Ceará precisa cumprir mais 30% de imunização contra febre aftosa para alcançar meta

O Estado está na última quinzena do fim da campanha, que já foi prorrogada uma vez

Escrito por Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
Legenda: O último registro de aftosa no Ceará ocorreu em abril de 1997, em uma unidade de criação no município de Porteiras, no Sul do Ceará.
Foto: Natinho Rodrigues

O setor agropecuário do Ceará corre contra o tempo e tem o desafio de ampliar o número de vacinação até o fim deste mês. Os dados mais recentes do governo do Estado apontam um índice atual de 60% de imunização do rebanho bovino e bubalino contra a febre aftosa. A meta definida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é de no mínimo 90%.

A febre aftosa é uma das principais doenças da criação de gado, que começa com aftas nas bocas dos animais, podendo levar a problemas cardíacos e até a morte do boi. É extremamente contagiosa entre os animais e pode causar prejuízos grandes aos pecuaristas. Felizmente, não é uma doença transmissível aos humanos.

A pandemia do novo coronavírus também trouxe impacto para a vacinação. Em razão da baixa adesão, a campanha foi adiada de 30 de junho para 31 de julho, e o prazo de envio de declaração por parte dos criadores ficou prorrogado até 31 de agosto. De acordo com números da Agência de Defesa Agropecuária do Ceará (Adagri), até o momento, cerca de 60% dos animais foram vacinados. A baixa adesão também vem ocorrendo em outros estados.

Importância

Mas, no fim das contas, qual a importância do Ceará alcançar a meta estabelecida pelo Mapa? Quem esclarece é o coordenador da campanha, no Ceará, Joaquim Sampaio.

“Caminhamos para nos tornar área livre de aftosa sem vacinação e a conquista desse status vai permitir ampliar a exportação de carnes e derivados, favorecendo a balança comercial, beneficiando o setor agropecuário, os produtores. Haverá valorização do preço da carne e dos animais”.

Hoje, a apenas 15 dias para o fim do novo prazo, o desafio de técnicos da Adagri e da Ematerce é convencer os criadores da importância de imunizar o rebanho. “Estamos muito perto de alcançar a posição de livre de aftosa sem vacinação, pois só faltam três campanhas (a atual e em novembro próximo e em maio de 2021)”, ponta Sampaio. “Não podemos esmorecer nessa reta final”.

Apesar das dificuldades trazidas pela pandemia do novo coronavírus, o coordenador mantém a esperança de que a meta, mais uma vez, será alcançada. “Confiamos na adesão dos criadores e muitos já compraram as doses e vacinaram o rebanho, mas faltam enviar as declarações, por isso os índices ainda estão aquém do esperado. As farmácias veterinárias estão abastecidas”.

Sampaio mostra-se confiante na adesão dos criadores, mas reforça o apelo: “Não deixem de vacinar o gado contra aftosa para a doença não voltar. Se os outros estados avançarem para zona livre da doença sem vacinação, o Ceará não pode ficar só. Isso traria um enorme prejuízo”, ressalta. Iniciada em março de 2003, o adiamento da campanha foi definido pelo Mapa e não é inédito na história brasileira. A imunização também precisou ter o prazo estendido em maio de 2018, por conta de uma greve dos caminhoneiros. 

Legenda: A imunização é feita pelos pecuaristas em seus rebanhos, mas incentivada pelo Governo do Estado.
Foto: Antonio Carlos Alves

Campo

Nas fazendas, os agricultores asseguram a vacinação do rebanho. O diretor da Unidade de Pecuária Iguatuense (Upeci), Mairton Palácio, afirma que maioria dos criadores já aderiu à campanha. “Sabemos da importância desse trabalho para o setor agropecuário”, pontuou. O presidente do Sindicato Rural de Iguatu, José Queiroz Magalhães, também observa que a pandemia trouxe dificuldades, mas que os criadores estão conscientes da importância da vacinação.

O pequeno criador, Expedito Araújo, no distrito de Alencar, zona rural de Iguatu, disse, na manhã desta quarta-feira (15), na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que iria comprar as doses ainda hoje. “Vou vacinar o gado no domingo, pela manhã”, disse. “A gente sempre deixa para os últimos dias”.

Apesar da consciência da importância, caso o criador não vacine seu animal, está prevista a aplicação de multa no valor de R$ 22,50 por animal. Terminado o prazo de compra de vacinação, é necessário o criador obter uma autorização da Adagri para aquisição das doses. “Se o criador tiver vacinado o rebanho, e não encaminhar a declaração também sofrerá multa”, lembra Sampaio.

A declaração poderá ser enviada até o fim de agosto por meio de e-mail para Adagri, portal do produtor e ainda de forma presencial nos escritórios da Adagri e da Ematerce.  

Status

No último dia 30, o Mapa suspendeu a obrigatoriedade de vacinação no Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e alguns municípios de Amazonas e Mato Grosso. Esses estados vão se juntar ao Paraná no projeto de ampliação de zonas livres de febre aftosa sem vacinação no Brasil. A expectativa é o reconhecimento pela Organização Mundial para Saúde Animal (OIE) desses estados como zonas livres de febre aftosa, sem vacinação, em maio de 2021.

Atualmente, somente Santa Catarina é considerada região livre de aftosa, sem a necessidade de vacinação. Os demais estados esperam que o mesmo ocorra em 2022. No Ceará, portanto, se os índices forem alcançados, a última campanha seria em maio de 2021, juntamente com outros estados da região Nordeste, tendo o reconhecimento posteriormente.  

O último registro de aftosa no Ceará ocorreu em abril de 1997, em uma unidade de criação no município de Porteiras, no Sul do Ceará. Foi um caso isolado, mas a fazenda foi interditada e foram adotados outros procedimentos sanitários. No Brasil, os últimos casos foram verificados em 2006.

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