Desenvolvimento ainda é precário em cidades antigas
Municípios estão na área metropolitana da Capital, no entanto, não acompanharam o crescimento da região
Fortaleza Com baixos indicadores socioeconômicos, três antigos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) apresentam um quadro nada promissor no que se refere a emprego, indústrias, comércio, serviços e renda. Chorozinho, Guaiuba e Itaitinga ostentam, respectivamente, a posição de 122ª, 82ª e 56ª no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do ranking estadual e se destacam entre os piores IDHMs da RMF.
As posições registradas pelos três municípios constam em estudo apresentado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), porém ainda relativo ao ano de 2010. O levantamento enfoca, também, o ano de 1991, período em que Chorozinho ficou com o pior IDHM da Região Metropolitana em 152º lugar no ranking.
Já Itaitinga registrou avanço quanto ao Índice de Desenvolvimento Municipal, uma vez que naquela época estava em 64ª lugar. O mesmo não ocorreu com Guaiuba que, em 1991, ocupava a 48ª posição e desceu para 82º lugar em 2010, num indicador essencial para avaliar as condições de vida de um município.
Já em outro estudo mais atualizado do Ipece - intitulado " Perfil Básico Regional de 2013" -, no que se refere ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, em 2011, o menor indicador apresentado na RMF foi em Guaiuba, com R$ 4.451,00. Em seguida, vieram Chorozinho (com R$ 5.281,00), Pindoretama (R$ 5.359,00) e Itaitinga (R$ 5.835,00).
Ainda no Perfil Básico Regional de 2013 elaborado pelo Ipece, quanto ao comportamento do emprego formal na Região MF, de 2006 a 2012, o saldo entre admitidos e desligados em Horizonte, por exemplo, é negativo: menos 1.691. Já Guaiuba registra menos 219.
Preocupante
Criado em 1992, Itaitinga apresentou 2012 um total de 3.761 empregos formais, dos quais 1.239 na administração pública, sendo 423 destinados aos homens e 816 à s mulheres. O próprio chefe de gabinete da Prefeitura, Alonso Bessa, reconhece que essa concentração de postos de trabalho no setor público é um dado preocupante, indicador de falta de oferta de empregos em setores como indústria e comércio, por exemplo.
"A indústria foi e será carro chefe do desenvolvimento econômico", observou, por sua vez, o economista coordenador do Instituto de Desenvolvimento Industrial (Indi), da Federação da Indústria do Estado do Ceará, Pedro Vianna. Ele salienta como decisivos ao desenvolvimento econômico de uma região: os fatores dados pela natureza, acontecimentos históricos, acontecimentos aleatórios e ação institucional do homem.
Segundo ele, contudo, nenhum fato histórico aconteceu nos municípios de Itaitinga e Guaiuba "com características de quebra de paradigmas para se trilhar um novo caminho de crescimento socioeconômico".
Apesar de considerar até evidente de que o município que apresenta mais recursos naturais (como terra cultivável, clima temperado e recursos minerais) alcance mais desenvolvimento econômico, o economista ressalta, ainda, a importância das políticas públicas e das iniciativas das autoridades públicas ou com perfil de grande empreendedores.
Secas
Os municípios de Guaiuba e Itaitinga, lembra o economista, estão situados dentro do perímetro das secas, do semiárido nordestino. "Portanto, em um espaço físico sem grandes potenciais de exploração econômica", observa o ele, complementando que uma iniciativa relevante refere-se à tentativa do atual prefeito em instalar um Condomínio Industrial no Setor Químico na região. "Isso mostra que o município tenta entrar no processo industrial", diz ele, adiantando que estão previstos investimentos de algo em torno de R$ 100 milhões.
Legislação
Criada pela Lei Complementar Federal nº 14, de 8 de junho de 1973, a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), também conhecida como Grande Fortaleza, no princípio reunia cerca de um milhão de habitantes, número que hoje chega a 3.782.653 moradores. Com isso, a sétima RM do País apresenta um crescimento populacional de 278%.
Se, inicialmente, a Região Metropolitana de Fortaleza contava com apenas cinco municípios - Fortaleza, Caucaia, Maranguape, Pacatuba e Aquiraz -, atualmente é composta por 15. Em 1992, Itaitinga e Guaiuba passaram a integrar a Região. A partir de 1999, mais quatro cidades foram incorporadas à RMF, entre elas Chorozinho.
Mas foi Maracanaú o primeiro, fora do núcleo inicial, a integrar a RMF, o que aconteceu em 1983 e, também, por lei federal. Hoje, o Distrito Industrial de Maracanaú, instalado na sede do município, abriga boa parte das indústrias da metrópole.
