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Com pré-candidaturas nas ruas, aumenta a tensão sobre a segurança na disputa pela presidência

Para consultores políticos, a eleição polarizada é um risco físico e também para a imagem dos políticos

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Ex-presidente Lula e ex-ministros Ciro Gomes foram hostilizados recentemente. O presidente Jair Bolsonaro tem segurança reforçada desde 2018
Legenda: Ex-presidente Lula e ex-ministros Ciro Gomes foram hostilizados recentemente. O presidente Jair Bolsonaro tem segurança reforçada desde 2018
Foto: (1) Reprodução/(2) Agência Brasil/(3) Reprodução

Com as pré-candidaturas mais competitivas à Presidência da República oficializadas, os políticos que devem liderar as chapas para o Executivo federal já estão nas ruas em busca dos eleitores. A partir deste mês, os pré-candidatos planejam reforçar a já intensa sequência de atos pelo País com motociatas, carretas e até com a retomada das tradicionais “caravanas” de ônibus pelas cidades brasileiras. 

Ao mesmo tempo, os discursos dos futuros candidatos vêm criando um clima de beligerância eleitoral que tem exigido reforço na segurança por parte dos partidos e da Polícia Federal, responsável pela proteção dos postulantes. Para consultores políticos, a eleição polarizada é um risco físico e também para a imagem dos políticos, que devem enfrentar situações de tensão no pleito deste ano.

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Em episódios recentes, dois dos três pré-candidatos que aparecem melhor nas pesquisas eleitorais – o ex-presidente Lula (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) – foram hostilizados e tiveram veículo cercado enquanto cumpriam agenda de pré-campanha.

Escalada da violência política

O temor é de que a escalada de violência repita o que ocorreu em 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro (PL) sofreu uma facada durante ato de campanha em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Naquele mesmo ano, meses antes do atentado contra o atual presidente, uma caravana de ônibus do ex-presidente Lula havia sido alvo de tiros em uma rodovia do Paraná.

“Toda eleição é polarizada, sempre vai ter um polo disputando com outro, mas, atualmente, a polarização está um tom acima, os discursos pintam os adversários como inimigos, isso é um risco para todos”
Darlan Campos
Consultor em marketing político e eleitoral

O mesmo alerta é dado pelo especialista em marketing político Leurinbergue Lima, que pondera sobre os riscos à imagem dos políticos durante a campanha. 

“Pode ocorrer de um ataque, mas também de provocações. O tipo de militância de alguns candidatos é provocativa, esses militantes conhecem o estilo dos adversários e tem candidato que não leva desaforo para casa, então esses militantes soltam a casca de banana e os políticos caem”, aponta.

Darlan ressalta ainda que, além do risco a que os candidatos estão expostos, é preciso avaliar as ameaças que os militantes irão enfrentar. “Pode haver um enfrentamento de militantes organizados, assim como vemos entre grandes adversários no futebol. É uma disputa que pode ultrapassar as quatro linhas, as autoridades precisam ter essa atenção”, afirma. 

Ameaça eleitoral

A cinco meses do pleito, os riscos de enfrentamento deixam de ser hipóteses e já começam a virar realidade. Na semana passada, o carro em que estava o ex-presidente Lula foi cercado por militantes com camisetas verde e amarela em Campinas, São Paulo. O ex-mandatário não chegou a ser agredido, mas seguranças armados precisam auxiliar a saída do veículo em que ele estava. 

Após o episódio, o petista recebeu apoio de aliados e adversários, como os ex-ministros Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). O pedetista, inclusive, foi alvo de hostilidade em um evento agropecuário na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo, no fim do mês passado. Segundo o ex-ministro, os homens praticaram xenofobia e machismo contra ele e a esposa. O político rebateu atacando as mães dos militantes e criticando Bolsonaro.

No episódio mais recente, na última quarta-feira (11), o PT precisou fazer uma série de adaptações na visita de Lula a Juiz de Fora, em Minas Gerais, porque a equipe do ex-presidente teria sido alertada de que haveria um atentado contra o petista. Além do reforço na segurança, o pré-candidato teve encontros mais restritos e ruas por onde ele passou foram bloqueadas. 

