Compositor é memória viva do baião

Escrito por Redação ,

Honório Barbosa
Sucursal Iguatu

No final dos anos de 1950, o baião que era o ritmo da moda, passa a ser substituído pelo “Iê, Iê, Iê”, e pela Bossa Nova. O cantor Luís Gonzaga, que durante a década havia feito muito sucesso com as composições de Humberto Teixeira e Zé Dantas, entra em crise. Na época, Gonzagão pensava que era o fim de sua carreira artística e até gravou a música, “A hora do Adeus”. O destino quis que em 1965, Luís Gonzaga se encontrasse com o funcionário público dos Correios, José Clementino, de Várzea Alegre.

Na verdade, Zé Clementino, admirador dos sucessos de Gonzagão, foi ao encontro do Rei do Baião, na cidade do Crato, na casa de Manoelito Parente. Aproveitou a oportunidade e disse que era compositor e mostrou algumas de suas composições (letra e música). Zé Clementino lembra que na época, Gonzaga falou que “estava em fim de carreira”. A história depois iria mostrar que era puro engano. Mesmo assim, pediu que Zé Clementino fizesse uma composição que falasse sobre os homens cabeludos, a moda de então. Nascia aí uma nova parceria que marcaria a carreira de sucesso do Rei do Baião.

Oito dias depois, ocorre novo encontro entre os dois, no distrito de Quitaiús, Lavras da Mangabeira. Era uma apresentação de Luiz Gonzaga. Zé Clementino lembra que não havia mais do que 30 pessoas. “Parecia que estava em decadência”, recorda Zé Clementino, que então entregou a composição “Xote dos cabeludos”. Luís Gonzaga gravou. “Foi um sucesso. A música estourou e o show de apresentação no teatro Santa Isabel em Recife ficou lotado”, conta com orgulho, Zé Clementino.

A música “Xote dos Cabeludos” é aquela que retrata a moda da época. “Cabra do cabelo grande, cinturinha de pilão/ calça justa bem cintada, costeletas bem fechadas, salto alto, fivelão/ cabra que usa pulseira, no pescoço um medalhão/ cabra com esse jeitinho, no sertão do meu Padim/ cabra assim não tem vez não”.

No mesmo disco, Gonzaga gravaria mais duas músicas de Zé Clementino, “Contraste de Várzea Alegre” e “Xenhenhem”. Depois de quase 40 anos do início da parceria com Luis Gonzaga, Zé Clementino lembra com saudades, em sua casa, na cidade querida de Várzea Alegre, o bom relacionamento que teve com o Rei do Baião. Depois vieram novas composições que alcançaram êxito.

Sempre quando Gonzaga precisava, surgiram boas músicas. Ainda na década de 1960, “O jumento é nosso irmão”, uma homenagem ao escritor e conterrâneo, padre Vieira. Em meados dos anos 70, surgiu “Capim Novo”, tema da novela Saramandaia, e no início dos anos 80, “Eu sou do banco”, outro sucesso. Ao todo foram oito composições em parceria com Luís Gonzaga.