Legislativo Judiciário Executivo

Policial é denunciado por torturar e ameaçar Garotinho em cadeia do Rio de Janeiro

Conforme o MPRJ, o agente de segurança golpeou o ex-governador do RJ com um bastão e o ameaçou de morte

Escrito por Diário do Nordeste e Italo Nogueira/Folhapress ,
Imagem de câmera de segurança da cela de Anthony Garotinho
Legenda: De acordo com perícia, as imagens da cela de Garotinho no presídio do Benfica foram editadas para tentar esconder as agressões
Foto: Reprodução/TV Globo

O policial militar (PM) Sauler Campos de Faria Sakalem foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ)  pela prática de tortura contra o ex-governador carioca Anthony Garotinho dentro de um presídio do estado em 2017. Denúncia foi apresentada nessa quinta-feira (19).

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De acordo com a Promotoria, as agressões foram cometidas pelo PM na Cadeia Pública José Frederico Marques, no bairro Benfica. O órgão afirma que o agente agrediu Garotinho com golpes de bastão semelhante a um taco de beisebol e o ameaçou de morte.

"Após dizer que o político 'gostava de falar muito', desferiu um golpe com o bastão no joelho de Garotinho, que curvou-se de dor. Após a agressão, o denunciado sacou a arma da cintura e disse as seguintes palavras, antes de pisar no pé da vítima, causando-lhe outra lesão: 'Só não vou te matar para não sujar para o pessoal aqui do lado', referindo-se a outros presos custodiados no local", diz a denúncia.

Manipulação de câmeras 

À época, imagens divulgadas pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do RJ não mostravam ninguém entrando na cela do ex-governador no momento da tortura relatada.

Agentes declararam à imprensa que o político se auto agrediu para forçar a transferência para Bangu 8, o que acabou ocorrendo. Contudo, perícia realizada em 2018 pelo MPRJ apontou que os vídeos do circuito interno da cadeia foram editados.

De acordo com a Promotoria, o conjunto de gravações do caso apresentou "interrupções atípicas", imagem congelada e evidência de "interferência humana" na captação dos vídeos.

O vídeo disponibilizado pela Seap para a imprensa mostrava uma gravação até as 22h58 do dia 23, retornando à 1h56, com Garotinho batendo palmas para chamar os agentes e relatar a suposta agressão. A pasta declarou na ocasião que o sistema paralisa a captação de imagens quando não há movimento.

A perícia do MP-RJ, contudo, afirma que há evidência de "interrupções atípicas caracterizadas por corte durante a movimentação de pessoas na área de captura da câmera". O trecho se refere à câmera 4, que filmava a galeria B.

"O ponto-chave da interferência humana como fator determinante na inatividade das câmeras é notado pelo corte em meio ao movimento de um agente que transita no pátio. Ou seja, o sistema que durante todo o tempo grava até mesmo nuances de luminosidade é cortado bruscamente no meio do percurso do movimento que justamente é o gatilho da gravação", diz a perícia.

Prisão de Garotinho

As agressões foram relatadas por Anthony Garotinho em novembro de 2017, quando ele foi preso pela terceira vez, sob acusação de corrupção envolvendo um suposto repasse ilegal de R$ 3 milhões da JBS para sua campanha eleitoral de 2014 ao governo do estado do Rio.

Ele foi solto dias depois por decisão da Justiça no mesmo ano. Seria preso uma quarta vez em 2019, e também solto por determinação judicial.

O ataque, segundo a denúncia, ocorreu por volta das 1h50. O PM, relata a Promotoria, ingressou na cela do ex-governador com o bastão e uma arma na cintura. A Folha de S. Paulo não conseguiu contato com a defesa do PM.

As agressões foram relatadas no dia 24 de novembro de 2017 pelo então advogado do ex-governador, Carlos Azeredo, nos mesmos termos apresentados quase quatro anos depois pelo MPRJ.

Na ocasião, a cadeia de Benfica abrigava, além de Garotinho, o ex-governador Sérgio Cabral. Enquanto o primeiro ficava na galeria A, o segundo estava na C.

 

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