Após cinco anos em baixa, perímetros irrigados retomam ainda em 2020 no Ceará

Entre 2015 e 2019, os projetos de irrigação Jaguaribe-Apodi e Tabuleiro de Russas amargaram queda de 70% na produção de grãos, frutas e leite. Mas, neste ano, com investimentos e recarga nos açudes, o setor deve reaquecer

Escrito por Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
Legenda: A Cogerh liberou mais água para os dois perímetros. A oferta do recurso hídrico foi ampliada de 1,2m3/s para 2,5m3/s para cada área produtiva.
Foto: Honório Barbosa

Após cinco anos de quase completa inatividade, produtores vivem a expectativa da retomada, ainda em 2020, dos projetos de irrigação em Tabuleiro de Russas e Jaguaribe-Apodi, os dois maiores do Estado. Devido aos baixos volumes nos açudes cearenses à época, os perímetros acumularam queda de mais de 70% na produção de grãos, frutas e leite entre 2015 e 2019. Antes do início do declínio, o Perímetro Jaguaribe-Apodi chegou a ter área irrigada superior a 5 mil ha e o de Tabuleiro, 6 mil ha.

O iminente retorno será viabilizado por dois fatores. O primeiro deles diz respeito às boas chuvas do semestre inicial do ano, que garantiram recarga hídrica nos principais açudes do Estado. Foi a primeira vez nesta década que a pluviometria (730 mm) ficou acima da média histórica (695.8 mm). Outro fator promete impulsionar a volta do setor: o aporte do Castanhão, maior reservatório cearense. Nos próximos três meses, o açude - que hoje acumula 14,4% de seu volume, ante aos 2% do começo do ano - deve receber as águas da Transposição do Rio São Francisco.

A maior oferta de água pode fazer os perímetros atingirem, já em 2021, o nível de produção e empregabilidade de 2014, quando geravam juntos 18 mil empregos diretos - oito mil no Jaguaribe-Apodi e dez mil no Tabuleiro de Russas. A estimativa é da Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi (Fapija) e do Distrito de Irrigação do Perímetro Tabuleiro de Russas (Distar). Atualmente, o Jaguaribe-Apodi conta com 2.500 empregos diretos e o Tabuleiro de Russas 3.500.

O que é um perímetro irrigado?

  • O perímetro irrigado tem a vocação de produzir culturas que recebem água ao longo do ciclo produtivo por sistemas localizados de gotejamento, aspersores ou mesmo de pivô central.
  • Implantado em 1988, o Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi tem 324 lotes, cuja área varia entre 4 a 16 hectares, cada. Já o projeto de irrigação Tabuleiro de Russas foi implantado em 2004. São seis mil hectares de área produtiva.
  • Nos perímetros irrigados são cultivados banana, goiaba, coco, caju, acerola, capim para alimentação do gado leiteiro, feijão e milho. A produção varia conforme a área plantada.

O gerente executivo do Distrito de Irrigação do Perímetro Tabuleiro de Russas (Distar), Aridiano Belck de Oliveira, corrobora que a água oriunda do Velho Chico vai assegurar garantia para o setor. O presidente da Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi (Fapija), Raimundo César dos Santos, também se mostra otimista com o retorno da produção em maior escala. "Estivemos cinco anos praticamente parados, mas agora vamos voltar a produzir e gerar emprego em maior quantidade", analisa.

A retomada, contudo, não está apenas no campo das projeções. Há medidas concretas que vislumbram o retorno da atividade. Recentemente, após definição do volume de alocação da água dos açudes para o vale do Jaguaribe, a Cogerh liberou mais água para os dois perímetros. A oferta do recurso hídrico foi ampliada de 1,2m3/s para 2,5m3/s para cada área produtiva.

"Nossa produção depende da água. Se tem para irrigar o plantio, a colheita é boa. Então, com a maior oferta hídrica, a tendência é de melhor produção", pontua Antônio Luís Marques, produtor de acerola no perímetro irrigado Tabuleiro de Russas. Ele conta que desde 2015 sua produção teve retração superior a 60%. "A visão de todos é que o período ruim ficou para trás".

Investimentos

Outro ponto, embora ainda sem concretização, também pode favorecer a volta dos perímetros. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, anunciou, no mês passado, que vai abrir licitação para os ramais Apodi e Salgado. Estima-se que a garantia de água em perímetros irrigados já existentes no Ceará pode gerar até 10 mil empregos diretos no Estado. "Esses postos já devem surgir em 2021", antecipa Dos Santos.

Quem também acena com investimentos na área é o Dnocs, órgão responsável pela instalação e administração dos perímetros. No fim de agosto, o diretor Fernando Araújo visitou os dois locais e anunciou disposição em investir nos dois projetos para melhoria da infraestrutura e apoio à produção.

Aridiano Belck apresentou ao diretor do Dnocs a demanda de ampliar a unidade a partir da implantação da segunda etapa, que tem 3.600 hectares de área disponível. "Solicitamos investimentos de R$ 8 mi para a melhoria da infraestrutura e a implantação de um segundo sifão no Eixão das Águas". Procurado pelo Sistema Verdes Mares, o Dnocs ainda não se manifestou quanto ao pedido do gestor da Distar.

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