Diocese de Iguatu investiga graças atribuídas à menina Maria Augusta

Maria Augusta foi assassinada pelo seu pai, em 1965, aos 14 anos, após resistir a tentativas de sedução

Escrito por Honório Barbosa - Colaborador ,
Legenda: O túmulo de Maria Augusta é o mais visitado no Cemitério Senhora Sant'Ana, de Iguatu, no Centro-Sul do Estado, ao longo do ano e, em particular, no Dia de Finados
Foto: FOTO: ANA PAULA / PASCOM

Iguatu. O bispo da Diocese de Iguatu, dom Édson de Castro Homem, determinou que o pároco da Igreja Matriz de Senhora Sant'Ana, Carlos Roberto Alencar, colha depoimentos de parentes e amigos de Maria Augusta, que foi assassinada pelo próprio pai, em junho de 1965, aos 14 anos, após resistir a tentativas de sedução, no sítio São Joaquim, zona rural deste Município, na região Centro-Sul.

A ideia do bispo é, a partir da coleta de relatos e de outras fontes históricas, analisar a possibilidade de abertura do processo de beatificação, que deve ser autorizado pela Santa Sé. "Não há comissão oficial criada", observou dom Édson de Castro. "Pedi ao padre Roberto Alencar que colhesse informações. Não há pressa e não é um assunto fácil".

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Dom Édson de Castro assumiu a Diocese de Iguatu em junho de 2015. No ano passado, após ouvir histórias sobre a jovem Maria Augusta, visitou seu túmulo no Dia de Finados. Neste ano, na mesma data, após celebrar missa na capela anexa ao cemitério, foi novamente ao jazigo. "Levei uma flor e vi muita gente acendendo velas, colocando flores e rezando", contou. "Uma senhora leu uma crônica sobre a vida de Maria Augusta, com base em relatos".

Mais visitado

O túmulo de Maria Augusta é o mais visitado no Cemitério Senhora Sant'Ana, nesta cidade, ao longo do ano e, em particular, no Dia de Finados. As pessoas depositam flores, acendem velas e fazem orações. Há dezenas de relatos de graças alcançadas. Recentemente, uma família fez uma reforma na sepultura por agradecimento. Outros fazem a visita, mesmo sem conhecer bem a história da tragédia familiar que repercutiu em Iguatu em meados da década de 1960.

O escritor Cícero Cruz, que publicou um livreto sobre a vida de Maria Augusta, em 2009, acredita que a vinda de um piloto argentino a Iguatu, na década de 1970, com um relato impressionante, despertou a atenção dos moradores, que começaram a visitar o túmulo. "Houve um acidente aéreo. O piloto fez uma prece e conseguiu pousar a aeronave sem vítimas e viu uma jovem na asa do avião que teria dito ser Maria Augusta de Iguatu", contou. "Esse homem visitou Iguatu, conversou com parentes, contou a história e queria construir uma capela, mas infelizmente não guardaram dados sobre ele".

Cruz fez entrevistas e publicou a obra motivado pelos relatos da história e das graças alcançadas que ouvia da avó, da mãe e de visitantes ao túmulo. "Há uma senhora que colheu vários relatos, está idosa, e um dia me disse: 'Meu filho, temos uma santa em Iguatu'. Isso demonstra a crença e a fé de muitas pessoas". Segundo as informações do escritor, a maioria das promessas é feita para cura em crianças e adolescentes.

Nesta semana, o bispo dom Édson de Castro Homem, o bispo emérito e primeiro da Diocese de Iguatu, dom José Mauro Ramalho, o padre Roberto Alencar e o bioquímico José Elpídio Cavalcante estiveram visitando parentes de Maria Augusta, na localidade de Canafístula dos Freitas e no sítio São Joaquim, onde a jovem foi assassinada pelo próprio pai. "Vamos procurar pessoas, ouvir relatos", disse o sacerdote Roberto Alencar. "Não temos prazo de conclusão dessa etapa inicial".

O padre João Batista, pároco da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Iguatu, disse que o bispo mostrou-se interessado em conhecer mais a fundo a história. "Essa é uma questão que deve ser tratada com muito cuidado, mas, à primeira vista, nos remete a um tema muito atual, a violência contra a mulher e a criança", pontou. "Por outro lado, há o resgate da devoção popular, que é natural, nasce do povo e a Igreja só dá o reconhecimento".

Prudência

A história de Maria Augusta envolve o espiritual e o social. "É preciso saber se a recusa dela em se entregar ao pai foi por obediência religiosa, preferiu morrer a pecar ou foi para evitar um ato incestuoso", pontou dom Édson de Castro. "As pessoas confundem mártir com vítima". O religioso observou que a sexualidade é um tema presente e que entre os jovens "é difícil não pecar contra a castidade".

O bispo de Iguatu frisou que é preciso ter prudência e seriedade na análise dos fatos. "Não me move, não me comove", frisou. "Seria uma graça, uma alegria a Diocese de Iguatu ter uma santa, mas é preciso interpretar os fatos, observar ocorrência não apenas de graças alcançadas, mas de milagres". Por último, dom Édson de Castro enfatizou: "Deus é quem governa e abrirá caminhos se for para ela ser considerada santa".

Crime

O irmão da menina, Raimundo Augusto, contou que passou pelo pai, José Augusto da Silva, na época com 58 anos, momentos antes, indo para a cidade. A irmã estava em casa, na zona rural. "Depois soube do ocorrido, vim com a Polícia e vi minha irmã morta, a golpes de roçadeira", contou emocionado. "Mamãe falava para a gente sobre as intenções de papai, mas ninguém acreditava". José Augusto fugiu e foi preso no sítio Ambrósio, em Acopiara. Foi transferido para Fortaleza e até hoje a família não tem informação sobre ele. A mãe, com quatro filhos homens e duas mulheres, passou a morar na cidade de Iguatu.

Fique por dentro

Conheça o processo de santificação

O processo de canonização tem três etapas e é iniciado por um bispo. Inicialmente, o candidato recebe o título de Servo de Deus, em que se observa virtudes e martírios. Nessa etapa, a pessoa é considerada venerável. A segunda etapa é o milagre da beatificação. Para se tornar beato, é preciso comprovar um milagre por sua intercessão. No caso de mártires, não é necessário a comprovação do milagre. O terceiro e último processo é o milagre para a canonização. Este tem que ter ocorrido após a beatificação. Comprovado este milagre, o beato é canonizado e o novo Santo passa a ser cultuado universalmente.