Contrastes marcam dia-a-dia do Granjeiro

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto:

Localizado no sopé da serra do Araripe, abastecido por fontes perenes de água cristalina, o Granjeiro, apontado como bairro nobre do Crato, vive entre a riqueza e pobreza, a suntuosidade de suas casas e a absoluta falta de infra-estrutura. Ali está localizado o Clube Recreativo Granjeiro, que arrastou para o pé da serra estrada asfaltada, telefone, energia elétrica, igrejas, centros educacionais, hotéis e, principalmente, casas residenciais.

Na contramão da iniciativa privada, que transformou um sítio de cana num bairro elegante, o poder público não acompanhou o desenvolvimento. A maioria das ruas onde foram construídas modernas casas, não foi calçada. Não há rede de esgoto. O pouco de infra-estrutura que existe foi feito graças ao prestígio político de alguns dos moradores junto ao chefe do poder municipal de várias épocas. Esta semana, a Prefeitura iniciou a construção de uma praça em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

No rastro da ocupação urbana surgiram favelas resultantes de invasões de áreas da administração municipal que eram destinadas a logradouros públicos. Algumas com nomes estranhos como “Bunda Lavada”, “Pau em Pé”, e outros denominações não publicáveis, que evidenciam a irreverência de seus moradores. As sucessivas gestões fecharam os olhos diante da ocupação desordenada.

Descrito pelo poeta Patativa do Assaré como “o paraíso do Crato”, o Granjeiro está perdendo sua beleza paisagística. Os loteamentos já chegaram ao pé da serra, ocupando uma área, segundo o secretário de Infra-Estrutura, Jéferson Felício, de quase seis quilômetros quadrados. Resta apenas a encosta da chapada do Araripe.

A Prefeitura está correndo atrás do prejuízo. O secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Nivaldo Soares, informou que está sendo estudado o novo Plano Diretor da Cidade. Uma das sugestões é limitar o crescente número de loteamentos e reflorestar as áreas não construídas. O secretário adverte que a água das fontes não é suficiente para atender à demanda. Se não for tomada uma providência, vai falta água para os moradores do Granjeiro.

A destruição vem de longe. O mais antigo morador do Sítio Granjeiro é o agricultor Bruno Manoel Carlos que completa, este mês, 91 anos de idade. “Seu” Bruno lembra que a área onde se localiza hoje o Parque Granjeiro, era coberta de cana-de-açúcar. Funcionavam vários engenhos, entre os quais, o engenho de pau do coronel Francisco José de Brito, pai do jornalista Francisco José da Rede Globo de Televisão. Bruno lembra também das casas de farinha que funcionavam no sopé da serra.

O empresário Paulo Barbosa Amorim trabalhou no engenho do Coronel Brito. Aprendeu com a mãe a fazer balaios de cipós retirados da densa vegetação da serra. Acabaram com tudo, lamenta. A Prefeitura pretende se reunir com os moradores com o objetivo de encontrar uma solução para a desordenada ocupação do bairro.

Antônio Vicelmo
sucursal Crato