam que a verdadeira causa do fenômeno eram os milagres; mas a corrida ao Juazeiro começou antes dos milagres. Era a pessoa mesma do Padre Cícero que atraía e atrai multidão, homem mandado por Deus´.

Quem for sagrado o primeiro Bispo do Juazeiro precisará ser como o saudoso papa João Paulo II, com espírito, carisma, sensibilidade e gosto para acolher, atender, orientar e empolgar multidões. Como dom Helder Câmara, inesquecível arcebispo do Recife, dedicado intensamente, de corpo e alma, aos mais pobres, carentes, oprimidos, perseguidos, desamparados e necessitados. Como o saudoso monsenhor Murilo de Sá Barreto, por quase meio século vigário do Santuário Diocesano de Nossa Senhora das Dores, no Juazeiro, e que, não fosse a intolerância da Igreja, deveria ter sido premiado, pelo seu rico e destemido apostolado, seguindo defendendo o Padre Cícero, como o primeiro bispo da cidade.

Quem for bispo do Juazeiro terá que ser como foi o Padre Cícero, um comunicador de massas, um evangelizador de massas e um civilizador de massas. Não um Príncipe da Igreja, imperialmente afetado e inacessível, mas um bispo com sabedoria profunda, autoridade moral e humildade confirmada para exercer, dignamente, sua enorme responsabilidade pastoral sobre os católicos caririenses e mais 2,5 milhões de nordestinos que, ao longo de cada ano, visitam Juazeiro, expressam sua fé e sua autêntica religiosidade cristã.

JOTA ALCIDES*
Repórter
*Jornalista e escritor. Tem dez livros publicados e é autor de ´Padre Cícero, o poder de comunicação´ e ´Padre Cícero segundo Mestre Athayde´