Como a queda de braço para aprovar taxa do lixo vai mexer com base e oposição na Câmara de Fortaleza
Os grupos se movimentam no que poderá ser um redesenho das forças no Parlamento
Desde que foi apresentada na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), em dezembro do ano passado, a proposta do prefeito José Sarto (PDT) para taxar a coleta de lixo na cidade causou polêmica, embates e até discussões na Casa.
Aprovada um mês depois, a lei deixou em lados opostos vereadores da base do governo, que se uniram à oposição. Agora os grupos se movimentam no que poderá ser um redesenho das forças no Parlamento.
Aprovar a taxa do lixo custou à prefeitura, entre outros pontos, um desgaste com a vice-liderança do executivo na Casa. Além disso, o líder do PDT, filiado ao partido há 15 anos, prepara um comunicado para entregar o cargo em meio às críticas ao prefeito.
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O cenário é ainda de incerteza nos bastidores da Câmara, uma vez que é início de legislatura com um novo presidente, novos líderes e quatro novos vereadores eleitos suplentes, agora assumindo efetivamente o cargo até o final de 2024.
O acirramento entre Executivo e parte dos vereadores teve um dos pontos mais críticos no dia 20 de dezembro de 2022, quando vereadores contrários à taxa deixaram o Plenário da Casa, inviabilizando a votação das intenções na lei.
Mudança na vice-liderança
Léo Couto (PSB), ainda como vice-líder do Governo, começou a se distanciar da base ainda no período eleitoral, quando decidiu apoiar a eleição de Elmano de Freitas (PT) para governador, deixando de lado a candidatura de Roberto Cláudio (PDT).
Ele também foi contra a taxa do lixo e usou a tribuna da Casa por mais de uma vez para tratar do assunto. O vereador defende que não deve haver mais tributação à população. Couto, portanto, deixou a primeira vice-líderança do prefeito para uma posição que classifica como “independente”.
“Acabamos de vir do embate da taxa do lixo. Não concordo com a maneira como a gestão está conduzindo Fortaleza no momento. Por isso essa forma independente e como eu há vários vereadores que estão tomando essa posição, inclusive vereadores do PDT”, disse o parlamentar.
Na sessão da última quinta-feira (2) o prefeito José Sarto enviou à Câmara uma mensagem comunicando, agora oficialmente, que Couto não exerce mais a função de vice-líder do governo.
“Rebeldes” do PDT
Há também vereadores do PDT que, uma vez votando contra a taxa do lixo, acabaram iniciando um embate direto com a cúpula do partido na Capital. Júlio Brizzi, líder da bancada na Câmara, prepara um comunicado para entregar a função.
“Não dá para permanecer”, diz o parlamentar que é filiado há 15 anos no partido. “Sempre me identifiquei muito com o partido, acredito na bandeira do PDT”, pondera.
Brizzi, no entanto, entrou em rota de colisão com o prefeito após fazer críticas incisivas à taxação da coleta de lixo. Uma das bandeiras de campanha do vereador, inclusive, foi a posição contrária à possíveis novas tributações. Questionado se irá compor a oposição, o pedetista não confirma.
Além dele, a Enfermeira Ana Paula (PDT) também passou a se classificar como independente. A parlamentar votou contra a taxa, indo de encontro com a orientação da prefeitura. Com frequência, ela usa a tribuna para tecer críticas ao governo.
Contrários à taxação do lixo na votação que ocorreu no fim do ano passado, Léo Couto, Júlio Brizzi e Enfermeira Ana Paula preferiram não votar no segundo projeto sobre o tema enviado pelo prefeito, já em janeiro de 2023, que tratava sobre as isenções da taxa.
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Como deve reagir a base
O atual líder do Governo na Casa, vereador Carlos Mesquita (PDT), avalia que é preciso tratar dos casos dos vereadores separadamente.
"O problema não é a taxa do lixo, é comportamento político. Léo Couto, por exemplo, é meu amigo, conheço desde pequeno, temos uma boa relação para conversar. Tenho que respeitar as posições dele e tentar fazer com que alguma votação que ele não votar comigo eu tente suplantar com outro", avalia.
Sobre como tratar com os pedetistas em rota de colisão com o governo, Mesquita argumenta que "o que está faltando é entendimento político".
"Eu tenho como conversar, mas algumas coisas vão resolver dentro da filosofia de trabalho do Sarto, ele quem vai dizer que sim ou não", completa.
Nova dança das cadeiras
Quatro novos vereadores tomaram posse na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) na quinta-feira (2). Antes atuando como suplentes e já tendo assumido o mandato de maneira temporária, agora os parlamentares se tornam efetivos, após a ida dos colegas de chapa para a Assembleia Legislativa do Ceará (Alece).
Agora são vereadores efetivos Carlos Mesquita (PDT), que também é líder do Governo na Casa, Pedro Matos (PL), Dr. Vicente (PT) e Veríssimo Freitas (Republicanos). Eles entram nas vagas de Antônio Henrique (PDT), Sargento Reginauro (União Brasil), Larissa Gaspar (PT) e Carmelo Neto (PL), respectivamente.
Nos bastidores da Casa, especula-se que Pedro Matos possa se somar à base do prefeito. Interlocutores afirmam que o parlamentar será convidado, inclusive, a compor a segunda vice-liderança do prefeito na Câmara. O primeiro vice-líder é Didi Mangueira (PDT).