Já ao redor do Porto do Pecém está sendo estruturado o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, que abrigará uma siderúrgica e uma refinaria, em processo de implantação entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante.
O desenvolvimento econômico de Maracanaú e Pecém contrastam com a realidade de Chorozinho, Guaiúba e Itaitinga.
Itaitinga prevê novos investimentos na economia
Fortaleza Na área da mineração, Itaitinga recebeu, em 2012, o Grupo Polimix que tem como parceiro da empresa o Grupo Votorantim, informa o chefe de gabinete do Município, Alonso Bessa, admitindo que apesar de incluir atividades que agridem o meio ambiente, o setor é preponderante para a economia local. "Todo mundo no município quer modernidade - como infraestrutura, calçamento, asfalto e boa moradia - e sem a mineração é impossível", opina.
Apesar dos indicadores que colocam Itaitinga entre os menos desenvolvidos da RMF, Alonso Bessa ressalta que o município tem registrado investimentos na área residencial.
Os irmãos e empresários do mercado de imóveis, Albino Callou e Marcos Callou, em parceria com Riamburgo Ximenes, do Ponto da Moda, "estão investindo muito na cidade", disse. Os dois lançaram o Loteamento Cidade Nova nas margens da CE-350, que liga Itaitinga à Pacatuba. "Também pretendem lançar, ainda neste ano, um empreendimento como concorrente do Alphaville nas margens da BR 116", citou.
Já em fase de conclusão, em Itaitinga, encontra-se a representante da Volvo Caminhões, a Empresa Aparecida Veículo (Apavel), de Eládio Benevides, nas margens da BR-116. "Com isso, muitas empresas do ramo de caminhões e máquinas pesadas têm procurado incentivos para se instalar. Podemos citar a Ceará Diesel, a Fornecedora Máquinas e outras".
Também em fase de conclusão a Asa Branca indústria de Bebidas, que conta com uma unidade em Maranguape e está se instalando no bairro Ancuri, de Itaitinga. A Prefeitura local está tentando viabilizar a vinda de uma empresa de coleta de resíduo sólido com tecnologia de plasma, que receberá todo lixo produzido em Itaitinga, e poderá absorver dos municípios vizinhos como Fortaleza, Eusébio, Aquiraz, Horizonte e Pacatuba. "E aí irá transformar em energia, que iremos adquirir com valores inferiores a 30% do que é praticado no mercado", adiantou.
O chefe de gabinete também informa que, recentemente, representantes de Itaitinga participaram de várias reuniões na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) com dirigentes de sindicatos de indústrias do setor químico e de indústrias metalúrgicas e mecânicas, que pretendem conseguir terras para a criação de um condomínio industrial na região.
Contudo, um dos fatores que impede o crescimento mais rápido do município é a não disponibilidade de terras próprias por parte da Prefeitura para doar, como incentivo, e assim atrair indústrias para aquela área da RMF, acredita Alonso Bessa.
O Estado, acrescenta, tem terras na BR-116, próximo à Fábrica Fortaleza, que disponibilizou para algumas empresas "que pouco esforço fizeram para se instalar". As terras foram cedidas para três empresas.
Guaiuba não tem industrialização
Fortaleza. "Em Guaiuba, faltam, sobretudo, indústrias e emprego", declara a vereadora Silvia Helena Maia de Lima. Com isso, adianta, muitos moradores sobrevivem dos recursos do Programa Bolsa Família, de empregos na Prefeitura Municipal e da agricultura.
O fato é que desemprego campeia o município. "Não há ocupação para diversos jovens. Muitos terminam o Ensino Médio e ficam em casa", diz a vereadora, que já cumpre o quarto mandato. Para ela, a falta de perspectiva no futuro traz riscos de uso de drogas e da prostituição.
Visando atrair novas empresas, lembra Silvia Helena Maia, em mais de uma vez a Câmara Municipal aprovou propostas voltadas para possibilitar incentivos fiscais em Guaiuba. "As empresas vêm, se instalam aqui, mas depois terminam se transferindo para outro local ou fechando", explica. Cita, como exemplo, a indústria IBG, de calçados, que fechou nos últimos anos.
Hoje, a maior indústria da região é a King Plástico, que fabrica sandálias e oferece cerca de 200 a 300 empregos, explica. Há ainda, a Palete, que faz containers de madeira, mas é uma indústria menor, portanto oferece menos postos de trabalho.
"Pronto, praticamente só temos isso. Quem não trabalha em uma das duas empresas ou na rede pública, está desempregado ou vive da agricultura", comenta a parlamentar.
Quase sempre a colheita do plantio de hortifrutigranjeiros tem como destino a Central de Abastecimento (Ceasa), que comercializa, sobretudo, para os consumidores de Fortaleza.
Mozarly Almeida
Repórter