No caso do presidente Jair Bolsonaro, desde que ele foi vítima da facada, a segurança foi reforçada. As aparições em espaços abertos ficaram limitadas a agendas oficiais, motociatas e carreatas, sempre cercadas de seguranças. As aproximações do presidente com militantes normalmente ocorrem somente quando ele quebra o protocolo do cerimonial.

As caravanas eleitorais

O que vem criando situações de hostilidade e preocupando os partidos são os eventos públicos cada vez mais frequentes e com maior número de eleitores. As “caravanas” de ônibus podem intensificar ainda mais atos dessa natureza. Desde o ano passado, o pré-candidato André Janones (Avante) tem circulado pelo país em um coletivo para conversar com eleitores. 

Em abril deste ano, foi a vez de Ciro Gomes anunciar que irá visitar estados brasileiros a bordo de um ônibus. O ex-presidente Lula também pretende desembarcar em alguns estados brasileiros para costurar apoio para sua campanha. Já Bolsonaro, desde que tomou posse, adotou um ritmo intenso de viagens sempre fazendo acenos a suas bases mais fiéis, conforme mostrou o Diário do Nordeste.

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Nos anos 1990, as caravanas foram estratégia marcante na disputa eleitoral. O então candidato Lula liderou as “caravanas da cidadania”, que visitavam áreas remotas do país para ouvir as demandas da população. Conforme o consultor em marketing político Leurinbergue Lima, a ideia dessas ações é tentar firmar posição na cabeça do eleitorado.

“Bolsonaro tem um mandato, naturalmente tem mais visibilidade, tem palanque todo dia, pode inaugurar obra, faz uma fala, faz um pronunciamento, então ele está em campanha. Quem faz essas caravanas quer chamar atenção. Na verdade, mata vários coelhos com uma cajadada só, porque anima a militância, gera buzz, atrai cobertura da imprensa, articula alianças, faz adversários recuarem, entre outras coisas”
Leurinbergue Lima
Consultor em marketing político

Conforme o consultor em marketing político Darlan Campos, as brechas na legislação eleitoral permitem que os postulantes façam atos para atrair os eleitores antes do período de campanha. Neste cenário, os políticos precisam, de fato, se expor para o eleitorado. 

“A pré-campanha, hoje, é tão ou mais importante que a campanha, porque o tempo de campanha diminuiu, então todos esses atos que antecedem têm influência. O candidato precisa estabelecer um contato com o cidadão e gerar fatos que possam reverberar a imagem, gerar visibilidade e penetração”, conclui.

Prevenção

Diante do acirramento das tensões e da perspectiva de mais exposição dos postulantes, a Polícia Federal (PF) realizou, neste mês, um curso para os agentes que irão atuar na proteção dos candidatos. Ao todo, cada político terá apoio de 21 agentes federais. Esse número, no entanto, pode aumentar, a depender da necessidade de cada ocasião. 

Conforme informações colhidas pela Folha de S. Paulo, a Polícia Federal publicou uma instrução normativa em que aponta os riscos de uma eleição polarizada e cobra comprometimento das campanhas. 

Os agentes produzirão relatórios de risco e planejamentos operacionais para garantir a segurança dos candidatos. Em caso de descumprimento, o político “assumirá a responsabilidade".

Segurança do presidente é feita pelo GSI
Legenda: Segurança do presidente é feita pelo GSI
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ao todo, mais de 300 policiais atuarão na segurança dos candidatos. Conforme a reportagem, a assessoria das campanhas deve enviar à PF, com 48 horas de antecedência, a agenda dos candidatos. Neste período, os agentes irão fazer varreduras nos locais e traçar estratégias de segurança. 

No caso do presidente, a segurança será feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Já o ex-presidente Lula receberá apoio da PF. No entanto, o ex-mandatário já conta com o apoio de quatro servidores para atividades de segurança e apoio pessoal, além de dois veículos oficiais, com os respectivos motoristas, vinculados ao GSI. Esse benefício se deve ao fato dele já ter sido presidente. 

Os deputados federais José Guimarães (PT), aliado de Lula no Ceará, e André Figueiredo (PDT), aliado de Ciro, além do deputado estadual André Fernandes (PL), correligionário de Bolsonaro, foram procurados pela reportagem, mas não quiseram comentar sobre a pré-campanha e a segurança dos postulantes. As assessorias dos respectivos pré-candidatos também foram procuradas e não quiseram se posicionar.

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