Artesãos do Centro Mestre Noza contabilizam queda de até 90% na pandemia
Com o local que se tornou um ponto turístico de Juazeiro do Norte fechado durante o isolamento, as vendas acontecem on-line ou através por encomenda de clientes de fora.
O Centro de Cultura Popular Mestre Noza, em Juazeiro do Norte, há quase quatro décadas abriga e forma escultores em madeira, barro, palha, metal e outras tipologias de artesanato. Reformado e revitalizado com investimentos de R$ 241 mil, o espaço foi entregue em julho do ano passado, após mais de um ano fechado. Com a pandemia, isso voltou a acontecer e frustrou a expectativa de artesãos que viram sua renda despencar após a chegada do novo coronavírus.
A Associação dos Artesãos do Padre Cícero, que administra o Centro Mestre Noza, possui mais de 120 associados, alguns trabalhavam diariamente no local, enquanto outros fabricavam suas peças em casa, mas utilizavam a visibilidade do equipamento, que se tornou um ponto turístico de Juazeiro do Norte, para conquistar mais clientes.
O artesão de madeira Beto Soares estima que suas vendas caíram em 90% depois que o Centro fechou novamente as portas.
“Lá, a pessoa vê, escolhe e compra. Em casa, vendo mais por encomenda, no WhatsApp. A gente recebe mais turista de São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Fortaleza, mas ainda tem cliente que fica pedindo. A minha sorte é que sempre foi controlado e pude guardar uma coisinha, fazer uma reserva”, completa.
Seu colega de profissão, Antônio Severino, contabiliza também uma perda de 80% com a pandemia. “A gente está sempre se virando, faz uma pecinha em casa, embala e vende pela internet”, desabafa. Para ele, depois de tanto tempo esperando a reabertura do Mestre Noza, é decepcionante. “Mas as coisas são na maneira que Deus quer, né?”, reflete.
Média
A média de vendas da Associação dos Artesãos do Padre Cícero, por mês, varia entre 500 a 600 peças. "Agora tem mês que não chega 30", conta o presidente da entidade, Cícero Caetano Rodrigues, o Zumbi. Os produtos estão sendo expostos na internet, no site da Popular Arte Brasil mas o ganho não chega próximo do que era arrecadado. “Mas é o que tá salvando a gente ainda. Uns ainda têm outros clientes fora, que fazem encomenda”, descreve.
Com a queda no rendimento, a Associação enviou um ofício ao Governo do Estado explicando a situação dos artesãos. A Central de Artesanato do Ceará (Ceart) adquiriu R$ 7 mil em mercadorias para ajudar o grupo e enviou 120 kits de higiene pessoal, além de frutas e verduras, que já foram distribuídos.
Zumbi conta que a Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte (Secult) prometeu que entregaria uma quantidade de cestas básicas para os artesãos em situação de maior vulnerabilidade social. A Associação levantou uma lista de 18 nomes e repassou à Pasta. “Dei endereço e tudo, mas, até agora, nada. Não respondem mensagens, nem meu telefone”, garante o artesão.
Cestas básicas
Em nota, a Secult informou que o processo de distribuição sofreu um atraso em função do processo de licitação, mas as entregas já foram iniciadas em parceria com a Secretária de Desenvolvimento Social e Trabalho do Município (Sedest). Para isso, foi feito um cadastro de todos os atores da Cultura do Município em situação de vulnerabilidade.
Ao todo, serão entregues 157 cestas, incluindo os artesãos no Mestre Noza. “Tem uma burocracia necessária, existe também cruzamento de dados, porque não podem ter acúmulo de benefício. Eles vão receber em breve. As entregas começaram segunda. Se não recebeu, isso acontecerá em no máximo sete dias. O processo burocrático exige tempo, infelizmente, mesmo com tudo isso que estamos passando”, explica o secretário Renato Fernandes.
Luto
O Centro Mestre Noza perdeu uma de suas mais antigas artesãs, a Francisca da Silva, esposa do também artesão já falecido, Expedito Santeiro. Há 35 anos, ela fazia parte da Associação e era especialista em arte sacra em madeira. A artesão faleceu no último dia 4 de julho, vítima da Covid-19, aos os 76 anos de vida. “Uma mulher dedicada, mãe exemplar, guerreira e amigas de todas as horas”, define Zumbi.