O que esperar da disputa eleitoral no Ceará a 30 dias do primeiro turno
No Ceará, a disputa pelo Governo do Estado segue como uma das mais acirradas, após o rompimento da aliança histórica entre PT e PDT
Daqui a exatos 30 dias os eleitores brasileiros voltarão às urnas após dois anos. Agora, para escolher deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente. No Ceará, a disputa pelo Governo do Estado segue como uma das mais acirradas, após o rompimento da aliança histórica entre PT e PDT.
Passados 15 dias de campanha, o Diário do Nordeste ouviu cientistas políticos para saber o que foi destaque até agora e as expectativas até 2 de outubro. Esse também é o assunto de reestreia do podcast PontoPoder Cafezinho, que traz áudios exclusivos dos candidatos comentando a expectativa para o último mês de campanha.
A edição de retorno do programa ainda oferece aos ouvintes um debate sobre os rumos que os três candidatos mais competitivos no pleito devem tomar. Em uma campanha de 45 dias, que mal começou, mas já chega em um momento decisivo, qualquer ato pode ser definidor para uma vitória ou uma derrota nas urnas.
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A campanha até aqui
Para a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, apesar da vantagem – apontada nas pesquisa eleitorais – de Capitão Wagner (União Brasil) em relação aos dois principais adversários, Roberto Cláudio (PDT) e Elmano de Freitas (PT), um ponto-chave desse pleito tem sido justamente a disputa entre o segundo e o terceiro colocado.
“Temos duas candidaturas muito fortes que nascem do racha da base governista, então é interessante observar como elas têm disputado o espólio desta base. Há em curso um movimento intenso entre essas duas candidaturas para garantir apoio nos municípios, principalmente”
Desde que as chapas foram definidas, há uma intensa movimentação no Ceará em busca do apoio de prefeitos. Elmano tem sido o principal beneficiado, concentrando alianças inclusive com ex-mandatários do PDT, que deixaram a sigla para embarcar na campanha petista.
Neste contexto, Monalisa Torres aponta que o destaque tem sido o papel assumido pelo ex-governador e candidato ao Senado, Camilo Santana (PT), para “alçar Elmano como candidato da continuidade e consolidar uma base eleitoral no Interior”. “Elmano é o mais desconhecido dos três, obviamente ele vai explorar seus padrinhos que são campeões de intenções de votos aqui, sobretudo Camilo e Lula (PT)”, acrescenta.
Já do lado pedetista, o professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas, avalia que Roberto Cláudio tem feito uma campanha tentando equilibrar críticas e elogios às gestões anteriores do Estado.
“Ele tem feito um discurso de continuidade e, ao mesmo tempo, de oposição. De continuidade do Governo Cid Gomes, do qual Camilo fez parte, e de oposição ao Governo Camilo, com quem está rompido. Esse discurso dúbio também é do Elmano, que fala em continuidade ao Governo Camilo, mas oposição aos Ferreira Gomes”.
A campanha que está por vir
Com a campanha de rua autorizada desde o último dia 16 de agosto e a propaganda eleitoral em rádio e televisão desde 26 de agosto, os candidatos terão até 1º de outubro para conquistar o voto dos eleitores.
Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a tendência até lá é que Roberto Cláudio e Elmano de Freitas tracem uma “trajetória natural” de colisão.
“O voto no Capitão Wagner já é um voto muito consolidado, ele já é conhecido, é candidato há muito tempo, mas o voto em Elmano e Roberto é mais fluido. É natural que o Roberto comece a bater no Elmano para conseguir os votos, assim como o Elmano bater no Roberto para conseguir uma migração eleitoral”
Para o pesquisador, a postura de Capitão Wagner deve mudar. “Essa postura ‘paz e amor’ vai ser relativizada, porque ficou muito evidente no debate que ele pode ser alvo dos dois candidatos. Vão questionar novamente o episódio do motim da Polícia Militar e da relação com o Bolsonaro, por exemplo”, aponta.
Discurso eleitoral
Monalisa Torres acrescenta, no entanto, que o candidato oposicionista deve seguir apontando contradições dos adversários. “Ele se coloca como pacificador, o que sempre teve uma posição muito definida. Se hoje os ex-aliados brigam entre si, ele vai tentar passar uma imagem que sempre teve uma posição definida, isso para o eleitor passa uma imagem bem definida, de um posicionamento, de uma imagem bem delimitada”, avalia.
No caso de Roberto Cláudio, pouca coisa também deve mudar. “Ele tem o cuidado ao fazer as críticas de se colocar como alguém que esteve ao lado de um grupo que fez melhorias, mas não está mais, por isso tem capacidade de reconhecer o que estava bom e apontar e melhorar o que estava ruim”, afirma.
De 2020 para 2022
Os pesquisadores são unânimes em apontar uma tendência de que, neste ano, haja uma “reedição” das eleições para a Prefeitura de Fortaleza em 2020, conjuntura que, segundo eles, vem sendo observada até agora.
“Reedita um pouco do próprio embate que foi em 2020, em que um candidato do PDT e outro do PT disputaram a segunda colocação em Fortaleza. Não sei até que ponto pode se radicalizar, até porque há também um entendimento de que é possível não queimar pontes num eventual segundo turno, mas, a preço de hoje, há uma certa tranquilidade para o Wagner, porque ele sabe que o embate maior se dará entre as duas candidaturas progressista”, afirma Monalisa Torres.
“O quadro tende a se radicalizar à medida em que Elmano é apresentado como candidato de Lula e Camilo, que são bons cabos eleitorais. Elmano e Roberto já estão tecnicamente empatados, então esse acirramento tende a se aprofundar. Enquanto isso, o Wagner mobiliza uma imagem de que está acima dos conflitos, porque ele é 'o técnico', 'o gestor que está acima dessa briga política pequena'”, acrescenta Emanuel Freitas.
Nacionalização da campanha no Ceará
Outra projeção dos pesquisadores é o aumento da influência de lideranças nacionais no pleito cearense. Elmano, por exemplo, tem se aproximado da imagem de Lula desde que foi anunciado como candidato ao Governo do Ceará.
“A campanha do Ceará de 2022 é a mais nacionalizada desde a redemocratização. Você tem uma tentativa de espelhar o cenário nacional no estadual. Isso ficou muito claro na formação das coligações (...) Caso a popularidade do ex-presidente Lula se amplie, Elmano vai utilizá-la, assim como, se houve uma estagnação ou queda de popularidade de Bolsonaro e Ciro, por exemplo, eles não vão ser centrais nas campanhas dos seus aliados”, aponta Cleyton Monte.
Com resultados pouco satisfatórios no Ceará, Bolsonaro pode pesar negativamente na campanha de Wagner, avalia Monalisa Torres. “O Wagner vai esconder o Bolsonaro o tempo que puder, pelo menos para o público geral, porque o presidente pode impor um teto ao eleitorado do Wagner, aquele eleitorado que ainda não está consolidado, que pode migrar, mas rejeita Bolsonaro”, afirma.
“Já o Ciro, assim como o Bolsonaro, precisa mais do Roberto, assim como o Bolsonaro precisa mais do Wagner, do que o contrário. As candidaturas nacionais precisam mais deles por questão de capilaridade”, conclui.