Cidades do Ceará adotam lockdown em meio à resistência para cumprir decretos de isolamento

O rápido aumento de casos e de mortes de Covid-19 em duas cidades do Interior cearense nos últimos dias motivou as decisões

Escrito por Antonio Rodrigues ,
Legenda: O município de Barbalha já ultrapassou a marca de 100 mortes por Covid-19
Foto: Lorena Tavares

Começou a vigorar, nesta quarta-feira (12), o lockdown no município de Barbalha, na região do Cariri. A decisão foi tomada devido ao aumento na média móvel de casos e o colapso do seu sistema de saúde no último final de semana.

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Antes disso, a cidade de Jardim, no Sul do Estado, também adotou o isolamento social mais rígido, desde o último sábado (8), mas os dois municípios enfrentam resistência para cumprir os decretos.

Em Barbalha, o comércio de serviços considerados não-essenciais foi proibido, além da alteração do horário de funcionamento das atividades permitidas.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Barbalha, houve um aumento de 36,37% dos casos da Covid-19 em janeiro. Em março, o salto foi de 38,32%. Agora, nos primeiros 10 dias de maio, o crescimento foi 45,57%. Além disso, a terra dos Verdes Canaviais ultrapassou a marca de 100 óbitos — atualmente, são 109 perdas pela doença.

Outro dado preocupante é que, em todo ano de 2020, Barbalha registrou 2.820 casos, enquanto, neste ano, o número já chega a 2.137 infectados. Ao todo, soma 4.957.

“Esse final de semana foi atípico, sofrido, onde tivemos pessoas de Barbalha sofrendo por falta de leito”, pontuou a secretária de Saúde do Município, Sayonara Cidade.

Hoje, a macrorregião de Saúde do Cariri está com 92,41% dos seus leitos de UTI ocupados. No caso de vagas para o público adulto, a preocupação é ainda maior: 95,95%. 

“Ampliamos cinco leitos de UTI no São Vicente. Ampliamos de enfermaria e não estamos dando conta. Não é só quantitativo. Temos Hospital de Campanha no Hospital Regional do Cariri, onde ampliou o quantitativo com estes leitos a mais e estão quase lotados”, justifica a gestora.

Em maio, Barbalha registrou nove óbitos, superando a quantidade de mortes em janeiro e fevereiro somadas — três em cada um — e metade de toda a soma de abril, quando a Covid-19 causou a morte de 16 pessoas.

“Todo mundo já está cansado de isolamento social, mas se a gente não fizer isso, o sistema de saúde vai entrar em colapso”, reforçou o prefeito Guilherme Saraiva.

As principais medidas tomadas em Barbalha:

  • O funcionamento de serviços essenciais restrito de 6h às 20h;
  • proibição de atividades escolares presenciais;
  • comércio fechado; transporte público com 50% dos assentos;
  • proibição de atos religiosos;
  • aplicação de multas às pessoas físicas ou jurídicas que descumprem o decreto;
  • circulação de pessoas somente para fins de atividades essenciais.

A medida é válida até o próximo dia 21. “As pessoas precisam se conscientizar. Em Barbalha, ainda temos festas, pessoas que não estão atentas a esta situação e isso nos deixa numa aflição muito grande”, desabafou Sayonara.

“Queríamos ter vacina para todo mundo, mas não temos. Estamos vacinando numa velocidade grande, mas não temos ainda para um grande percentual”, completou a secretária.

Lockdown enfrenta resistência em Jardim

Desde o último sábado (8), o vizinho município de Jardim, que fica a 41 quilômetros de Barbalha, também está em regime de isolamento social mais rígido. Só poderão abrir as portas o comércio de serviços essenciais, como bancos, farmácias, supermercados, postos de combustíveis e borracharias.

Porém, a adesão, até agora, é insuficiente. “Está difícil, principalmente porque os donos de comércio se sentem prejudicados. A gente tem que usar do apoio da Polícia, com medidas mais rígidas”, conta a secretária de Saúde da cidade, Júlia Cristina Miranda.

O principal indicativo que apontou para um ‘lockdown’ foi o aumento de casos suspeitos e confirmados. Hoje, Jardim registra 1.116 infectados, porém, 23 estão internados.

Outra grande preocupação foi o aumento de óbitos. Apenas na última semana, foram seis vítima da Covid-19. “A gente vinha com óbitos esporádicos. Dois a três casos, em um mês. Foi um susto”, confessa a gestora.

No total, a cidade soma 35 mortes e outras duas estão sob investigação. Júlia acredita que, além da localização da cidade, que fica na divisa com o Pernambuco, o comportamento da população impactou neste aumento.

“Houve festa clandestinas, pessoas que não querem seguir as orientações”, observou. Por isso, também foi adotado no decreto o toque de recolher das 18h às 7h. Nenhuma pessoa física ou jurídica chegou a ser multada, por enquanto.

“Estamos fazendo a orientação e com o reforço policial. Por isso, fazemos apelo para a população colaborar. Aqui, entra e sai gente de todos os locais”, apela a secretária. O decreto é válido até a próxima sexta-feira (16).