Cultura do algodão ressurge no Sertão Central do Ceará

Agricultores familiares, produtores rurais e industriais esperam que o algodão volte a brilhar nos campos cearenses

Escrito por Alex Pimentel - Colaborador ,

Quixadá. Quatro décadas após ser dizimado pela praga do bicudo o "ouro branco" está ressurgindo nos campos cearenses. O retorno da cotonicultura, como a produção de algodão é conhecida pelos técnicos, está animando os agricultores familiares cearenses.

Da mesma forma, usinas de beneficiamento adormecidas nos municípios de Quixadá e Quixeramobim, no Sertão Central, há quase meio século, aguardam apenas os fardos começarem a chegar para sacudir a poeira das máquinas e voltarem a produzir, do óleo à torta. A maior riqueza agrícola da região está sendo revitalizada.

No Município de Quixadá, de onde saía grande parte das plumas e do óleo comestível, para o mercado nacional e o exterior, a Usina Damião Carneiro está pronta, garante o industrial Renato Carneiro.

Entretanto, com meio século de experiência no ramo, este está sendo apenas o primeiro passo para o Estado do Ceará se tornar novamente o maior produtor de algodão da região Nordeste. No início da década de 1970, sua produção se aproximava das 380 mil toneladas, em caroço. A área plantada no Estado era de 1,2 milhão de hectares. Depois da praga, dos prejuízos e dos anos de esquecimento, esta cultura estava praticamente sumida na região.

Contas

Animado, quem está cultivando algodão nos assentamentos do Município já sabe na ponta da língua qual é o preço da arroba, R$ 32. Alguns fazem até as contas da colheita deste ano. Apesar de utilizarem uma nova espécie, a herbácea, substituindo o mocó, em um hectare é possível colher mais de 100 arrobas.

São R$ 3.200, projetam os agricultores do Assentamento Palmares. Os mais jovens só agora compreendem porque esta espécie vegetal é conhecida como "ouro branco".

Esperança

Com 60 anos de idade, 50 deles dedicados à lavoura, Raimundo Ferreira do Nascimento planta sua esperança no retorno do algodão. Apesar de ter voltado a chover, após seis anos de estiagem, o cultivo de milho e principalmente de feijão, o decepcionaram. Não valem mais nada. Apesar de tanto trabalho, para conseguir vender a saca de 60 quilos a R$ 35 foi um sacrifício. O "lençol branco" vai salvar o plantio deste ano. "É a primeira esperança para o retorno dos bons tempos por aqui", comenta satisfeito.

Sobre a produção neste ano no Estado, o supervisor do Núcleo de Culturas de Oleaginosas no Ceará, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), engenheiro agrônomo Marcus Vinícius de Assunção, informou ser possível fornecer os dados somente a partir de setembro, quando as colheitas estarão se encerrando. Mesmo assim, está sendo apenas o primeiro passo para o retorno dessa cultura.

O Governo do Estado investiu R$ 1 milhão no projeto de revitalização. Os plantios mais concentrados estão se iniciando por Quixadá, Quixeramobim e Senador Pompeu.

Outro modelo

Apesar do otimismo, o especialista ressalta tratar-se do início da aplicação de outro modelo de cultivo. Para evitar o retorno do principal inseto responsável pela devastação dos algodoeiros, os agricultores estão sendo orientados a arrancarem as plantas após o término da colheita.

Esse processo tem como objetivo evitar a proliferação do responsável pelo maior potencial de dano a essa cultura, o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis). Sem o habitat natural ele não se prolifera.

Incentivos

Como incentivo ao pequeno produtor rural, para assegurar a limpeza da sua lavoura, uma lei autorizadora está sendo encaminhada à Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) para aprovação. Marcus Vinícius não informou detalhes, mas justificou haver interesse do governo do Estado no pagamento pelo serviço de limpeza a agricultores familiares com até três hectares de algodão plantados.

A SDA também iniciará testes com um equipamento novo na colheita, o aspirador costal. A expectativa é que ele torne mais fácil e ágil retirar as plumas fibra natural dos brotos do algodoeiro, acrescentou, reconhecendo a cotonicultura como geradora de riqueza. Nesse aspecto, Renato Carneiro e o irmão, Airton Carneiro, em Quixeramobim; e outros grandes usineiros do Sertão Central concordam.

Ampliação do cultivo

Entretanto, para o Ceará voltar ao patamar dos tempos de prosperidade, há necessidade de investimentos e de crédito, por meio dos bancos oficiais, para cultivo em grandes áreas.

"As usinas já existem. Uma nova não sairia por menos de R$ 3 milhões. Não há mais mão de obra disponível para a colheita, além de haver mais demora. As máquinas colheitadeiras são mais práticas e ágeis, mas custam em média R$ 1 milhão", completou Renato.